Quem viu o filme «Invictus», de Clint Eastwood, sabe certamente quem é François Pienaar. O actor Matt Damon interpretou o capitão dos «Springboks», a selecção sul-africana de râguebi que conquistou o título mundial em 1995.

Um troféu que, como o filme documenta, teve grande simbolismo. Poucos meses após o fim do Apartheid, a África do Sul consegue o seu primeiro grande feito desportivo. Após quase cinquenta anos de divisão racial, o país olhou para uma equipa sem pensar em cores ou raças. «Foi um evento muito importante para o país. Na altura não tive noção do impacto daquilo que tínhamos alcançado», reconhece François Pienaar, em entrevista ao Maisfutebol.

A carga simbólica estava presente em todos os momentos. Assim que soou o apito final, a equipa vencedora reuniu-se em oração. Pouco depois proporcionou-se uma das imagens mais fortes da história do desporto. O presidente Nelson Mandela desceu ao relvado com a camisola dos «Springboks». Nas costas apresentava o número 6, de Pienaar. O símbolo maior da luta contra o Apartheid entregava depois ao capitão o troféu conquistado. Durante alguns segundos apertam as mãos, olhos nos olhos. Estava dada a lição: a África do Sul era de todas as cores. «Sinto-me extremamente orgulhoso e honrado, cada vez que vejo essa imagem», diz Pienaar ao nosso jornal.

Um ano depois o desporto sul-africano volta a embalar um país em reconstrução. A selecção de futebol conquista a Taça de África das Nações. Quinze anos depois, organizam o Campeonato do Mundo. É a terceira etapa da afirmação de um país, e não apenas na vertente desportiva. «O desporto é muito poderoso, e deu-nos a oportunidade de mostrar ao resto do mundo aquilo que conseguimos, mesmo sendo uma jovem democracia», explica o capitão dos «Springboks» de 95.

A questão da segurança não será um problema, durante o Mundial 2010, garante Pienaar. «Todos os países têm problemas nessa área, e nós não somos diferentes. O crime violento é inaceitável, que se reflectiu de forma muito negativa na imagem do país, mas estamos a trabalhar arduamente para combater isso. Se os turistas tiverem sensibilidade e seguirem os conselhos, vão ter uma óptima estadia.»

«Adoro Portugal!»

A pergunta era inevitável. Será que François Pienaar conhece o nosso país? «Adoro Portugal!», foi a resposta. «Já lá estive muitas vezes. Adoro o país e as pessoas», acrescentou, antes de deixar um palpite sobre a nossa Selecção: «Penso que tem boas possibilidades de passar a fase de grupos. Depois é 50/50.»

Pienaar encerrou a carreira de jogador em 2000, por terras inglesas. Dois anos depois voltou para a África do Sul. Vive na Cidade do Cabo e tem uma fundação, a MAD (Make a Difference), que procura dar oportunidades de formação a jovens com talento, mas que não tinham condições para seguir esse trajecto. «Fundei a MAD por acreditar na importância da educação, e por entender que a África do Sul precisa de trabalho qualificado. A educação é um elemento-chave para ajudar o país a tirar proveito do seu potencial», explica.

Veja o primeiro grande feito do desporto sul-africano, após o final do Apartheid: