PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. Cultural, quero crer. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura, no teatro. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Mas não só. Ideias soltas, reflexões comuns, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera das nossas prioridades. PLAY.

SOUNDCHECK:

«MISSÉ-MISSÉ», SENSIBLE SOCCERS. Não custava nada saltar da cama. O entusiasmo era (ainda é) o mais fiável despertador. Comia-se um pão com tulicreme, bebia-se um copo de leite com Cola Cao e lá íamos nós para o nosso campo de todos os sonhos.

Dois paralelos no topo da rua, mais dois na esquina oposta, dez futebolistas de sapatilhas rotas, cabelo desgrenhado e camisolas costuradas com os números da moda. O 9 era o Domingos, o 7 fazia de Paneira, o 10 vestia à Balakov.

Mudava aos cinco, acabava aos dez, o gordo não saía da baliza. Das 8h30 ao meio-dia, religiosamente, era este o programa das festividades. Almoçava-se à pressa, ao som de uma novela brasileira [Vereda Tropical, Top Model] e fazia-se a digestão na casa do lado.

Cinco/seis putos, um Commodore Amiga e dois joysticks. Tudo pronto para mais um torneio de Sensible Soccer. Um videojogo inesquecível, avançadíssimo para uma fase em que muitos ainda afinavam os gravadores do Spectrum.

Há poucos meses ouvi falar desta banda: Sensible Soccers. São quatro músicos, de Vila do Conde e São João da Madeira. Eram (são?) viciados no jogo que lhes deu o nome. A sonoridade e a iconografia insinuam-se ao mundo da bola.

O single Fernanda junta um relato de Gabriel Alves à pauta musical. A minha favorita, porém, é esta Missé-Missé. Sim, o camaronês que jogou (mal) no Sporting em 1996/97. Uma delícia!



SLOW MOTION:

«QPR - THE FOUR YEAR PLAN». Novembro de 2007. Flavio Briatore e Bernie Ecclestone, magnatas da F1, assumem o controlo do Queens Park Rangers. Histórico, falido, desprestigiado.

O realizador Mat Hodgson filma o dia-a-dia do QPR a partir desse instante até à sofrida subida à Premier League. Caros amigos, isto é dinamite. Isto é violação de privacidade, pura, dura e intensa.

Futebol, negócios, machismo, esquemas, paixão. Briatore é um milionário lunático, sem qualquer conhecimento sobre este desporto. Para ele, todo e qualquer treinador é um «fucking hooligan!». Ecclestone junta-se à matilha de hienas, ávidas por glória.

Paulo Sousa, o treinador português, é apanhado no meio de fogo cruzado. A saída do melhor marcador da equipa, Dexter Blackstock, para o Nottingham Forest, apressa o despedimento do manager luso. A cena é brilhante e acaba com o diretor desportivo a chamar «idiota!» a Sousa.



Esta é a viagem mais real, pura e hermética ao âmago de um clube profissional. Visionamento obrigatório.



VIRAR A PÁGINA:

«FEVER PITCH», de Nick Hornby. Publicado em 1992, a obra-prima de Hornby permanece assustadoramente atual. O autor é apaixonado pelo Arsenal, um gooner inflamado e irracional. Adora Liam Brady, sofre demasiadas vezes e encontra no humor o seu porto de abrigo, o refúgio inesperado.

O livro vendeu um milhão de cópias no Reino Unido e deu origem a dois filmes. Colin Firth interpreta Hornby. A intriga culmina num duelo entre Arsenal e Liverpool, 26 de maio de 1989. Michael Thomas (ex-Benfica) faz um golo, os gunners vencem o título.

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas, livros e/ou peças de teatro através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.