O clássico de domingo joga-se na Luz, mas vive-se um pouco por todo o mundo.

Em França, bem lá no norte, junto da fronteira com a Bélgica, o grande Benfica-FC Porto da 7.ª jornada terá águias e dragões concentrados a três quilómetros distância.

Roubaix e Tourcoing são duas pequenas cidades vizinhas nos arredores de Lille que vivem intensamente a rivalidade do grande clássico português.

Domingo assim será, separados pelo canal de Roubaix, portistas e benfiquistas vão vibrar com as emoções do clássico, palavra dos responsáveis das duas delegações, que falaram ao Maisfutebol.

«Eles estão lá, nós estamos aqui… Eles são eles, nós somos nós… Está a perceber?», começa por dizer ao nosso jornal Paulo Peixoto, responsável por uma empresa de segurança e presidente da Casa do Benfica de Tourcoing, salientando que nunca há problemas entre adeptos.

«Quando o Benfica foi tetracampeão houve algumas pessoas que vieram das casas do Benfica de Amesterdão, Roterdão e Paris e que queriam ir para a porta da Casa do FC Porto celebrar. Disse-lhes logo: “Meus amigos, vocês aqui têm de respeitar. Somos todos portugueses e isto é só futebol. Fazemos a festa aqui na nossa casa. Não gostaria que eles viessem cá quando o FC Porto é campeão.” Partir vidros e atirar tintas para as paredes… Isso não tem jeito nenhum», argumenta este natural da Póvoa de Varzim há 23 anos emigrado em França.

Joaquim Laranjeira, o vice-presidente da Casa do FC Porto, recorda que, em maio último, quando o FC Porto se sagrou campeão nacional, os festejos alastraram-se até à Câmara Municipal de Roubaix. Mas nunca à vizinha Tourcoing. Ainda assim, este portista de Esposende, emigrado há 40 anos em França, garante que a casa azul e branca onde ele próprio gere a cafetaria toda a gente é bem-vinda:

«Somos democráticos. Esta é uma casa aberta a toda a gente, ao contrário da Casa do Benfica, que está interdita a portistas… É verdade que nem vamos nós para a porta deles nem eles para a nossa. Mas aqui os benfiquistas podem entrar e até podem festejar, se vencerem no domingo, que eu não proíbo ninguém.»

Aliás, a uns 200 metros da Casa do FC Porto, funciona a do Vitória de Guimarães, que é uma espécie de terceiro grande português nesta região de França, em virtude da forte emigração lusa proveniente do Minho. «Somos vizinhos do Vitória e damo-nos bem com eles. Com o Benfica é que a rivalidade é maior», garante Joaquim Laranjeira (tal como o faz o seu congénere encarnado), que para domingo espera casa cheia na casa de Roubaix: «Vêm portistas de toda a região cá ver o jogo. Vêm os Dragões de Lille, que fazem parte da claque, e que vão apoiar o FC Porto aqui nos jogos em França e até em Portugal…»

Em Tourcoing Paulo Peixoto, também está ciente de que terá a casa repleta de adeptos encarnados para ver o clássico ao final da tarde (cujo pontapé de saída está marcado para as 17h30, hora portuguesa, mais uma hora em França): «Vai ser uma enchente aqui na casa, mais de uma centena de pessoas, certamente. É um clássico. Vai haver alguma tensão. O Benfica empatou na última jornada… Nada ajuda.»

Sobre as diferenças para os rivais Paulo salienta que a Casa do Benfica é muito mais ativa no apoio ao clube: «Quando o Benfica vem jogar aqui torneios internacionais aqui perto, nós vamos lá apoiar. Não só no futebol. Por exemplo, esta semana a equipa principal de futsal está a participar na fase de grupos da UEFA League na Bélgica (em De Bres) e nós vamos estar lá a apoiar. Além disso, estamos em contacto permanente com o Benfica. Ainda hoje estive a falar com um responsável do clube sobre a venda de produtos: temos aqui uma loja onde vendemos camisolas e outros produtos do clube…»

Voltando ao jogo… E prognósticos?

«Esperamos a vitória. Nem que seja curtinha, por 1-0. Quem marca? Jonas… Porque está há muito tempo parado. Ou o João Félix porque é o futuro da Seleção Nacional», afirma Paulo Peixoto.

Joaquim é mais cauteloso: «Vou por um empate. Sendo fora, não será um mau resultado. Pode ser que o Marega faça das dele... Espero que marque. Aliás, de vez em quando, temos aqui alguns imigrantes africanos a ver os jogos do FC Porto: gostam do Marega, do Brahimi…»

A verdade é que, domingo, se alguém ganhar, haverá certamente festa portuguesa. Falta saber se será em Tourcoing ou em Roubaix.