Por outro lado, os investimentos especulativos, encontrando terreno para actuar, não são ainda centrais no preço.
Desde o início de 2008, em cerca de quatro meses e meio, os preços dos contratos para o milho subiram 32,5 por cento; os do trigo 33,5%; e os contratos para a soja aumentaram 5,5%.
O Deutsche Bank justifica esta evolução dos preços sobretudo por factores estruturantes: «No mundo dos bens agrícolas, os rácios entre stocks e consumo, nas principais commodities, tem vindo a cair nos últimos anos, o que demonstra bem a alteração (profunda)do mercado».
O maior banco alemão prevê que este movimento possa ainda «agravar-se no futuro», admitindo ser este o cenário «mais provável» na sua opinião, sem que a instituição financeira ponha a tónica da pressão de subida dos preços nos especuladores.
«Temos de nos deixar de desculpas. É uma falácia. A culpa não é dos especuladores», disse à «Lusa» o analista Alexandre Mota, da Golden Assets.
O peso dos factores demográficos e climáticos
A especulação «é um factor inerente» à actividade dos mercados, referiu João Queiróz, da L. J. Carregosa, assegurando tratar-se de «mais um factor», mas não determinante para explicar a subida acentuada dos preços dos produtos agrícolas.
«O que é estruturante no aumento dos preços é a explosão demográfica mundial (que passou de 4,1 milhões de habitantes em 1975, para cerca dos actuais 6,1 milhões, prevendo-se que atinjam os 8 milhões em 2025), a adopção pela China e Índia do modelo alimentar ocidental (à base de carne, lacticínios e derivados), as alterações climáticas e a falta de solo arável devido ao avanço da urbanização e à falta de água», adiantou o analista.
Além disso, destacou o aumento de rendimento das populações nos países emergentes e a quebra de stocks face à oferta a que acresce a procura de energia (biocombustíveis-biodiesel e bioetanol), tendo por base os bens agrícolas, caso do milho (Estados Unidos), da soja e do açúcar (álcool) proveniente da exploração cana-de-açúcar (Brasil).
Em declarações à «Lusa», o subdirector do Banco Invest, Paulo Monteiro, justificou também a subida dos preços devido a factores estruturantes, mas realçou que o «boom» dos preços dos bens agrícolas coincidiu com a crise nos mercados financeiros.
No entanto, admitiu que os mercados de acções e obrigações «estão cada vez mais voláteis».
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