Um nome português. Um nome português salta à vista num plantel recheado de nomes gregos. Daniel Fernandes é guarda-redes e joga no PAOK de Salónica. Cumpre a segunda época num país contrastante com a serenidade típica da cultura lusitana e já tem na bagagem um percurso recheado de clubes sonantes, apesar dos seus 20 anos (nasceu a 24/10/1983). Esteve dois anos nas camadas jovens do F.C. Porto, um ano e meio no Celta de Vigo, seis meses na Alemanha e nasceu no Canadá. Tem dupla nacionalidade. Um trajecto recheado altos e baixos. Uma autêntica aventura.
«Se calhar, não me vai perceber bem, mas vou fazer um esforço para ser compreendido», alerta Daniel Fernandes ao Maisfutebol. As suas dificuldades para articular a língua de Camões são perceptíveis nas primeiras palavras: «Só comecei a falar português aos 16 anos, quando cheguei ao F.C. Porto». Filho de pai português e de mãe checoslovaca começou a jogar futebol no Canadá, onde «a modalidade é pouco praticada» por factores inerentes à própria cultura desportiva. Aos nove anos era avançado, mas aos 15 começou a aperfeiçoar o gosto pela baliza. «Sempre fui alto e forte. Talvez por isso comecei a ser guarda-redes».
Um ano depois a vida muda. A família de Viana do Castelo regressa a Portugal e o jovem depara-se com uma realidade diferente. Não falava a língua, mas tinha uma paixão: «Sempre fui do F.C. Porto, é o clube do meu coração. Já no Canadá dizia que um dia haveria de jogar no F.C. Porto». O sonho cumpriu-se. Treinou à experiência e integrou o plantel júnior. Tinha como rival o promissor Bruno Vale e a luta pela titularidade era um tormento. «É muito meu amigo. Tal como o Hélder Postiga. Jogámos todos juntos».
Aventura no Celta de Vigo
No segundo ano de júnior chegou a ser titular, treinava-se na equipa B, mas a intermitência com que era utilizado levou-o a traçar outra trajectória. «Umas vezes jogava, outras não. Achei que era melhor mudar. Apareceu-me a oportunidade de ir para o Celta de Vigo e aceitei». Hoje arrepende-se: «Fui burro, muito burro». Iludido por um empresário alemão chegou à Galiza em Julho de 2002 para integrar os quadros da equipa B. «Foi um período muito bom. Treinava com a equipa principal, cultivei uma amizade com o McCarthy que dura até hoje. Um excelente profissional com quem costumo falar assiduamente».
Daniel Fernandes tinha sonhos, mas que se esfumaram num instante. «O meu empresário não se dava bem com o presidente do Celta e acabei por sair. Prometeu-me um contrato com o Eintracht Frankfurt, mas acabei por não assinar. Era tudo mentira. Ele era louco e estragou-me a vida». Sem alternativa, chegou a acordo com o Jahn Regensburg, um conjunto dos escalões inferiores, mas queria integrar uma equipa que lhe permitisse adquirir uma maior experiência competitiva. «Surgiu a hipótese de representar o Hannover, mas seria terceiro guarda-redes. Não aceitei e fui para o Canadá durante dois meses».
Nesta altura, vive um período difícil. «Não joguei em nenhum clube. Treinava com um amigo e jogar futebol era uma simples brincadeira». Perspectivava o regresso a Portugal para relançar a carreira até que um amigo, com ligações ao futebol grego, sugere-lhe a hipótese de representar o PAOK de Salónica. Chegou em Janeiro de 2004 e assinou um contrato de três épocas. «Na época passada estive para jogar nas duas últimas semanas do campeonato, mas tal não foi possível. Não desisto. Sei que a minha oportunidade há-de chegar». Este é o novo desafio da sua carreira.