«Fernando? A mim aconteceu-me o mesmo, há mais de um ano»

Ponto prévio: este é um mero artigo de opinião e não gosto particularmente de abordar temas sem estar na posse de todos os dados. Porém, devo admitir que algumas questões suscitam particular curiosidade.

A história de Fernando com a seleção nacional portuguesa é uma delas. A notícia foi, veio e parece que já passou. Hoje em dia, com um fluxo ininterrupto de informações e rumores, é difícil reter mais que o essencial.

Os dados conhecidos foram estes: a FIFA confirmou ao Maisfutebol que a Federação Portuguesa de Futebol desencadeou, em fevereiro, o processo necessário para a «possível mudança de federação» por parte do médio do FC Porto.

A 2 de maio, a Federação anunciou que o organismo que tutela o futebol mundial tinha afastado a possibilidade de Fernando representar a seleção nacional.

Pelo meio, Paulo Bento falou sempre num processo administrativo. Pelo que se sabe do treinador, nunca foi um grande adepto desta prática. Ainda assim, não fechou a porta ao jogador nas intervenções públicas. 

[Fernando foi campeão sul-americano de sub-20 pelo Brasil em 2007]
 
A FIFA decidiu e arrumou a questão. Portugal segue para o Mundial com o experiente Miguel Veloso e o entusiasmante William Carvalho. Entre os adeptos, a maioria era contra a chamada de Fernando. Portanto, nada de mal parece ter vindo ao mundo.

Então, qual é a minha dúvida? Ela aqui fica, já que nos artigos informativos sou contra os pontos de interrogação e as reticências: a Federação não sabia que o pedido por Fernando seria inevitavelmente recusado?

Nesta terça-feira, em conversa com Hélio Pinto sobre o título conquistado pelo Légia de Varsóvia, recordei o tema.

Hélio Pinto esteve na mesma situação que Fernando há mais de um ano. Fez 17 jogos pela seleção portuguesa, entre os sub-18 e os sub-20, e rumou entretanto ao Chipre. Chegou em 2005 e, em 2012, a federação cipriota avançou com idêntico pedido. A FIFA recusou.

«Por acaso acompanhei as notícias que foram saindo em Portugal sobre o Fernando e achei curioso porque já me tinha acontecido o mesmo, mas aí acharam que era novidade. Eu não pude jogar pelo Chipre porque fui internacional jovem por Portugal em jogos oficiais. E claro, nessa altura não tinha a nacionalidade cipriota.»

[Estes dados, aliás, estão no site oficial da Federação Portuguesa de Futebol]
 


Os regulamentos da FIFA são claros. Podem ser discutíveis ( basta lembrar a presença de Diego Costa em amigáveis do Brasil), mas são claros. Tanto no caso de Hélio Pinto, como no caso de Fernando.

O médio do FC Porto foi campeão sul-americano pelos sub-20 do Brasil em 2007, num torneio oficial, organizado pela CONMEBOL e com direito a apuramento para o Mundial da categoria. Ou seja, este foi um processo condenado ao fracasso.

Perante este cenário, não percebi a esperança alimentada com o pedido oficial da Federação Portuguesa de Futebol à FIFA. De certa forma, o organismo internacional limitou-se a resolver uma questão interna que não acolhia unanimidade. 

Um dia, como geralmente acontece, será conhecida toda a história. E eu, que sempre fui contra as naturalizações, aguardarei com especial curiosidade o balanço de Fernando. 

No fundo tudo não passou de uma ilusão. 

Entre Linhas é um espaço de opinião com origem em declarações de treinadores, jogadores e restantes agentes desportivos. Autoria de Vítor Hugo Alvarenga, jornalista do Maisfutebol (valvarenga@mediacapital.pt)