O Real a sonhar virar o 1-4 de Dortmund, o Barça a sonhar virar o 0-4 de Munique e no meio um protagonista comum: Jupph Heynckes. O treinador alemão que esta quarta-feira vai ao Camp Nou com o Bayern Munique do alto dos 4-0 de vantagem da primeira mão da meia-final da Liga dos Campeões era o técnico do Borussia Moenchengladbach na noite de 11 de dezembro de 1985 em que o Real Madrid deu a volta a uma derrota por 1-5 na primeira mão, ganhou por 4-0 no Bernabéu e seguiu em frente, na terceira eliminatória da Taça UEFA. É muito deste jogo que se faz a lenda do Real Madrid, das «remontadas» e do «espírito de Juanito», um chavão que pretende representar a garra que os «blancos» querem ressuscitar esta noite, frente ao Borussia Dortmund.
«Foi o pior momento da minha carreira», recorda Heynckes, citado pelo site da UEFA. O treinador alemão, que mais tarde havia de ganhar a Liga dos Campeões como treinador do próprio Real Madrid, em 1998, sem que isso impedisse a sua saída, para depois rumar ao Benfica, conta que chegou mesmo a ponderar terminar a carreira por causa daquela noite de pesadelo. «Já não queria ser treinador. Devíamos ter ganho a primeira mão por 7-1, mas um jogador - não vou dizer o nome - esteve duas vezes à frente da baliza e não passou a um companheiro. Depois perdemos por 4-0 em Madrid e caímos. Então disse: vou desistir como treinador. Foi pior do que as ameaças de morte que recebi mais tarde na minha carreira.»
Para a segunda mão o Real Madrid alimentou-se de fé. A UEFA cita Juanito, o tal que é recordado até hoje como a personificação do espírito guerreiro do Real. «Tínhamos uma fé incrível. Dissemos que ainda os podíamos eliminar. Eu e o José Antonio Camacho fomos os primeiros a dizê-lo. E assim foi. Jorge Valdano, avançado do Real Madrid naquela equipa, marcou o primeiro aos sete minutos, o segundo aos 20m. Depois, na segunda parte, Santillana selou a reviravolta: 3-0 aos 78m, o 4-0 mesmo aos 90m.
Jorge Valdano também fala sobre aquele momento no artigo da UEFA. «Naquela altura sofríamos goleadas ridículas fora. Em casa tínhamos de ganhar por quatro ou cinco. Incrivelmente, os nossos adeptos tinham fé tremenda em nós. Uma fé que quase parecia tonta, tendo em conta os resultados. Criavam uma pressão enorme que nos deixava eufóricos e atemorizava os adversários. Costumávamos chamar-lhe o medo cénico do Bernabéu», recorda o argentino.
Quanto a Heynckes, conta como seguiu o seu caminho depois daquela noite. «Cheguei a sentar-me e a escrever uma carta de demissão ao meu adjunto. Ainda tenho essa carta hoje, ele nunca a recebeu. Ainda há pouco tempo a reli. Estava tão deprimido», começa. «Depois no sábado seguinte jogámos com o Schalke. Sabem o que fiz? Pela primeira vez não disse uma palavra à equipa. Escrevi o onze num quadro. Eles ficaram ali sentados, às 11h, à espera que eu falasse. Só disse: «Vocês todos sabem mais do que eu, de qualquer modo.» O jogo acabou 2-2, mas eles deram o litro.»