A primeira grande crise do capitalismo ocorreu há precisamente 79 anos, no dia 24 de Outubro de 1929.

Era um sinal de que algo ia mal no domínio da produção económica, com o ritmo industrial e agrícola a não ser acompanhado pelos salários de grande parte dos trabalhadores.

Depois dos «loucos anos 20», o mundo viveu uma longa ressaca, simbolizada pela célebre quinta-feira negra, dia em que foram colocadas à venda na Bolsa de Valores de Nova Iorque 13 milhões de acções, com poucos compradores para responder.

A natural queda a pique dos preços das acções gerou o pânico e o célebre «crash» financeiro, que tem sido muito citado por especialistas para traçarem comparações com a actual crise financeira.

Efeitos duradouros

Fruto da especulação de títulos, a enorme crise mostrou que sempre que as acções ultrapassam em muito a real situação das empresas, a conjuntura encarrega-se de equilibrar as variáveis que, neste caso, teve efeitos dramáticos: além do descalabro financeiro, houve uma diminuição do poder de compra, dispararam as falências e o desemprego, com o comércio internacional a atingir a recessão.

Nos dez anos seguintes, 13 milhões de americanos perderam os seus empregos, 20 mil empresas declararam a bancarrota, incluindo 1.615 bancos.

Naquele que é considerado o pior ano da Grande Depressão, 1932, 23 mil norte-americanos cometeram suicídio em resultado da enorme crise.

O cenário está a repetir-se?

Perante a actual turbulência financeira, são várias as vozes que recordam as marcas desta época, nomeadamente o antigo director-geral do Fundo Monetário Internacional, Rodrigo Rato, que já equiparou a actual crise à vivida em 1929.

No entanto, o mesmo responsável, que falou em Setembro numa universidade italiana, reconheceu que não se irá assistir a uma recessão porque as economias estão melhor preparadas.

Para Rato, não há dúvida de que os Estados Unidos «são a origem do problema da actual crise económica» e elogia a reacção dinâmica das autoridades americanas: «Têm feito um esforço substancial» e as medidas adoptadas são vistas, pelo mesmo, como «históricas».

Na altura, o economista António Borges reagiu a estas declarações, afirmando ser «um grande exagero» esta afirmação. No entanto, o mesmo responsável reconheceu que tem de haver uma correcção no mercado e isso passa pelo desaparecimento de instituições e pela fusão de outras.

«A fusão é a forma mais fácil para resolver problemas financeiros e é melhor do que uma falência», disse.

A 2.ª Guerra Mundial ainda na memória

Por cá, diversos banqueiros e empresários também não esquecem 24 de Outubro de 1929. O presidente do BPI, em entrevista também no mês passado à «RTP1», reconheceu que a actual crise pode ser entendida como a mais grave ao nível dos mercados financeiros desde 1929, mas não ao nível económico. «Estamos longíssimo disso acontecer», sintetizou Fernando Ulrich.

Apesar de não conseguir prever um fim para a situação actual, Ulrich disse acreditar que a mesma está a ser resolvida e que o mercado tem mostrado agilidade na sua resolução: «Os ajustamentos são muito rápidos, a realidade é bastante ágil nos mercados anglo-saxónicos», explicou.

Já o especialista e ex-presidente da Reserva Federal norte-americana, Alan Greenspan, que nasceu três anos antes do «crash», preferiu caracterizar a actual depressão financeira como a pior desde a Segunda Guerra Mundial.

Quase oito décadas depois, os mercados financeiros voltam a estar instáveis. É o caso do PSI20 que está a perder esta sexta-feira 5,73%, estando já abaixo dos seis mil pontos. As conjecturas para os próximos tempos adivinham-se, por isso, difíceis.