P.S. (Para Seguir) é um espaço assinado pelo jornalista Nuno Travassos, que pretende destacar jogadores até aos 21 anos. 

«Bem-vindos a Calchín, a terra de Julián Álvarez».

Os cartazes colocados à entrada da pequena cidade da região de Córdoba destacam a estrela local, a nova coqueluche do River Plate e do futebol argentino. Tem apenas 21 anos, é certo, mas o trajeto até aqui justifica plenamente o entusiasmo.

Neste domingo conseguiu o primeiro póquer, na goleada do River ao Patronato (5-0). O avançado já fez 90 jogos com a «banda roja» a cruzar a alma, nos quais soma 31 golos e 19 assistências. Um cartão de visita impressionante, mesmo num país habituado a olhar para talentos assim.

Nascido em janeiro de 2000, Julián começou por jogar no Atlético Calchín, que curiosamente veste as mesmas cores que o River Plate. Aos 11 anos chegou a treinar no Real Madrid, mas a idade inviabilizou uma mudança para Espanha nessa altura. Mais tarde também treinou no Boca Juniors, que queria ficar com ele, mas Julián acabou recrutado pelo clube do coração quando tinha 15 anos.

Álvarez estreou-se na equipa principal a 27 de outubro de 2018, frente ao Aldovisi. Então com 18 anos, o avançado foi lançado por Marcelo Gallardo na segunda parte, para o lugar do ex-benfiquista Rodrigo Mora.

Curiosamente, no dia em que marcou o primeiro golo, Julián substituiu outro jogador que passou por Portugal: o ex-portista Juan Quintero. Foi a 17 de março de 2019, e o golo que marcou abriu caminho à vitória sobre o Independiente (3-0).

Pelo meio conquistou a Taça Libertadores, ao jogar cerca de 25 minutos na atípica final que teve a segunda mão disputada no Estádio Santiago Bernabéu, palco em que o River bateu o Boca por 3-1, após prolongamento.

A pandemia de covid-19 adiou a afirmação do jovem avançado, mas depois disso o impacto foi impressionante, sobretudo no presente ano. Em março foi chamado pela primeira vez à seleção, mas a estreia ficou adiada para junho, por ocasião do empate com o Chile, da fase de apuramento para o Mundial 2022. E, uma vez mais, entrou para o lugar de um jogador que passou por Portugal: no caso Angel di María.

Entrou depois na convocatória para a Copa América, e ainda que tenha feito apenas um jogo, frente à Bolívia, fez parte do grupo que quebrou o jejum de 28 anos sem títulos da seleção «albiceleste».

No radar dos principais emblemas europeus, o jovem avançado é conhecido como «Aranha», alcunha dada pelo irmão mais velho perante o talento que Julián mostrou desde cedo para controlar a bola, como se tivesse mais do que duas pernas. É por isso que festeja ao estilo do Homem-Aranha.

Embora possa fazer qualquer função na frente de ataque, Álvarez tem consolidado o estatuto como “9”. Em todo o caso o mais coerente é dizer que é um avançado. Móvel, muito forte a atacar o espaço, mas também tecnicamente evoluído para jogar fora da área ou cair nas alas. E depois com uma espontaneidade de remate impressionante, o que faz com que tenha uma eficácia pouco habitual para a idade que tem.

A cláusula de 25 milhões de euros começa a parecer curta.