O Atlético de Madrid pode não ter um futebol romântico, cheio de gestos técnicos brilhantes e golos bonitos, mas apaixona os amantes do futebol (clubismos à parte) pela raça, pela entrega, pela identidade. É uma EQUIPA, com todas as letras. Daquelas que podem até perder o jogo, mas que nunca esquecem a atitude. Se um jogador é batido, logo aparece outro. Ninguém assobia para o ar quando se trata de evitar um golo. Nem podia ser de outra maneira, com Diego Simeone no banco.

O «cholismo» está de muito boa saúde no Vicente Calderón. Os adeptos só podem estar satisfeitos com o trabalho do técnico argentino, que já conquistou a Liga Europa, a Supertaça e a Taça do Rei. Falta a Liga, um sonho que pareceria ridículo há pouco tempo, mas agora até parece realista. A distância para Barcelona e Real Madrid, que parecia imensa, mostra-se agora mínima. Os «cholchoneros» seguem cem por cento vitoriosos na Liga e chegam ao Dragão moralizados pela vitória no Bernabéu, o reduto do eterno rival.

O Atlético é uma equipa perfeitamente consciente das suas virtudes e defeitos. Faz da humilde um trunfo e é especialista a esconder quando os adversários são tecnicamente superiores. Defende como um verdadeiro bloco, e por isso tem apenas sete golos sofridos em dez jogos oficiais.

Os raros desequilíbrios

A formação espanhola apresenta-se normalmente em 4x4x2, embora ocasionalmente, com Adrián no «onze», possa estar disposta em 4x3x3. Os «colchoneros» fazem enorme pressão sobre o portador da bola, para não deixar que o adversário circule a bola a seu gosto. Se um médio contrário recua até aos centrais para pegar no jogo é bem provável que seja acompanhado, porventura por Gabi. E se esta pressão funciona é porque todos os elementos a levam a sério. E só assim podem merecer a confiança de Simeone. A meio-campo jogam quatro elementos habituados a jogar pela zona central, que sabem que a prioridade é fechar essa porta.

A linha intermédia e a mais recuada, ambas de quatro elementos, jogam muito próximas. E a inteligência de Mário Suárez (lesionado) e Gabi garante que ninguém aproveite o pouco espaço que fica no meio. E depois a linha formada habitualmente por Juanfran-Miranda-Godín-Filipe Luís é muito competente. E se algo falhar há ainda Courtois, um guarda-redes com tudo para ser o melhor do mundo, daqui por alguns anos.

Ciente desta virtude, o Atlético é uma equipa que se desequilibra muito pouco. Os laterais são bastante ofensivos, mas depois há sempre alguém para compensar isso, entre Gabi, Mario Suárez e ainda Koke, que joga pela ala mas funciona como terceira unidade da zona central. Miranda e Godín são também centrais rápidos, mas esta vocação ofensiva dos laterais pode ser, ainda assim, um aspeto a explorar pelo FC Porto. É que Juanfran demora algum tempo a recuperar posição depois de uma subida no terreno. E a preocupação de Koke em fechar o espaço central obriga muitas vezes o lateral direito a subir no terreno para pressionar o portador da bola, deixando um espaço onde pode cair um avançado.

As virtudes trabalhadas ao máximo

Mas recuperamos a ideia: este Atlético é pouco dado a desequilíbrios, sobretudo pelo rigor de Gabi, Mario Suárez e Koke. Arda Turan também se mostra muito disponível para as tarefas defensivas, com a típica garra turca, mas no plano ofensivo goza de maior liberdade, para fazer a ligação aos avançados.

A frente de ataque conta com a mobilidade e o pragmatismo de David Villa e Diego Costa, com destaque para um movimento típico do brasileiro, que faz muitas diagonais para o lado esquerdo. É muito frequente ver Diego Costa procurar a bola daquele lado, levar para a linha de fundo e depois procurar o cruzamento, muitas vezes rasteiro, para a entrada da área. Sem extremos de raiz (no plantel só há Rodríguez, que ainda nem foi titular), são os avançados que dão largura ao jogo do Atlético.

E se o contra-ataque é uma das «armas» da equipa de Simeone, o peso das bolas paradas é ainda maior. O técnico argentino trabalha muito esta vertente, que deu origem a quase um terço dos golos marcados (sete). A estratégia passa mais por jogar na antecipação do que ganhar nas alturas. Destaque para os desvios de Miranda nos cantos, ao primeiro poste, seja logo para a baliza (como no jogo com o Zenit), ou para alguém encostar mais atrás (Diego Costa, em Sevilha). 


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