«O meu pub em Hammersmith» abre hoje. A esta zona da cosmopolita Londres chega gente de todo o mundo. Enquanto se bebe uma pint, fala-se de desporto: futebol, basquetebol, ténis, Fórmula 1, o que for. Depende de quem passa pela porta. O consumo é obrigatório e as bebidas nunca são por conta da casa. Aqui também se pode falar da NFL, mas se alguma vez se proferir a palavra «soccer», aviso que Woody, o cozinheiro, tem cara de Vinnie Jones e andou na escola do Cantona. Ah, e é primo do Roy Keane.

O Inglês deles não enganava, vinham dos States. E não eram de Boston, esses um gajo topa-os logo pela pronuncia, pelo primo irlandês embriagado. Estava à espera que pedissem uma «ginger beer» ou coisa do género, quando repararam na frase do Jordan na parede [um dia, calma] e «quebraram o gelo»: «E os Lakers, pá?»

Lá venceram (90-95 sobre os Nets), mas este vosso caro tem tantos anos como o Showtime no Forum de Inglewood, a versão mais hollywoodesca dos Lakers gerada com a chegada de Magic Johnson e financiada por Jerry Buss. Rumores há de que foi o dono do franchise que preferiu contratar Mike DAntoni (estreou-se esta madrugada) a Phil Jackson, o mais titulado treinador da NBA e namorado da filha de Buss. (E ainda se diz mal das sogras...)

Os tipos estavam entusiasmados com a conferência de imprensa de apresentação de DAntoni. Falaram dos números ofensivos do antigo «head coach» de Phoenix e NY Knicks, do espectáculo que vai ser, do possível regresso do Showtime. Disse-lhes: «Se o Mike D pensa que vai conseguir jogar num kick and rush constante está tramado.»

Obviamente, aquela noção «futeboleira» de um «run and gun» não fez nenhum sentido nos devoradores de hot-dogs (aqui a especialidade é empada da Cornualha feita pelo Woody). Expliquei-me: «As equipas de DAntoni foram, nos últimos anos, das mais ofensivas da NBA. Ele quer uma média de 110 pontos por jogo. No «roster» de LA há talento. Mas não vejo pernas para isso. Steve Nash liderou o ataque dos produtivos Suns de DAntoni, mas tem 38 anos e a velocidade de execução já não é a mesma. Kobe também já não está para novo. Aliás, o cinco base de LA tem 32,6 anos de média. Jogar assim deve ser divertido, claro, mas pode ser fisicamente impossível para esta equipa.»

«A correria em que jogam as equipas de DAntoni sempre teve custos na defesa. Sob orientação de Mike D, Phoenix Suns e NY Knicks tiveram dos melhores ataques da liga, mas a defesa foi um desastre. Desta vez, DAntoni tem o melhor jogador defensivo da NBA (três vezes nas últimas quatro épocas).»

«Dwight Howard não é o Super-Homem, mas é pelos poderes do poste que vai passar muito do sucesso dos Lakers, creio. No balanço que haverá entre os números de Howard no «pick and roll» atacante e na tabela defensiva. Para além de Kobe, a diferença de um marcador final a favor de LA vai ditar-se aqui.»

«DAntoni vai acelerar os Lakers, o que é preciso. Mas colocá-los num ritmo louco será prejudicial, porque as pernas de Bryant, Gasol e Nash vão ter de correr para trás também. Kobe vai sempre marcar pontos. Pau Gasol vai sempre passar a bola como nenhum outro extremo/poste na Liga. Nash vai sempre contribuir e Howard vai faturar mais. Mas isto tem de ser feito ao ritmo deles e não de uma ideia préconcebida. Não se enganem, os Lakers vão estar nos playoff. Ganhar o título é outra coisa. Fazê-lo no estilo anunciado por DAntoni outra ainda. Muitas vezes, o treinador tem de se moldar à equipa até ter tempo para chegar onde quer. Qualquer técnico de futebol o sabe a dada altura da carreira.»

- «Futebol? Ah, queres dizer soccer?»

- «Yo, Woody...!»

«O meu pub em Hammersmith» é um espaço de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter