Não é leitor, vá por mim. Podia ser, mas não é. O que não significa que goste das cornetas que enchem de barulho e esvaziam de emoção os estádios sul-africanos. Não gosto. Aliás, sempre que ligo a televisão para ver um jogo do Mundial, temo pela vida.

Depois passa. A primeira reacção é esconder-me debaixo da cama do hotel, à espera que o enxame de abelhas passe. Depois percebo que o zumbido afinal é outro: são apenas vuvuzelas. O zumbido é outro, mas não é mais pacífico. Mata na mesma.

Neste caso mata o futebol. Está a matar o Mundial 2010 todos os dias. Ninguém me tira da cabeça que a prova será recordada como o mundial em que se aconteceu alguma coisa, não se sentiu. No estádio, por exemplo, é impossível perceber a intensidade do jogo.

Há um golo: sopra-se na vuvuzela. Há um penalty: mais vuvuzela. Há uma grande defesa: vuvuzela, claro. Não há nada de todo: dá-lhe na vuvuzela. Um jogo são por isso longos noventa minutos de uma eterna nota: sempre no tom errado.

Os jogadores já começaram a manifestar-se contra as vuvuzelas, os adeptos queixam-se, os empreendedores vendem tampões à porta dos estádios e a FIFA diz que é possível estudar a proibição das vuvuzelas. Pelo menos é um erro que pode emendar, pensará.

Pensa mal. Proibir as vuvuzelas não faz sentido. Estão nos estádios sul-africanos há mais de quinze anos, não se arrancam da boca das pessoas à força. Sobretudo agora, que o Mundial vai lançado e é impossível apagar o barulho do fundo da história.

«África minha, África nossa» é um espaço de opinião da autoria dos enviados-especiais Nuno Travassos e Sérgio Pereira, jornalistas do Maisfutebol, ao Mundial 2010. Siga-os no blog Ntatheli