Paulo Alves colocou no início da semana um ponto final na sua ligação ao Gil Vicente. Por decisão mútua, as duas partes entenderam separar-se e pôr fim a uma sequência de três anos que teve como pontos altos o título na II Liga e a final da Taça da Liga, na temporada passada. Paulo Alves garante que deixa o clube sem mágoa depois de uma época complicada onde assume terem existido muitos erros em vários pontos importantes.

Que balanço faz da época que agora terminou?

Passar um ano sempre perto dos lugares de despromoção não é agradável. Acaba por ser uma época de muito sofrimento. De qualquer maneira atingiu-se o objetivo principal. Agora, se calhar toda a gente, e eu inclusive, perspetivava que, depois de uma época excecional no ano passado, esta fosse melhor. Mas perderam-se muitos jogadores e não fomos felizes nas contratações. Houve uma reformulação em janeiro e a isso somaram-se lesões graves em peças importantes, o que determinou que a época fosse difícil de gerir. Por isso, podemos todos sair de cabeça levantada.

Foi o ano mais difícil que viveu no Gil Vicente?

Sim. Tivemos o ano do caso Mateus que foi complicado a outros níveis, mas este ano foi difícil. Apesar de tudo o que aconteceu, tenho de valorizar o papel da direção que nunca perdeu a noção nem se desequilibrou. Poderiam pensar em mudar de treinador, por exemplo. Felizmente não perdemos a postura e o equilíbrio e esse foi o segredo.

Já deve ter feito a sua autoavaliação. Sente que, tendo em conta tudo o que foi a época, era possível fazer melhor?

Era muito difícil fazer melhor. Não é fácil gerir um balneário que não consegue pontuar em dois ou três jogos seguidos. Tentamos manter o rumo e a chave foi essa. Mas é óbvio que eu próprio queria ir mais além. Ou pelo menos não ter sofrido tanto.

O Gil Vicente chega ao final do ano praticamente sem nenhum jogador que contratou no início. Casos pontuais ou uma falha na política de contratações?

Para isso era preciso falar de cada jogador. Mas dou-lhe três exemplos. O Ramazotti era um ídolo em Barcelos, foi campeão connosco na II Liga. Não o conseguimos manter e quando houve oportunidade de o fazer regressar isso até foi festejado, mas veio de tal forma diferente que nem deu para perceber o porquê. É uma situação inexplicável. Outro caso é o Leonardo. Demonstrou um potencial fantástico, todos ficaram encantados, e com o decorrer do tempo desapareceu. O Pio era um jogador que todos gabavam as qualidades, mas que nunca fez dois jogos seguidos ao mesmo nível.

Mas esses reforços foram escolhidos por si quando foi ao Brasil com o presidente António Fiusa?

Alguns foram, outros nem tanto. Alguns apareceram por indicações que nos foram dando. Nem sempre os treinadores escolhem os jogadores. Foi uma mescla de indicações, escolhas minhas e políticas do clube.

A sua saída decorreu de forma pacífica ou fica alguma mágoa?

Saiu na imprensa uma notícia mentirosa que falava em tensão na minha saída. A minha reunião com o presidente Fiusa durou dez minutos e foi de uma frontalidade enorme. Quando terminou o jogo com o Estoril já sabia que seria muito complicado continuar. E o presidente também. É preciso perceber que por vezes termina um ciclo. Desejo ao Gil o maior sucesso, porque é uma referência para mim.

Pelos anos que passou no clube como treinador e jogador é muito conotado com o Gil. Sair é bom para a sua afirmação?

Eu quero que assim seja. Mais tarde ou mais cedo tinha de acontecer. Agora estou no mercado como muitos outros treinadores. Já houve algumas abordagens, é verdade, mas nada em concreto. Não fecho a porta ao estrangeiro, nem pensar, mas neste momento não coloco a hipótese de treinar na II Liga. No futuro não sei, depende dos clubes. A prioridade é, contudo, treinar na Liga. Se for possível já para o ano, ótimo. Se tiver de parar um pouco, não faz mal porque venho de muito tempo em atividade.