Nota preliminar: este Benfica não se afirma preparado para passar o testemunho. Mas já lá vamos.

Antes disso impõe-se dizer que meia-hora à Benfica permitiu à formação de Jesus marcar quatro golos, três dos quais na baliza certa, e ficar a um ponto da felicidade possível. Por aqui já percebe como a entrada em campo foi forte. Os encarnados cumpriram a missão, e cumpriram-na rapidamente.

Nesta altura vale a pena voltar atrás para explicar a ideia anterior. Quando se fala em felicidade possível, fala-se nos objectivos que sobram na Liga. A vitória deixou o Benfica a um ponto de esgotá-los todos: garantir a Champions e evitar a festa do F.C. Porto na catedral do benfiquismo.

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O que sobra depois? Pouco, claro. Sobra a dignidade, é certo, e sobra talvez o prazer: o simples prazer de proporcionar delícias como o terceiro golo. Sublime. Um remate em jeito, de primeira, de Gaitán. A bola seguiu para o ângulo, resultou numa obra enorme e fez-nos sentir a todos mais pequeninos.

Nessa altura percebeu-se que a vitória estava segura e que o Benfica tinha voltado a ser grande. Anunciou-o em castelhano: pela primeira vez esta época na Liga, entrou sem um português no onze. É um sinal dos tempos, é verdade, mas não fica bem a ninguém. Não fica bem ao Arsenal, e não fica bem ao Benfica.

Mas dizia-se o Benfica voltou a ser grande. Sobretudo pela capacidade que Aimar tem de tornar o futebol harmonioso. P. Ferreira teve oportunidade de assistir ao melhor Aimar, e a partir daí fica tudo mais delicado. O mago fez o segundo golo e participou em tudo o que o Benfica fez de melhor.

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Antes de Aimar aparecer, é bom dizê-lo, já o P. Ferreira tinha dado um enorme tiro nos pés. Fê-lo aos quatro minutos, quando Cohène acertou com a mão no rosto de Javi Garcia e deu a Cardozo a possibilidade de fazer o primeiro da marca de penalty. A partir daí, claro, nada voltou a ser igual.

O P. Ferreira, normalmente autoritário e arrogante na Mata Real, encolheu-se, duvidou dele mesmo e durante muito tempo não acertou na marcação. Foi uma nódoa da equipa que conseguiu chegar ao quarto lugar. O Benfica jogou bem, com entradas rápidas na defesa adversária e criou perigo.

Passou meia-hora até que o Paços se reencontrasse. Meia hora e três golos que fecharam o jogo. É verdade que o autogolo de Carole (melhor exibição, desta vez) devolveu um pouco de esperança às bancadas, mas a expulsão justa de Cohène (que desastre!) devolveu tudo ao registo anterior.

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Por isso a segunda parte trouxe pouco. O P. Ferreira queria mas não podia, o Benfica fez a gestão de uma vantagem normal, há seis anos que não perde na Mata Real. Notícia só os golos de Nuno Gomes. Impressionante, sem dúvida: cinco jogos como suplente utilizado na Liga, cinco remates e quatro golos.

Para além disso, sobrou a tal ideia: o Benfica ainda não está preparado para passar o testemunho. O que é um excelente tónico para o clássico. Um jogo com a intensidade deste que aí vem merece o melhor dos rivais eternos. A emoção está garantida, o bom futebol está pelo menos anunciado.