A peregrinação, nome que hoje ainda mais sentido faz, começou cedo. Os benfiquistas de longe vinham com a ideia do almoço antes das emoções, às vezes em cima da bagageira, já estacionados junto ao estádio para os petiscos do costume. A festa também. Cedo apareceram os infelizes petardos ensurdecedores. Tornar-se-iam frequentes, em crescendo, até à hora da partida.

Mastigava-se a bifana com mostarda, e com o sabor especial da roulotte preferida. Que é, para muitos, onde também começa tudo. E a imperial em copo de plástico, tão bem-vinda. Procuravam-se os diretos das televisões para colorir reportagens. De encarnado, claro. As selfies sucediam-se, com câmara frontal ou com ajuda de terceiros, agora ainda mais populares, porque se avançou mais uma geração. Para a quarta.

A festa do título afastava os adeptos das famílias, da sonolência pós-repastos, das manifestações de outra fé que não a clubística. Hoje, havia frustrações antigas a expiar. E a onda vermelha, que inundava a periferia, prometia levar tudo à frente. Chegavam de todo o lado. 



Vieram a pedalar de Beja, equipados a rigor, em duas bicicletas siamesas, soldadas para sempre uma à outra. Chegaram a tempo. Tiraram fotos. Deixaram-se fotografar com outros. E depois, quando as portas abriram, ficaram sem saber o que fazer às quatro rodas.

O senhor pertence à segurança daqui? Precisava de um que me deixasse entrar e guardar a bicicleta… 
 
Veio o diabo de Gaia e, no final, irá para casa de muita gente com o charuto na boca e novos amigos ao seu lado. Voltará a estar em muitos perfis das redes sociais da moda. E o homem-que-pinta-a-cara-toda – à falta de melhor definição – que não falhou Amesterdão e cuja imagem já surpreendeu em outras partes do mundo, também não falhou. Aquela imagem de Eusébio, já ícone, pintada no lado esquerdo da cara, estava impressionante. Que loucura! Gente como toda a gente, à procura da fuga do anonimato. 

    

O burburinho. O frenesim. Estava todo lá. Nas conversas. De circunstância. Sem grande profundidade. Porque só se pensava no apito final de Xistra e na explosão da festa. O ruído era de jogo especial, de um Benfica-Olhanense, mas especial, como um clássico.

Ali à volta da imortalidade de Eusébio – agora com coroa justíssima a destacar-se – reunia-se toda a esperança da multidão. Já alimentada, espalhava-se pelas pontes, à espera.

Ainda havia que mostrar à equipa que havia quem a empurrasse. Antes de esta entrar em campo. A rotunda encheu-se de vermelho, o autocarro demorou-se a fazer a curva. Voltaram os petardos. As vozes subiram de timbre, cantou-se o título que nada ou ninguém, do seu ponto de vista, podia evitar. 

    

Sofreu-se depois. A cada remate de Rodrigo. A cada raide de Maxi. Saltava-se da cadeira, a aguardar o momento. Aquele momento. À espera que as redes abanassem e a festa pudesse saltar de vez da cadeira. Salvio saía com o braço ligado. Entrava Markovic. O Benfica voltava a pressionar. O vulcão parecia prestes a soltar-se. 

Belec defende para o lado. Lima está lá…