Uma subida veloz da formação do Bonfim até ao Valência, da liga espanhola. O negócio virá ajudar o Vitória, que formou um «rapaz humilde» e que sempre teve «cabeça para ser jogador de futebol». Um rapaz que despertou o interesse de Benfica, FC Porto e Sporting, mas que em janeiro se muda para Espanha. Eis Rúben Vezo, 19 anos, oito jogos no campeonato e uma transferência para um dos grandes de La Liga.

Natural de Setúbal, formado no Vitória. Vezo foi lateral-direito e passou para central a meio do crescimento futebolístico. Era juvenil quando treinou com os seniores pela primeira vez, era júnior quando José Mota o meteu no banco, na época passada.

Não tinha nenhum jogo como sénior quando foi lançado para defrontar o goleador do campeonato anterior. Uma estreia frente ao FC Porto. Frente a Jackson Martínez. Podia ser mais difícil? Apesar de o colombiano ter marcado, Vezo saiu-se bem. Não foi por ele que o Vitória perdeu.

«Fez uma excelente pré-época e decidi apostar nele . Vinha dos juniores e ia defrontar o FC Porto. Havia jogadores com mais experiência, mas todo o trabalho que fez até aí tinha sido muito válido. Ganhou a minha confiança, tudo o que lhe recomendava e tudo o que exigi dele foi cumprido», lembrou Mota ao Maisfutebol, nesta segunda-feira.

Na sala de imprensa após a derrota com o campeão nacional, e entre uma polémica com Paulo Fonseca, José Mota elogiou Vezo. Distinguiu-o. A explicação para o desempenho no primeiro jogo da carreira sénior pode estar nesta ideia de Bruno Ribeiro, que orientou o defesa nas camadas jovens: «Com a idade que tem, denota mais maturidade do que muitos outros. É o melhor jogador do Vitória.»

Nesse 18 de agosto os mais atentos perceberam que havia ali potencial. «Foi-lhe dada a oportunidade frente ao FC Porto e abriram-se muitas portas. Esse jogo foi determinante para que tivesse atenção», afirmou José Mota ao nosso jornal.

Conta o ex-treinador sadino: «Os jogos dele começaram a ser observados pelos três grandes portugueses e por clubes europeus. Eu conheço os observadores e jogo a jogo viam-no e faziam perguntas. Sentia que podia haver uma transferência para um clube de cá ou europeu.»

Oito jogos na Liga, um na Taça de Portugal e dois na Taça da Liga foram suficientes para convencer o Valência.

«Pensei que fosse fazer o trajeto normal, que ia primeiro jogar num grande de Portugal», admitiu José Mota, que não tem dúvidas: «Perdeu-se mais um valor na Liga, alguém que ia acrescentar qualidade a qualquer clube português.»

Se José Mota o lançou na Liga, Bruno Ribeiro posicionou-o ao meio anos antes. «Ele era lateral-direito e fui eu que o passei para central», refere ao Maisfutebol o treinador, que naquela altura trabalhava na formação do clube sadino.

«Eu cheguei com a equipa em andamento, só tinha um central e achei que ele era capaz de fazer o lugar», explicou-nos Bruno Ribeiro, que sublinha: «Quando fui treinar os seniores ele era juvenil, mas cheguei a levá-lo aos treinos.»

Rúben Vezo teve uma ascensão surpreendente. Como juvenil ou como júnior nunca chegara a uma seleção. A primeira vez que foi chamado aconteceu em janeiro, nos sub-19. O sportinguista Tobias Figueiredo não estava disponível, avançou o setubalense.

Tudo muito rápido, como rápido é José Mota a antever-lhe um futuro brilhante: «Tem capacidades para chegar a um patamar elevadíssimo e para representar a seleção nacional. Mas tem de ter um trajeto normal e perceber quais são as limitações que tem.»

Em Espanha, Vezo terá de continuar a melhorar as capacidades que estes dois treinadores lhe apontam. Mota vê-o como «rápido e com excelente posicionamento», Bruno Ribeiro com grandes capacidades «físicas e táticas». Unânimes, portanto. Ainda assim, o primeiro admite: «Tem de melhorar na concentração.»

Nas conversas com os dois técnicos, salienta-se que ambos falaram de Vezo como alguém com a cabeça no lugar, apesar de ter apenas 19 anos. Revelou Mota: «É um menino educado, respeitador e, acima de tudo, sabe ouvir. Tem todas as condições para ser um grande futebolista e um grande homem. Ele é muito responsável. É um jogador com um grande caráter.»

Acrescentou mais tarde Bruno Ribeiro: «Quando estava nas camadas jovens levava uma vida normal. Estudar, treinar, jogar, casa. Todos os miúdos gostam de sair, mas ele tinha cabeça para ser jogador.»

José Mota sente orgulho por ter dado uma oportunidade ao rapaz, Bruno Ribeiro tem o mesmo sentimento por outros motivos. «Eu saí de Setúbal para o Leeds com 21 anos. Ele vai mais cedo. O importante é agarrar a oportunidade. O primeiro desafio é a adaptação, sair não é fácil, mas ele tem três jogadores portugueses e isso facilita. Eu não tinha ninguém. Para o Vitória isto é magnífico e como setubalense fico orgulhoso.»

Vezo começou esta história com o FC Porto. Vai acabá-la com o Benfica, o último adversário de dezembro. A vida seguirá em Espanha. Não se sabe se jogará logo. Sabe-se, isso sim, que o primeiro jogo de janeiro é um Valência-Levante
. Dérbi da cidade. Difícil, claro. Mas Jackson Martínez e o FC Porto também o eram.