Pode o futebol ser ainda mais do que um desporto que move paixões e atrai multidões? Acreditem que pode.

Pode, até, ser uma espécie de medicamento que previne problemas graves de saúde.

André Seabra, professor na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP), antigo treinador da formação do Boavista, sempre teve essa perspetiva dos benefícios que o desporto-rei poderia ter: além de constituir, para milhões de pessoas, o principal foco de interesse, como adeptos e/ou como praticantes, o futebol pode, verdadeiramente, fazer bem à saúde.

Um estudo liderado por André Seabra quis mostrar que o futebol pode mesmo ser usado como arma terapêutica com miúdos, para combater a obesidade e problemas associados.

O projeto, iniciado na FADEUP, acabou por merecer o apoio institucional da Federação Portuguesa de Futebol e da UEFA.

O selecionador nacional, Paulo Bento, e o central do Valência Ricardo Costa (atualmente nos 23 de Portugal a preparar o Mundia e produto da formação do Boavista, onde foi orientado por André Seabra) têm sido outros dois importantes apoios para esta caminhada de promoção de um trabalho que mostra, com dados objetivos, os benefícios do futebol para a prevenção da obesidade infantil.

André Seabra, apaixonado pelo futebol enquanto praticante, treinador e agora como investigador, decidiu submeter à UEFA um projeto de investigação que se intitulava «O Efeito do Futebol recreativo na promoção da saúde e qualidade de vida de crianças obesas».

Em 59 candidaturas, a UEFA deu luz-verde ao apoio deste projeto. Trata-se de uma ação multidisciplinar, que envolve profissionais do desporto, medicina, nutrição, psicologia e farmácia.

«A ideia de estudar a eficácia do futebol na saúde e qualidade de vida da criança obesa resultou do fato deste desporto ser inquestionavelmente um dos desportos mais populares e praticados no mundo inteiro, ser económico (apenas exige uma bola para a sua prática), ser acessível a todas as classes sociais (joga-se em qualquer espaço desportivo), ser fácil de praticar (tem regras simples), e ser capaz de oferecer a todas as crianças e jovens, independentemente do seu peso corporal, oportunidades de diversão, recreação e sucesso», observa André Seabra, em declarações à Maisfutebol Total.

Três vezes por semana durante meio ano

E em que consistiu, então, o projeto? Colocou crianças obesas (com 10 anos de idade) a jogar futebol durante seis meses: três vezes por semana, em sessões de 60-90 minutos. Estas crianças foram contrastadas com outras crianças obesas que não praticavam qualquer atividade desportiva organizada.

E os resultados do estudo, já devidamente expostos em Nyon, na sede da UEFA, foram claros: o futebol é inquestionavelmente uma estratégia eficaz na promoção de saúde e qualidade de vida de crianças obesas.

«O futebol um desporto muito popular junto das crianças em todo o mundo», observa André Seabra. «Sendo económico (não necessita de grandes infraestruturas e equipamentos para a sua prática) e facilmente implementado (pode ser jogado em qualquer lado); tendo regras relativamente simples (entendíveis por todos, em diferentes idades) e respondendo na perfeição às linhas de recomendação para a saúde que nos são propostas pela OMS, este estudo comprova que o futebol deve passar a ser considerado como uma importante estratégia de saúde pública no combate à obesidade infantil», acrescenta o professor da FADEUP.

Futebol como medicamento


«O futebol é um jogo coloca aos seus praticantes exigências muito específicas e e que respondem na perfeição às linhas de recomendação que a OMS nos propõe para a saúde», observa André Seabra, para depois explicar: «Exige dos seus praticantes um elevado dispêndio de energia, uma enorme participação da componente aeróbia e em muitos momentos da sua prática frequências cardíacas muito elevadas. Para além desses aspetos do jogo, o futebol envolve ainda um conjunto variado de ações com elevada intensidade (sprints, saltos, remates) que estimulam o sistema muscular e esquelético dos seus praticantes».

Por tudo isto, André Seabra insiste nesta ideia forte, e sem dúvida atrativa, para a conclusão do seu projeto: «O futebol pode servir de medicamento». 

Nas «indicações» desse «medicamento» estão o controlo do peso, composição corporal, fatores de risco de doenças cardiovasculares e bem-estar psicológico. Então e... «contra-indicações»? Nenhuma! 

Mas há efeitos secundários, «avisa» a posologia deste projeto: «Ficar apaixonado pela prática do futebol».    

Apresentação pública no dia 13

Este projeto «Futebol na luta contra a obesidade infantil» terá apresentação pública no próximo dia 13 de junho, no Auditório da FADEUP, à Rua Dr. Plácido Costa, 91, às 18.30h, com a presença de várias figuras do futebol.

Será exibido um pequeno filme sobre o projeto, com a participação dos responsáveis do projeto, dos treinadores, dos pais, dos meninos, do Paulo Bento e do Ricardo Costa.