29 de Abril de 1980. Num pequeno armazém emprestado, um grupo de amigos – caçadores – deu forma ao sonho de erguer uma agremiação que reunisse a população de Quatrim do Sul, e do Norte (no fundo a mesma localidade que a Estrada Nacional 125 corta ao meio, atribuindo-lhes assim os nomes), e preenchesse a escassez desportiva do povoado. Obviamente, e dadas as raízes dos fundadores (caçadores), o tiro preencheu esse espaço. Nasceu assim o Clube Caça e Pesca Cavaquense, associação desportiva e cultural, pertencente à (agora) União das Freguesias Moncarapacho e Fuzeta, do concelho de Olhão.

No fundo, e segundo os seus estatutos, os objetivos do Cavaquense passavam por, «levar os seus associados à prática desportiva da caça e da pesca, esclarecendo-os e educando-os, a fim de que possam velar e proteger as espécies cinegéticas e piscícolas da região, promover o seu repovoamento e contribuir para o estudo das ciências da natureza relacionadas com a caça e a pesca», além de, «realizar ou coadjuvar caçadas, concursos de tiro a chumbo, exposições e concursos de cães, provas práticas de cães de caça, corridas às lebres com galgos e sessões de cinema» e também «realizar ou coadjuvar concursos de pesca». Afinal de contas, «proporcionar meios de cultura e distração aos seus associados».

Futebol é palavra pouco pronunciada no clube, mas que serviu para aliciar os jovens da localidade no arranque do projeto: atraídos por promessas da sua implementação no clube, muitos associaram-se e ajudaram na construção de um campo para a prática do tiro, a modalidade rainha no Cavaquense. Aos pratos e aos pombos. E, num ápice, foi desbravado mato para que se passasse da teoria à prática, com a edificação de um campo de tiro que, durante anos, enchia-se de gente para ver as provas que se disputavam quase todos os fins de semana.



Voltamos à sede. Ao pequeno armazém emprestado que, com o crescimento do clube, foi-se tornando exíguo. Assim, após um ano, um antigo aviário do sócio fundador (Manuel Rosado) foi o espaço encontrado até à preparação de um outro armazém contíguo (que antes também serviu para a criação de aves) e que, até final de maio de 2011, albergou o Cavaquense. Porque, no dia 16 junho de 2011, Francisco Leal, na altura presidente da Câmara Municipal de Olhão, inaugurou a nova sede do clube, erguida de raiz. «Levámos cerca de cinco anos a construí-la, mas não devemos nada a ninguém! Quando havia dinheiro ou materiais de construção oferecidos atacávamos, quando não havia… esperávamos por melhores dias!», recorda ao maisfutebol Cláudio Cristóvão, presidente da direção do clube, grato também aos muitos sócios que ao final do dia apareciam para ajudar a erguer o sonho: «Pouco dinheiro gastámos em mão-de-obra.».

Atravessamos a E.N. 125 (de norte para sul) e recuamos no tempo para voltar ao campo de tiro que, por reclamações, teve de mudar de local. «Queixaram-se de que os chumbos caíam nas salinas e que começavam a aparecer no sal», relembra João Cristóvão, presidente da assembleia geral, e que também já esteve à frente da direção. «Mudámos para um terreno disponibilizado por um associado, que apenas nos impôs uma condição: quando se realizasse lá provas tínhamos de avisá-lo com antecedência», continua. Esta imposição foi esquecida por um presidente (na década de 90), o que levou ao fim do acordo estabelecido e à procura de novo terreno; que foi encontrado, mas rapidamente também foi abandonado, dado o fim da modalidade no clube, e que quase colocava em risco a sua sobrevivência porque esteve fechado mais de um ano. A sua reativação surgiu através de um «grupo de sócios, que fez uma comissão administrativa, e preparou eleições», recorda João Cristóvão.



E, já com João Cristóvão na presidência, foram efetuados os primeiros concursos de pesca desportiva. Que estiveram na génese da viragem desportiva do clube.

Assim, o Clube Caça e Pesca Cavaquense tem atualmente como principal modalidade a pesca desportiva, de mar e alto mar. E com campeões nacionais. Como Cláudio Cristóvão. Sim, o presidente. «A pesca no Cavaquense surgiu em 2002, quando foi criada a secção de pesca desportiva de competição, da qual eu fui responsável. Foi também quando comecei a praticar a nível oficial. A primeira participação esteve dentro das expetativas, e daí para cá nunca mais parámos.», recorda o campeão nacional de pesca desportiva de alto mar e que, nos últimos cinco anos, tem representado a seleção nacional nos campeonatos do mundo.

E tem sido a um nível elevado: com exceção do último mundial realizado em setembro, em Setúbal, foi sempre o melhor português na competição, sendo atualmente o 6º classificado no ranking mundial. Este ranking contabiliza as últimas quatro participações nas grandes competições internacionais. Em Setúbal, Cláudio Cristóvão foi 6º classificado a nível individual, e ajudou a seleção nacional a sagrar-se vice-campeã mundial por equipas.

André Sousa também tem sido presença assídua nas seleções jovens (juniores a sub-21) de mar e com presenças coletivas nos pódios dos campeonatos europeus e mundiais. Agora, segue-se André Bento, que em 2013 integrou pela primeira vez a seleção sub-21. Coletivamente, a equipa de mar do Cavaquense ascendeu à 1ª divisão nacional.

Em alto mar, o campeonato nacional disputa-se por eliminatórias e os resultados do Cavaquense também têm sido de bom nível: há três anos, a equipa chegou à final e com frequência chega às meias-finais.



Em 2013, o Cavaquense começou a trabalhar na formação em alto mar e inscreveu 3 atletas nos campeonatos nacionais de juvenis e juniores. O que resultou na conquista de um título nacional, através de Diogo Martins, em juvenis. Neste ano ,essa aposta vai ser reforçada e os escalões de formação do clube vão contar com cerca de dez atletas. «Temos que apostar na formação porque só assim poderemos acautelar o futuro do clube.», justificou Cláudio Cristóvão acreditando estarem a ser forjados campeões. «Se nascerem com o bichinho da pesca e tiverem um bom professor…. Também têm que ter paciência (para ouvir e observar) porque nem sempre a coisa funciona, pois só assim podem desenvolver as qualidades para poderem partir para um nível competitivo mais elevado. Com prazer e escola consegue-se bons resultados.», acrescenta.

Com a pesca de vento em popa, em 2012 deu-se o regresso dos tiros ao Cavaquense com a inscrição de uma equipa no Campeonato Regional Stº Huberto, que dá acesso aos nacionais. «Competia por um clube de Lagos, e sendo sócio do clube, propus fazê-lo aqui. Convidei mais três atiradores e cá estamos a representar o Cavaquense nas competições regionais e nacionais», descreve Paulo Dionísio, o responsável pelo regresso do Cavaquense à modalidade.

A seção de Matraquilhos também funciona há dois anos e conta com uma equipa que participa no campeonato distrital do Algarve, que funciona como fase de apuramento para o campeonato nacional. Este ano, a novidade desportiva é a petanca. Com 10 atletas, foi inscrita uma equipa que participará na fase regional, que dá também acesso ao campeonato nacional.

Mas não é só o desporto que dá vida ao Cavaquense. Depois do almoço, é notório o ritual que muitos sócios mantêm em matar o tempo com uma jogatana de cartas ou de dominó, ou testarem a perícia no lançamento da malha, no jogo do burro.



Em finais de novembro, os ensaios das Charolas dos Cavacos são já um ritual que anima as noites na sede do clube. Este tradicional e centenário grupo (dos mais antigos do Algarve) que em janeiro canta as janeiras, tem a sua história agregada ao Cavaquense, desde a fundação do clube. «As Charolas dos Cavacos cingiam-se a essa atividade, que decorre apenas entre novembro e janeiro. Não tinham um local certo para ensaiar, com mudanças frequentes, mas com a integração no clube isso ficou resolvido. Antes, nas atuações, a charola levava apenas a sua bandeira, agora leva também a do Cavaquense. E, dada a ligação, já é apresentada e conhecida como a charola do Clube Caça e Pesca Cavaquense nos festivais em que participa.», conta Carlos Caboz, responsável pelo grupo que integra cerca de 20 elementos.

Além das charolas, a componente cultural também inclui uma seção de ciclomotores antigos que, periodicamente, organiza passeios entre sócios. O grupo (dezena e meia) também participa nos diversos passeios que fazem parte do calendário de encontros de ciclomotores antigos do Algarve e Alentejo, que integra um encontro organizado pelo clube. Este ano será o terceiro e está agendado para o dia 15 de junho.

Os sócios pagantes não chegam à centena e o dinheiro arrecadado na quotização – as quotas custam 1 euro mensal – mal chega para pagar o IMI da sede. É com rifas, com o dinheiro do arrendamento do bar e com os concursos de pesca que realiza (em maio, o 8º Concurso Internacional de Mar e, em Agosto, a Prova Internacional de Alto Mar) que os dirigentes do Cavaquense conseguem amealhar algum dinheiro para pagar as inscrições dos atletas nas diversas modalidades.

E, como o dinheiro não abunda, os atletas do Clube Caça e Pesca Cavaquense também suportam parte das despesas de deslocação: o clube paga uma refeição e uma dormida ficando as outras refeições por conta dos atletas. Dado não possuir viatura própria, a União das Freguesias Moncarapacho e Fuzeta apoia nas deslocações disponibilizando uma carrinha. Mas quando tal não é possível as viagens são efetuadas em viaturas dos atletas.

No entanto, os parcos recursos económicos não travam o crescimento de um clube que tem enormes recursos humanos e que foram decisivos para construir o caminho do seu crescimento desportivo e cultural. E será por aí que a obra irá continuar estando projetada a compra de uma carrinha e a construção de um armazém/garagem e a construção de uma esplanada coberta. Nem que tal – como na construção da sede – leve cinco anos a ser concretizado…