Hugo Vieira foi uma das contratações do Benfica na última temporada e um dos jogadores que Paulo Alves perdeu no Gil Vicente, embora tenha regressado no mercado de inverno. O avançado português não se conseguiu impor na Luz, foi emprestado ao Sp. Gijón mas um problema pessoal acabou por atrapalhar a aventura em Espanha. Voltou a Barcelos, fez oito golos, ajudou à manutenção do clube na Liga e deixou a dúvida: irá Jorge Jesus dar-lhe uma nova oportunidade? Paulo Alves, em entrevista ao Maisfutebol dá a sua opinião.

O que faltou ao Hugo Vieira para se conseguir impor no Benfica?

Ao Hugo Vieira falta-lhe um pouco mais de capacidade psicológica para um clube como o Benfica. Precisa ser mais sólido emocionalmente. Tem qualidades excecionais mas tem de ser muito mais competitivo. Tem de encaixar na organização da equipa. Dá muitas coisas em termos ofensivos, é um jogador que pode resolver um jogo numa questão individual, mas por isso mesmo tem dificuldades em posicionar-se e em colocar-se em sítios que a equipa precisa sobretudo para a organização defensiva.

Ao Gil acabou por ser útil, porque ainda aproveitou os golos dele na segunda fase da época.

Sim, mas ele já tinha feito uma excelente época no ano passado. Não confirmou isso no Gijon, voltou ao Gil, fez alguns jogos interessantes, mas falta-lhe esse acrescento. Não era expectável que fizesse mais porque vem de uma paragem muito longa e de uma situação difícil da vida dele que já se falou. Se ele juntar essa capacidade psicológica e vontade de querer fazer, pode ser jogador para esse nível. Se melhorar isso pode ser um jogador muito importante mesmo no futebol português.

A palavra passa a estar, então, do lado de Jorge Jesus?

Acaba por ser tudo uma questão de oportunidades e disso eu não posso falar muito. Se, eventualmente, fizer três ou quatro jogos no Benfica, acredito que vamos vê-lo a fazer isso, porque o Jesus trabalha muito os seus jogadores. Sem ver é difícil. Nós, treinadores, temos vinte e tal jogadores e há sempre um ou outro que não joga. Ficamos sempre a pensar: será que aquele jogador poderia dar outra coisa num jogo? É complicado gerir tudo isto.

Foi o Paulo Alves que lançou o Zé Luís para o futebol. Esperava que já desse mais ao Sp. Braga?

É um jovem que despontou comigo. Lancei-o ainda júnior e vaticino-lhe uma grande carreira. Tem um potencial extraordinário, fora de série. Precisa de jogar e melhorar alguns aspetos, nomeadamente o posicionamento e questões táticas. Tem tido lesões graves e longas que atrapalham sempre. Mas no Braga há Éder, há Carlão e não é fácil para um miúdo impor-se no meio disso tudo. Com tempo vai ser um grande jogador.

Entre os jogadores que treinou no Gil Vicente, acha que houve algum que foi subavaliado pela crítica?

Os jornalistas analisam geralmente bem, mas veem as questões mais visíveis, como quem faz golos, por exemplo. Os treinadores privilegiam outros aspetos. Pelo seu comportamento, empenho e atitude gostava de destacar o Luís Manuel. Era um jogar que estava no Lousada há três anos, já em fase descendente, e teve uma entrega excecional. Por tudo o que me deu, acho que merece que o refira. Talvez tenha sido o mais subavaliado. Para uns poderem fazer aquelas coisas extraordinárias na frente é preciso que alguém atrás dê consistência e isso passa despercebido à maioria das pessoas. Poderia dar outros nomes, mas acho que é justo destacar o Luís Manuel.