A matemática diz que nenhuma equipa fica apurada – ou eliminada – com apenas duas jornadas da Liga dos Campeões. Mas a tradição diz, também, que poucas equipas resistem a um duplo desaire na entrada em cena. Por isso, mais do que nas cimeiras entre vencedores do primeiro dia (Basileia-Schalke, Arsenal-Nápoles e F.C. Porto-At. Madrid) é a tensão dos derrotados na estreia que promete emoções mais fortes para esta terça-feira. Entre eles, Chelsea, Dortmund e Zenit, mais até do que Steaua, Marselha, Áustria, Ajax e Celtic, não podem deixar-se ficar entre a espada e a parede.

Resultados, classificações e calendário completo

Grupo E

Steaua-Chelsea, 19.45

Ganhar, ou ganhar. Depois do inesperado desaire caseiro na primeira jornada, com o Basileia, o Chelsea e José Mourinho não têm muitas alternativas em Bucareste, até por defrontar a que é, à partida, a equipa menos cotada do grupo. Os últimos dois resultados domésticos já permitiram ao técnico português sacudir boa parte da pressão, mas é importante não esquecer que, ainda há seis meses, este mesmo Steaua fez sofrer os «blues», batendo-os por 1-0 no Arena antes de cair por 3-1 em Stamford Bridge. As equipas não mudaram assim tanto para que o jogo de Bucareste possa ser considerado uma simples formalidade.

Ainda assim, Mourinho, que tem o castigado Ramires de volta e não pode contar com o lesionado Hazard, beneficia da incontestável superioridade do plantel londrino e também da inexperiência do Steaua: apenas dois jogadores do atual plantel, Kapetanos e Neagu, já tinham participado na fase de grupos. E o saldo dos romenos, nas últimas seis presenças na Champions, resume-se a quatro vitórias em 37 jogos.

A favor do Steaua, além do apoio do público, joga a tranquilidade doméstica: sem concorrência à altura no campeonato, ao contrário do Chelsea, e com apenas uma derrota em toda a temporada (precisamente na primeira jornada, em Gelsenkirchen) o técnico Reghecampf tem podido gerir o grupo de forma a apostar todas as fichas na reedição da surpresa de março.

Basileia-Schalke, 19.45

O Basileia não tem memórias agradáveis do último embate com equipas alemãs: uma derrota por 7-0 em Munique, em março de 2012. Mas duas coisas são verdade: por um lado, o Schalke, sendo um adversário respeitável, está muito longe de apresentar o mesmo poder de fogo dos bávaros. Por outro, a dimensão europeia do Basileia tem crescido a cada nova época.

A reviravolta em Stamford Bridge (2-1), na primeira jornada, foi a mais recente demonstração de competência dos homens de Murat Yakin, que nas últimas épocas já derrubaram outros emblemas ilustres como Tottenham, Zenit e Manchester United. Nomes como Salah, Stocker, Streller e Frei começam a tornar-se familiares a quem acompanha o futebol europeu. E com apenas uma derrota nos últimos nove jogos europeus em casa, os tetracampeões suíços querem confirmar nesta jornada o estatuto de intrusos na luta pelo apuramento.

Do outro lado, depois da vitória fácil sobre o Steaua, o Schalke quer afogar na Champions as mágoas domésticas: é 14º na Bundesliga, a 11 pontos de Bayern e Dortmund. Os homens de Jens Keller já podem contar com o regressado Jermaine Jones, que estava suspenso para a primeira jornada. Uma compensação pelas baixas prolongadas dos lesionados Obasi, Papadopoulos e Huntelaar, antes do duplo confronto com o Chelsea clarificar as contas do grupo.

Grupo F

Arsenal-Nápoles, 19.45

São duas das melhores equipas do momento, como o atestam as excelentes carreiras na Premier League, onde o Arsenal é líder, e na Série A, onde o Nápoles é o primeiro perseguidor da Roma. Com a chegada de Özil, e sem vender jogadores importantes, como em épocas anteriores, a equipa de Arséne Wenger parece ter subido um patamar de competitividade, e confirmou essa impressão com uma boa vitória em Marselha, na estreia. Falta agora reforçar essa ideia perante os seus adeptos, que voltam a presenciar futebol de Champions pela 16ª temporada seguida (e com 13 apuramentos para os oitavos).

O jogo marca também o reencontro de Arsène Wenger com Rafael Benítez. O técnico espanhol nunca conseguiu vencer no Emirates, nos anos em que treinou em Inglaterra: soma três empates e cinco derrotas. No entanto, Benítez já assinou um amargo de boca para os «gunners», eliminando-os, pelo Liverpool, nos quartos de final da Liga dos Campeões 2007/08.

O seu Nápoles é liderado por um dos mais subavaliados jogadores europeus do momento, o eslovaco Hamsik. E, remodelado pela venda de Cavani, reforçou o sotaque hispânico com as contratações de Reina, Callejón, Albiol e Higuaín, cujo reencontro, em lados opostos, com o alemão Özil é um dos grandes focos de interesse de um dos jogos mais empolgantes da ronda.

B. Dortmund-Marselha, 19.45

Já poucos se lembraram, mas há apenas dois anos, o Borussia Dortmund foi uma das maiores deceções da Liga dos Campeões, ficando pelo caminho na fase de grupos. E no percurso acidentado dos homens de Jürgen Klopp constam duas derrotas com o adversário desta noite, a última das quais numa insólita reviravolta de 2-0 para 2-3.

O tempo passou, o Marselha perdeu argumentos e o Dortmund reforçou os galões de grande europeu: desde essa derrota com os franceses, em dezembro de 2011, não voltou a perder pontos no seu estádio em jogos europeus. E a solidez tem sido demonstrada pela forma como vai fazendo marcação cerrada ao Bayern no topo da Bundesliga. Mas o desaire de Nápoles, na estreia, deixou marcas: o guarda-redes Weidenfeller está suspenso por dois jogos, enquanto Klopp, também expulso nesse jogo, terá de acompanhar o jogo à distância. Duas baixas de peso, a juntar à onda de lesões, que mantém Schmelzer, Kehl, Piszczek e Gundogan fora dos planos.

Já o Marselha, que internamente procura manter o contacto com Mónaco e PSG, no topo da Liga, não pode contar com o lateral esquerdo Morel, lesionado no joelho. Os homens de Elie Baup precisam, mais do que nunca, do regresso aos golos de Gignac, que depois de um início de época promissor já acumula um jejum de seis jogos sem marcar.

Grupo G

Zenit-Áustria Viena, 17 h

Estreante na fase de grupos da Liga dos Campeões, onde chegou como a equipa com o ranking mais baixo, o Áustria Viena persegue vários registos inéditos no seu primeiro jogo fora de portas: o primeiro golo, o(s) primeiro(s) ponto(s) e, acessoriamente, uma exibição que desminta a ideia de ser o mais frágil dos 32 participantes.

A derrota no Prater, diante de um FC Porto a meio gás, confirmou as dificuldades que deve enfrentar, num grupo com três fortes candidatos ao apuramento. Com uma vitória nos últimos sete jogos, será surpreendente que as evite em S. Petersburgo, diante de um Zenit que ganhou 16 dos últimos 20 jogos europeus em casa. Pior ainda: os companheiros de Danny marcaram 12 golos nos últimos três encontros. O português prossegue um início de época assombroso, com 11 golos em 17 jogos. Hulk parece apostado em seguir-lhe as pisadas: soma sete nos últimos seis jogos.

Em semana de seleção, curiosidade, ainda, para ver se Neto recupera o posto no eixo da defesa do Zenit, depois da má estreia diante do At. Madrid.

Clique para ver tudo sobre o FC Porto-At. Madrid, 19.45

Grupo H

Celtic-Barcelona, 19.45

Única equipa a derrotar o Barcelona na fase de grupos da Liga dos Campeões nas últimas três épocas (2-1 em Glasgow, há 11 meses), o Celtic é um dos adversários mais frequentes dos catalães na última década: oito partidas em provas da UEFA desde 2004, com saldo de 4-2-2 favorável aos catalães. O Celtic Park não é fortaleza fácil de tomar: nos últimos dez jogos de Champions, apenas a Juventus lá venceu. E o passado recente do Barcelona na prova é surpreendentemente frágil nos jogos fora: só duas vitórias, nos últimos oito jogos longe do Camp Nou.

Por outro lado, o início de época dos homens de Tata Martino tem sido avassalador: oito vitórias e dois empates, por contraste com um Celtic que perdeu duas das últimas quatro partidas. Se vencer, o Barça impõe ao Celtic a 100ª derrota em provas europeias. A derrota em São Siro, perante o Milan, obriga os escoceses a reacender a chama de novembro passado, face a um Barcelona que entrou na prova a golear. Pormenor: contou com um hat-trick de Messi, o grande ausente em Glasgow, por lesão. Referência ainda para o português Amido Baldé, que depois de marcar o primeiro golo oficial pelo Celtic, no sábado, espera pela oportunidade de jogar uns minutos, estreando-se na Liga dos Campeões.

Ajax-Milan, 19.45

Os desfechos na primeira jornada foram de sinal contrário – vitória do Milan sobre o Celtic, Ajax goleado em Barcelona – mas são muitos os pontos comuns aos dois ex-campeões europeus. Que, aliás, protagonizam um dos duelos com mais história nas competições europeias: 12 embates nos últimos 43 anos, entre eles duas finais. O Milan ganhou a de 1969, o Ajax saiu por cima em 1995. Ilustração perfeita para um equilíbrio traduzido num saldo de cinco vitórias para cada lado e dois empates.

Nesta terça é o Ajax quem tem mais a perder: uma derrota deixa-o quase remetido à discussão do terceiro lugar, com o Celtic. Os antecedentes não são brilhantes: há oito jogos, e mais de dez anos, que os tricampeões holandeses (privados de Bojan, lesionado) não conseguem bater equipas italianas no Arena. Além disso, os homens de Massimo Allegri chegaram a esta fase de grupos depois de eliminarem, claramente o PSV Eindhoven no play-off (4-1). O mesmo PSV que, há duas semanas, goleou o Ajax por 4-0...

Para impedir que o Milan some a primeira vitórias fora de portas na época em curso, o Ajax vai ter de prestar atenção especial aos últimos dez minutos: sete dos últimos nove golos italianos surgiram nessa fase, incluindo os dois que derrotaram o Celtic, na primeira jornada da Champions.