Sol Campbell anunciou nesta segunda-feira que pretende ser candidato na eleição para presidente da Câmara Municipal de Londres. Com a carreira de futebolista terminada há quatro anos o antigo jogador decidiu ir para a política – algo que não é inédito e que, pelo contrário, tem nomes bem conhecidos com presença em ambos os lados.

Do atual primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, ao liberiano George Weah, ou do histórico jogador do Milan Gianni Rivera até ao selecionador belga Marc Wilmots, os percursos são diferentes, mas qualquer um deles tem o currículo marcado pela passagem nos dois mundos.

Boris Johnson, atual presidente do município londrino, já anunciou que tem outros objetivos político a partir de 2016, quando acaba o seu mandato. O autarca deixa caminho aberto à sua sucessão no Partido Conservador e Sol Campbell decidiu avançar.

«Sei que não serei um favorito. Mas olho para as pessoas que têm estado na política nos últimos cinco, dez, quinze anos e vejo que estragaram muita coisa. Era suposto serem profissionais, não?», afirmou em entrevista ao jornal «The Sun» o antigo internacional inglês 73 vezes.



Defesa central que deixou zangados os adeptos do Tottenham quando se mudou para o Arsenal, Campbell jogou ainda no Portsmouth e no Notts County e terminou a carreira no Newcastle em 2011. O presente é o tempo de pensar em política e as rivalidades clubísticas londrinas já não fazem sentido para o antigo jogador, agora com 40 anos.

«Se continuarmos a pensar em futebol não vamos conseguir fazer nada. Estamos a lidar com as vidas das pessoas. Eu quero mudar Londres para todos», afirmou Campbell, que quer ser o candidato que os conservadores vão escolher daqui a cerca de um mês.

À «BBC» o grupo «Way Forward» do Partido Conservador confirmou que Campbell já está inscrito no congresso que vai definir o nome da candidatura «tory» à autarquia londrina.

A passagem do futebol para a política tem no Brasil um território fértil em exemplos. Ainda nas últimas eleições, antigos jogadores como Romário, Bebeto e Mário Jardel – que forma eleitos, respetivamente senador, deputado federal e deputado estadual, como então.

Antes destes três avançados mais famosos (do que outros futebolistas-políticos do seu país) já outros brasileiros não menos conhecidos se tinham dedicado à governação. Os casos de Pelé ou de Zico são os mais referenciados pela fama das personagens. O «rei» foi o primeiro ministro do Desporto que o Brasil teve quando criou um ministério próprio (1995).

Quando o desporto brasileiro ainda era tutelado pelo ministério da Educação, Zico foi secretário do Desporto (1990) na presidência de Collor de Melo. Cá por Portugal, a tradição é diferente e as águas estão bem mais separadas. Em 2009, Marco Caneira tentou a carreira política, mas o antigo internacional luso perdeu a eleição para uma Junta de Freguesia na linha de Sintra.



Um dos casos mais noticiados dos últimos anos aconteceu na Libéria coma personalidade mais conhecida do país, cuja fama mundial foi ganha no futebol. George Weah foi Bola de Ouro em 1995 quando teve o seu período mais dourado ao serviço do Milan. Deixou de jogar em 2003.

Com a Libéria finalmente a conseguir ultrapassar as guerras civis que martirizaram o país, Weah fundou o partido Congresso para a Mudança Democrática e foi candidatopresidencial em 2005. O antigo ponta de lança passou à segunda volta, mas os cerca de 40% de votos obtidos ditaram a derrota na eleição.

Weah prossegiu na política e, após eleições locais e participção em listas de outros sufrágios, o futebolista mais famoso do país é atualmente senador da Libéria.



A carreira de Viktor Orbán no futebol não é a mais conhecida de todas. Mas, na política, o primeiro-ministro da Hungria tem-se dado bastante a conhecer. Antes das controvérsias políticas em que, muitas vezes, se tem visto envolvido, Orbán dedicou muito da sua vida ao futebol, quer como jogador, quer como dirigente.

Jogador desde tenra idade fez carreira futebolística no Felcsut, o clube da sua terra natal, que ajudou posteriormente a desenvolver a par do futebol do país, com grandes investimentos na modalidade e ao nível das suas infraestruturas – um dos pontos das polémicas em que se vê envolvido pelos custos envolvidos.

Entre opositores ou defensores das suas decisões, a Academia de Futebol Ferenc Puskas teve o primeiro-ministro da Hungria como um ator principal na sua edificação.



Na Polónia, há o exemplo de Grzegorz Lato, o jogador nacional mais famoso até aparecer Zbigniew Boniek. Mesmo assim, Lato está nos corações polacos como o melhor marcador da sua seleção no Mundial de 1974 que ficou no terceiro lugar. Depois do futebol Lato abraçou a política chegando ao Senado da Polónia. Mas voltou ao desporto como presidente da federação polaca sendo despois sucedido no cargo por Boniek.

Também direto do final de carreira como jogador foi Marc Wimots, o atual selecionador da Bélgica. Mas o antigo médio não aqueceu muito tempo o lugar no Senado belga. E voltou ao futebol. Ainda no domingo, os seus «diabos vermelhos» ganharam 4-3 em França.


Oleg Blokhin também enche o futebol ucraniano de orgulho; mesmo que mais pelos seus tempos de jogador da antiga União Soviética. Selecionador da Ucrânia até ao ano passado – sobrevivendo à eliminação da equipa nacional logo na primeira fase do Euro 2012 organizado conjuntamente por ucranianos e polacos – Blokhin está agora desempregado.

Pelo meio e sem deixar de ser treinador de clubes, Blokhin esteve em dois mandatos no Parlamento da Ucrânia (como um de outros exemplos – como é o de Roman Pavlyuchenko, enquanto jogador do Tottenham eleito para a Assembleia Municipal de Stavropol, na Rússia).



O final dessa lista de recordações está reservado para um italiano. E não é Silvio Berlusconi. Ao seu lado na fotografia está Gianni Rivera, um dos jogadores mais míticos do Milan, com meio milhar de jogos pelos «rossoneri», entre os quais estão os dois primeiros títulos europeus de clubes do emblema lombardo – além de vários outros títulos nacionais e internacionais.

Rivera deixou de jogar em 1979. Mas não deixou o Milan. Passou de imediato para a direção sendo vice-presidente quase uma década. Foi depois para a federação italiana. A política chegou a seguir. O antes talentoso médio foi eleito deputado por vários mandatos, com Romani Prodi chega à (sub)secretaria de Estado da Defesa (cargo que repete em mais dois Executivos) e, mais tarde, foi eleito deputado europeu.

Para ombrear o trajeto político com a carreira de futebolista, a Rivera só falta ganhar um lugar no Senado italiano. Falhou a eleição em 2013.