A 'World Cup Experts Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos do planeta para lhe apresentar a melhor informação sobre as 32 seleções que vão disputar o Campeonato do Mundo. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Autor dos textos: Stavros Drakoularakos 
Parceiro oficial na Grécia: Sport24  
Revisão: Filipe Caetano


Atacar e defender como um só. A inscrição nas camisolas da seleção da Grécia não poderia ser mais precisa. Era essa a filosofia quando Fernando Santos assumiu o lugar de Otto Rehhagel, o treinador que levou os gregos à conquista do Euro 2004. O português só teve de assegurar que não era engolido enquanto a nova geração substituía a velha guarda. E foi isso que fez.

A estratégia de Santos é baseada na disciplina e atenção tática independentemente de quem é escolhido para jogar. A formação em 4x3x3 é a mesma que levou a Grécia à glória em 2004 e não é previsível que mude. O treinador português escolheu sempre três médios (defensivo, contenção e ofensivo), apoiados por dois defesas-centrais fortes. O seu objetivo é minimizar a distância entre as duas linhas, deixando pouco espaço para passes curtos e rápidos fora da sua área e facilitando a transição para o ataque quando o adversário perde a bola.

O quarteto defensivo raramente apoia o ataque e isso dá-lhe a possibilidade de se concentrar quase exclusivamente na contenção do adversário em vez de se expor ao tentar ultrapassar o opositor pelas alas. Não será a tática mais excitante, mas garante resultados, como descobriu a Rússia no Euro 2012.

No ataque, tudo igualmente simples. Quando Giorgios Karagounis, o médio que faz a ponte entre as duas gerações do futebol grego, não está em campo, é Georgios Samaras que funciona como ponto de referência no ataque. Kostas Mitroglou abre a frente ofensiva e, juntamente com Dimitirs Salpingidis pelos flancos, são os recetores dos passes longos e cruzamentos.

Apesar de possuir chama no ataque, a Grécia depende acima de tudo da defesa. Foi assim que chegaram ao Campeonato do Mundo, tendo sofrido quatro golos em dez jogos. Foi a única forma de compensar o medíocres esforços ofensivos que resultaram em apenas dez golos marcados, enquanto a Bósnia, que ficou em primeiro lugar no grupo, chegou aos 30.

Ainda assim, este não é o núcleo da estratégia grega, mas o meio para chegar a um fim. O segredo é o espírito de equipa e a vontade para sacrificar até a beleza do jogo, impondo uma versão própria de «joga bonito». Uma versão onde um grupo de jogadores, minuto após minuto, jogo após jogo, torneio após torneio, se recusa a ceder às fraquezas da equipa, compensando-as estando um ao lado do outro e fazendo o que for necessário. Atacando e defendendo como um só.

A Grécia é assim.

Que jogador vai surpreender neste Mundial?
Kostas Manolas. Foi uma época de altos e baixos para o jogador do Olympiakos. De cada vez que entrava numa boa fase como defesa-central da sua equipa, marcando inclusivamente vários golos, acabou por cometer erros graves que colocavam o seu valor em causa. O Mundial é o palco ideal para brilhar considerando que Avraam Papadopoulos ficou de fora por estar em má forma e Kyriakos Papadopoulos está lesionado. Com o treinador a construir a tática tendo como base uma defesa sólida, Manolas não pode pedir melhor oportunidade para mostrar quem é um jogador de top.

Que jogador vai dececionar no Brasil?
Fanis Gekas. Fazendo a ponte entre duas gerações (a do Euro 2004 e a que começou no Euro 2012), foi o melhor marcador da liga grega (2004/05) e da Bundesliga (2006/07), para além de ter estado entre os melhores na fase de apuramento para o Mundial 2010. Essa foi a última vez que teve um impacto significativo no ataque grego, enquanto Salpingidis, Samaras e Mitroglou tentam retirar-lhe o trono. Era o jogador apontado para brilhar no Euro 2012 e dois anos depois não se espera muito dele para além da experiência que pode passar aos mais novos.

Qual é a expetativa real para a seleção no Mundial?
Há quatro anos o grande objetivo da Grécia, por mais triste que seja, era marcar o primeiro golo num Campeonato do Mundo, entretanto alcançado por Dimitris Salpingidis. Depois tentou conquistar o primeiro triunfo, o que veio a suceder na vitória sobre a Nigéria (2-1). Agora, os gregos almejam a primeira qualificação para a segunda fase do torneio. Será realista num grupo com Costa do Marfim, Colômbia e Japão? Saberemos a resposta a 24 de junho.



Curiosidades e segredos da seleção

Cheira a espírito de equipa
Nos recentes quartos-de-final da Taça da Grécia, Kostas Katsouranis, a jogar pelo PAOK, e Giannis Maniatis, pelo Olympiakos, lutaram a sério. Tudo começou quando Katsouranis, que tinha sido substituído alguns minutos antes e via o jogo do banco, segurou o braço de Maniatis quando ele estava a fazer um lançamento de linha lateral. Katsouranis terá ainda insultado o colega, o que não agradou ao adversário. Começaram a lutar e rapidamente a situação resvalou para uma batalha entre os jogadores das duas equipas. Maniatis e Katsouranis foram expulsos, sendo que este último acabaria por falhar a final da Taça, que foi conquistada pelo PAOK. Será que este episódio vai colocar em causa o importante espírito de equipa grego? Maniatis e Katsouranis não são só colegas de equipa, pois jogam um ao lado do outro no meio-campo, mas também foram companheiros de quarto durante toda a fase de apuramento para o Brasil. Aparentemente Maniatis ainda está zangado.

Jogos dos tronos
No início de 2014, a federação grega de futebol e Fernando Santos anunciaram que o contrato termina depois do Mundial. Devido à presença consistente nos últimos dez anos entre o top 10 da FIFA, treinar a Grécia pode ser aliciante para muitos técnicos e claro que o dinheiro também ajuda. Juande Ramos, Martin Jol, John van den Brom e Marco Tardelli surgem na lista como possível sucessores, sendo que o espanhol aparece como o principal candidato a suceder ao português.

Perfil de uma figura da seleção: José Holebas



Há poucas histórias tão interessantes como a do carismático lateral esquerdo José Holebas. O alemão de origem grega ou, por outro lado, o grego de origem alemã, fez o seu primeiro jogo como profissional a 21 de setembro de 2007, quando tinha 23 anos, embora tenha decidido deixar de jogar alguns anos antes, em 2001.

O seu pai é grego e a mãe uruguaia. José cresceu e começou a jogar futebol na Alemanha. Aos sete anos atuava na equipa local do Südring e foi atleta amador em vários clubes até 2001, quando a namorada ficou grávida e José, com 16 anos, decidiu desistir da carreira. Teve de passar a trabalhar em dois turnos como assistente de supermercado para suportar as crescentes necessidades da família. Um ano depois regressou ao futebol e desta vez para ficar. Em 2005, José ganhou destaque ao marcar 15 golos em 33 jogos pelo Viktoria Kahl, jogando a avançado. Transferiu-se para a equipa B do Munique 1860 e um ano depois assinou o primeiro contrato profissional com a equipa principal.

Foi em setembro de 2009 que o seu treinador Ewald Lienen o aconselhou a recuar no terreno para lateral-esquerdo. Passado um ano Lienen foi contratado para treinador o Olympiakos e quando chegou à equipa percebeu que precisava de um jogador para o lado esquerdo da defesa, mas que tivesse a disponibilidade para fazer todo o flanco. Foi aí que Holebas deu o grande salto para um clube que lhe dava oportunidade para mostrar o seu potencial.

Escolhido por um técnico que viria a ser despedido pouco depois devido à eliminação da Liga dos Campeões, Holebas foi muito criticado nos primeiros meses, mas acabaria por começar a fazer boas exibições e convenceu o novo treinador, Ernesto Valverde, que o usou tanto a defender como a atacar, dependendo do adversário.

Captou a atenção de Fernando Santos em novembro de 2011 depois de se tornar cidadão grego com o nome de «Iosef Holevas». Estreou-se na seleção em novembro no particular com a Rússia e entrou no lote de escolhidos para o Euro 2012. Chega ao Brasil com mais de 20 internacionalizações.