Como uma criança a quem roubaram o brinquedo preferido, foi assim que Thicot se sentiu quando subiu a sénior no clube do coração, o Nantes. Foram demasiadas promessas desfeitas. «Quiseram destruir-me psicologicamente. Se não fosse o apoio da minha família e de todos os que gostam de mim, não tinha aguentado.»

«O que tive de enfrentar não o desejo nem ao meu pior inimigo. Sou crente e encarei tudo isto como provas de Deus para testar a minha fé. Um dia cheguei a casa e disse para o meu pai: nunca mais! Nunca mais me deixaria chegar a um estado destes», rememora, insistindo no tom confessional:

«Se fosse fraco, já tinha desistido há muito. O futebol não é só talento. Se querem conhecer tipos que eram melhores do que eu, levo-vos a uma visita pelo meu bairro. Há montes deles. Um rebentou o joelho, outro teve azar. Outros, ainda, não tiveram o apoio de uns pais como os meus.»

«Não é fácil. Vejam o exemplo do Jeffrén. Jogava no Barcelona com o Messi e os craques todos, fazia grandes jogos. O que faz agora? Nolito, outro bom exemplo. Fez tantos jogos e agora pouco se vê. Também é preciso ter sorte. Eu, com um empurrão, podia ser hoje jogador do Manchester.»

Mas é na Naval que vive o dia-a-dia. É uma espécie de enciclopédia do plantel. Quando há falhas de memória de alguém, é inevitável. «Pergunta ao Tikito, ele sabe tudo», afirma quem o conhece. «Também ficam incrédulos quando lhes digo que joguei com este ou aquele craque. Estás a gozar?», questionam. Para ele, no entanto, é normal.



Vê à volta de 12 jogos por semana e é porque agora anda a abrandar. «Não se pode gostar deste desporto pela metade. Tens de o amar por inteiro. E eu respiro futebol, durmo e acordo a pensar no futebol. O futebol é a minha vida, amo o jogo como um louco», garante, com uma convicção que até arrepia.

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