O Maisfutebol desafiou os jogadores e treinadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

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GINHO, AYIA NAPA (CHIPRE)

«Boa tarde caros leitores,

Hoje vou recuar no tempo para recordar o meu último ano de júnior no F.C. Porto. Já la vão nove épocas mas dificilmente se esquece anos tão bons como os que passei naquele clube.

Na época 2003/2004, a equipa da qual fazia parte tinha-se sagrado anteriormente campeã nacional de iniciados e juvenis, logo esperava-se um bom desempenho na categoria de juniores.

Tínhamos um ambiente fantástico dentro do balneário e a prova disso é que todos íamos uma hora mais cedo antes da concentração, só para pudermos estar a conviver e fazer o nosso torneio de futvólei dentro do balneário.

Seguia-se o encontro à frente do Estádio do Dragão e de lá arrancávamos para o Olival, para o centro de estágio. Isto não era uma rotina só dos jogadores, pois o mister João Pinto era o primeiro a chegar para estes torneios.

O prémio? A equipa vencida tinha de trazer uma caixa de chamuças para o resto da equipa ou conforme iam perdendo passavam na máquina que havia dentro das instalações para trazer chocolates para os vencedores.

Esta união refletia-se dentro das quatro linhas pois passámos facilmente a primeira fase e andámos atrás de recordes, como o de golos marcados. Imaginem que num só jogo vencemos por 32-0, o que não se vê se nos tempos de hoje.

Mas a vida não foi só um de mar de rosas, pois nesse ano sofri uma lesão grave. Fiz uma grande rotura muscular e desta forma perdi o arranque do campeonato, assim como a fase de apuramento para o campeonato da Europa de sub-19. Foram dois meses e meio complicados.

Passámos a primeira fase e a segunda, chegando então à terceira fase para disputar o título. Foi quando tivemos o grande dissabor da época.

No último jogo da época, íamos decidir com o Benfica, em casa, quem seria o Campeão Nacional. Foi um jogo repleto de toda a espécie de emoções.

Nessa altura, tinha falecido num treino um companheiro que representava o Benfica, com um problema no coração. Entrámos para o aquecimento e logo vimos as tarjas alusivas a Bruno Baião, uma grande promessa do Benfica. Logo ai percebemos que ia ser um jogo muito complicado para nós, pois eles vinham decididos a homenagear e conquistar o campeonato pelo Bruno.

Criámos inúmeras situações de golo, com a bola a bater várias vezes nos ferros da baliza ou o guarda-redes do Benfica a fazer defesas espetaculares. Empatámos 1-1 e a esperança de ganharmos o titulo de campeão nacional em todos os escalões foi por água baixo.

As lágrimas e a tristeza entraram pelo balneário dentro mas sentimos que tínhamos feito tudo que estava nosso alcance. Simplesmente não foi o nosso dia.

No final da época, aconteceu o que normalmente acontece nas grandes equipas: quase todos os jogadores que passaram a seniores foram dispensados. Tenho pena que, desta fantástica equipa, poucos tenham sido aqueles que conseguiram chegar a um grande nível no futebol.

Há casos como o Vieirinha (Wolfsburgo), Paulo Machado (Olympiakos), Ivanildo (Olhanense) e Fabio Espinho (Moreirense). Outros estão dispersos pela II Liga e escalões inferiores do futebol português. Eu também fui um dos dispensados e senti dificuldades para seguir o meu caminho, mas o futebol é mesmo assim.

Aproveito para mandar um abraço a todos aqueles com quem partilhei o balneário, jogadores e outras pessoas que faziam parte daquele grupo fantástico. Um abraço também para os leitores do Maisfutebol.

Boas festas,

Ginho»