O presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, alertou que diminuir a despesa pública «é um exercício dificílimo», que requer «bom senso», sublinhando que cortes grandes e imediatos poderão «desestruturar» a sociedade portuguesa e fazer «cair tudo».

«Quando temos a despesa pública numa dimensão gigantesca, há muitos anos, é evidente que temos a sociedade estruturada de uma forma errada e, portanto, nem que queira, não posso resolver o problema no imediato, porque se resolvo o problema no imediato e começo a cortar tudo aquilo que em tese devia ser cortado, eu desestruturo tudo, cai tudo», disse o antigo secretário-geral do PSD, durante uma conferência do International Club of Portugal, afirmando que é isso que conclui também da sua «experiência de observação daquilo que o Governo tem feito».

Para o autarca do Porto, a solução é «criteriosamente escolher a despesa que tem menor efeito multiplicador».

«É um exercício dificílimo, requer muita experiência e muito bom senso. É escolher aquela [despesa] onde podemos cortar com menor efeito multiplicador, onde os danos são menores. Porque se o aumento de impostos pode ter efeito sobre o andamento da economia, o corte na despesa pública imediato também tem efeitos muito parecidos. Temos de ter esse cuidado», acrescentou.

O presidente da Câmara do Porto defendeu ainda que os partidos têm de ter a «grandeza de esquecer que há eleições amanhã» e chegar a consensos para fazer «ruturas profundas que salvem o regime».

Para Rui Rio, «ou a sociedade, em particular os partidos políticos, conseguem ter a grandeza de esquecer que há eleições amanhã, a grandeza de perceber [a situação atual] e chamar outras pessoas que sabem a colaborar, e consensualizam ruturas profundas no regime que salvem o regime», ou «isto não pode acabar bem e não vai seguramente acabar bem».

«Porque eu não conheço outro regime que não seja este, que me satisfaça (...). E, portanto, é bom que se adapte este regime aos tempos que correm, às mudanças que a sociedade teve para podermos salvar aquilo que é fundamental na nossa vida, que é a democracia, que é a liberdade, que é o desenvolvimento, que é aquilo em cima do qual a democracia se sustenta», acrescentou.

«Os partidos políticos têm de se entender, designadamente os três do eixo democrático, para fazer reformas profundas no regime que lhe volte a dar governabilidade e credibilidade perante os portugueses. E que volte a permitir que o regime salvaguarde aquilo que ele próprio quer salvaguardar e já não consegue justiça social», disse o também ex-secretário-geral do PSD, referindo a seguir o «desenvolvimento», a «democracia», a «liberdade» e a «igualdade de oportunidades».

Para o autarca do Porto, «tudo isto que é suposto este regime fazer não está a conseguir fazer atualmente», sublinhando que quando diz «atualmente não é este mês», mas «a evolução que o regime tem tido» nas últimas décadas.

«E portanto ou se fazem aqui reformas profundas e ruturas profundas em consenso, mas percebendo-se que tem se alterar profundamente, ou então não vejo como podemos no futuro ter governabilidade e capacidade de ultrapassar os problemas gravíssimos que estamos a ter», insistiu.