O pressentimento andava pelo ar e decidimos fazer um levantamento: afinal, a seleção de Portugal é ou não a mais fustigada, em termos físicos, no Campeonato do Mundo de 2014. A resposta não deixa margem para dúvidas: sim. 

Justificar este cenário com uma má fortuna será redutor. Nos próximos dias, continuará a ser discutida a preparação da Seleção Nacional e a condição física anterior dos 23 jogadores convocados por Paulo Bento.

Os números são claros. Nenhuma outra seleção perdeu cinco elementos por lesão desde que a bola começou a rolar no Brasil. Hugo Almeida, Fábio Coentrão, Rui Patrício, Hélder Postiga e André Almeida sucumbiram na sequência dos encontros disputados em solo canarinho.

Os selecionadores podiam efetuar alterações nas suas listas até 24 horas antes do primeiro compromisso na prova. Surgiram vários casos do género, mas nenhum na equipa portuguesa. Os problemas chegariam ao virar da esquina.

Paulo Bento manteve os seus 23 mas perdeu 3 na goleada frente à Alemanha: Hugo Almeida e Fábio Coentrão foram substituídos durante o encontro e o lateral regressou a casa. Rui Patrício terminou o jogo com limitações e falhou, tal como Hugo Almeida, o embate com os Estados Unidos. 

 

Frente aos norte-americanos, foi a vez de Hélder Postiga e André Almeida sucumbirem a lesões impeditivas, acabando por abandonar o relvado precocemente.

Observando o panorama geral, a Austrália será aquela que mais se aproxima de Portugal. Porém, teve apenas três lesões desde que entrou em campo. Franjic lesionou-se frente ao Chile e regressou a casa. Bresciano e Milligan contraíram problemas físicos mas o primeiro ainda foi suplente utilizado na despedida frente à Espanha, ao contrário do segundo.

A seleção espanhola, curiosamente, também lidou com alguns questões de ordem física já durante a competição, para além daquelas que vinham de trás. Xavi foi titular no primeiro encontro, mesmo com dores nas costas, passando depois para o banco. De Gea falhou os três jogos por lesão, Piqué não disputou o terceiro pelo mesmo motivo. Já Diego Costa jogou os primeiros, embora essa seja outra questão: estava de facto em condições?

O Uruguai não contou com Luis Suárez no primeiro jogo (fazendo com que a lesão do avançado tenha sido considerada impeditiva), regressando em grande estilo no segundo. Lugano, entretanto, apresenta uma lesão num joelho.

De Rossi é a preocupação mais recente na seleção de Itália, devendo falhar o jogo com o Uruguai, precisamente. De Sciglio, por seu turno, lesionou-se antes do primeiro encontro, frente a Inglaterra, acabando por ficar no grupo.

Nigéria (Reuben e Oboabona) e Costa do Marfim (Ya Konan e Arthur Bolka) também apresentam um panorama clínico com dois nomes cada. As restantes seleções têm um cenário ainda mais desanuviado. Isto - reforça-se - tendo em conta as lesões apresentadas após o pontapé de saída do Mundial e que tenham impedido os jogadores de estar em campo. Não contam, naturalmente, as baixas de final de maio ou início de junho.


Paulo Bento divulgou a lista final a 19 de maio e a seleção concentrou-se dois dias mais tarde. Enquanto uma praga de lesões parecia afetar grande parte dos finalistas do Mundial, provocando baixas e alterações nas listas, Portugal resistia com o mesmo grupo.

O estágio de preparação ficou marcado por alguns problemas físicos, para além da mediática questão de Cristiano Ronaldo. No total, registo para catorze jogadores no boletim clínico da Federação Portuguesa de Futebol entre o primeiro treino em solo lusitano e o segundo jogo no Brasil.

Naturalmente, uma mialgia não deve ser encarada com uma situação preocupante, mas pode indicar fadiga que potencie o surgimento de lesões. Hélder Postiga foi o único jogador a apresentar uma limitação no estágio (mialgia de esforço nos adutores) a 2 de junho e a lesionar-se no decorrer da competição, vinte dias depois.

É curioso verificar o quadro num adversário direto de Portugal. A Alemanha também se debatou com várias limitações na fase de preparação. Schmelzer e Bender estavam na pré-convocatória de 27 mas foram excluídos por questões físicas e substituídos, tal como Marco Reus, que sucumbiu a uma rotura muscular a 7 de junho. Neuer, Lahm, Khedira, Boateng, Klose, Hummels e Schweinsteiger chegaram ao Mundial com limitações mas quase todos recuperaram. Hummels foi substituído frente a Portugal depois de marcar um dos golos e Schweinsteiger – não utilizado frente à equipa das Quinas – saltou do banco na segunda jornada. Ou seja, um número considerável de problemas físicos mas apenas duas lesões impeditivas desde que a bola começou a rolar.

O Gana, derradeiro adversário de Portugal na fase de grupos, debate-se apenas com as lesões de Opare (reforço do FC Porto para a próxima temporada) e Waris, enquanto os Estados Unidos enfrentaram a seleção lusa sem Jozy Altidore – lesionado no embate com os africanos – e Timmy Chandler, de baixa desde 12 de junho. 

Em suma, é inegável que a prestação nacional ficou afetada pelas lesões e pelas limitações evidentes de alguns jogadores. Os boletim clínicos divulgados pela Federação deste o início do estágio confirmaram a existência de 14 problemas musculares, graves ou pontuais.

Para além dos jogadores utilizados de início frente a Alemanha e Estados Unidos - veja a descrição nas imagens apresentadas neste artigo - nota ainda para os constrangimentos passageiros de Ruben Amorim (tendinopatia na inserção proximal dos adutores a direita, entre 26 e 29 de maio), William Carvalho (mialgia na coxa direita, entre 27 e 28 de maio) e Silvestre Varela (mialgia de esforço nos isquitibiais, 2 de junho).

LESÕES IMPEDITIVAS (5):
Hugo Almeida, Fábio Coentrão, Rui Patrício, Hélder Postiga, André Almeida

PROBLEMAS FÍSICOS SEM LESÕES IMPEDITIVAS (9)
:
Cristiano Ronaldo, Raul Meireles, Bruno Alves, Pepe, Beto, Ruben Amorim, William Carvalho, João Moutinho e Silvestre Varela.

JOGADORES SEM REGISTO DE PROBLEMAS FÍSICOS (9)
:
Eduardo, João Pereira, Ricardo Costa, Neto, Miguel Veloso, Rafa, Vieirinha, Nani e Éder.