Moutinho

Olha-se para a Espanha: Xavi e Iniesta devem ter a mesma altura; o talento de ambos também é comparável; o de Moutinho, jogador tão alto como aqueles dois, também foi. Roubou bolas, pressionou, não deixou jogar e fez jogar, correu imenso. Foi um TGV, sempre em grande velocidade, entre o meio-campo português e o espanhol, por onde andou a defender e a atacar, como se viu nas assistências para Postiga. O desempenho de Moutinho foi uma das chaves do bom jogo de Portugal, pois o médio fez uma grande partida, ao nível do que já vimos em Iniesta e Xavi, dois candidatos à Bola de Ouro. O camisola oito português também merecia uma nesta noite, mas, para que não se entre num exagero, chega dizer que foi o melhor em campo. E no meio de tantas boas exibições e campeões do mundo, é dizer muito.

Meireles

Deixou de ser 8 para ser 6 e, com isso, Portugal mudou de face. É justo dizer que a atitude global mudou, mas é a posição 6 que marca a principal diferença entre a «era Queiroz» e a «era Paulo Bento», no quanto é delas comparável até agora. Com Meireles a pivot, Portugal não perde na defesa e ganha muito no ataque: a técnica do médio do Liverpool, mais habituado a jogar no meio do que Pepe, por exemplo, dá uma qualidade de saída de bola à selecção do que aquela que tinha com o central do Real Madrid. Nesta noite, mostrou que, mesmo perante o meio-campo mais tecnicista do mundo, é uma arma a ter em conta, a cortar linhas de passe, a fechar o miolo e a dar oportunidade aos extremos e médios de saírem para os rápidos ataques.

Nani

Impossível não pensar naquele lance, naquele melhor «não-golo» de Cristiano Ronaldo, estragado por Nani. Uma jogada tão disparatada que, no final da primeira parte, tudo o que bom mostrara, e não fora pouco, tinha ficado esvaziado no minuto 37. Nani até podia não estar em fora-de-jogo; Nani até podia ter cabeceado com a bola para lá da linha de golo; o que Nani não podia era ter tirado um grande golo a Ronaldo, ao induzir a arbitragem em erro. De resto, foi sempre um perigo na direita portuguesa, de onde partiu para desequilíbrios constantes e remates perigosos, menos um, quando estava perante Casillas e tentou fazer-lhe um chapéu: fez um passe e irritou uma plateia que vibrou com malabarismos do 17.

Ronaldo

Começou o Clássico com o Barcelona um pouco mais cedo que todos os outros. A excepção foi Busquets, com quem se picou logo ao minuto 8. Vingou-se do catalão no instante seguinte e passou muito tempo queixoso. Também passou muito tempo sem fazer grande coisa, até que fez uma maior que todas as outras, ao minuto 37, num «Panenka» em bola corrida. Teve razão em ficar chateado com Nani, mas voltou à carga no lance do golo, num excelente trabalho sobre Busquets para depois deixar Casillas a deitar fumo das luvas. A bola sobraria para Martins e o 1-0 apareceria, numa altura em que Ronaldo já era Ronaldo.

Carlos Martins e Postiga

Martins fez uma partida em crescendo. Passou muito tempo como o sinal menos na equipa e isso notava-se quando, ao lado, estavam as exibições de Moutinho e Meireles. Mas começou a pegar na bola e aquele corte de Piqué sobre a linha de golo já indicava que Martins estava no jogo. Logo a seguir, gritou e de que maneira um golo que Portugal já merecia. O mesmo fez Postiga no 2-0 e no 3-0. Um bis de um avançado que está cada vez mais feliz e que mostrou por completo que mereceu a titularidade.

Três do Barça

Iniesta foi o melhor na selecção espanhola, aquele que mais perto esteve da Bola de Ouro, ao contrário de Xavi que andou muito desaparecido no encontro. Depois, houve ainda tempo para vislumbrar um pouco do Barça-Real Madrid. Busquets e Piqué andaram em cima de Ronaldo, levaram ambos dois grandes nós, mas também não perderam muito mais. Dia 29 prossegue a batalha, na Catalunha.