Em dia de manifestação que parou o país, a ideia geral é que o Sporting não saiu à rua. Ou, quanto muito, chegou (muito) atrasado. Terá ficado por casa ou algures num recôndito abrigo no caminho até Vila do Conde. No Estádio dos Arcos apresentou-se uma sombra do Sporting grande, talvez um espelho do que tem sido a temporada actual. Para uma equipa que equipou de negro fica uma exibição muito cinzenta, que deveria ter sido mais castigada por um grande Rio Ave. A boa exibição dos homens de Carlos Brito não teve expressão no 0-0 final.

E este dever assenta, sobretudo, no futebol apresentado pelos homens de Carlos Brito. Um tricô genialmente entrelaçado, num onze remendado por Júlio Alves e esticado pelas excelentes prestações de Braga e Bruno Gama. Bailado que entusiasma a plateia num momento de grande fulgor vila-condense.

Os destaques do encontro

José Couceiro devolveu os dois trincos ao meio-campo do Sporting. Abdicou da irreverência de Diogo Salomão, com tudo o que de positivo e negativo ela traz, e juntou Zapater a André Santos. A equipa retraiu-se com a mensagem defensiva. Com um pulmão que parecia inesgotável, o Rio Ave foi construindo lances de perigo e ameaçando.

Começou aos dois minutos, na primeira de muitas arrancadas de Bruno Gama pela direita. Braga atirou ao lado. Viria a suceder-se mais vezes. Rui Patrício negou-lhe o golo aos 20 e Tarantini até lançou infrutíferos gritos de «Golo», já a caminho do intervalo. Tudo entremeado por pormenores deliciosos. Nota artística bem alta para este Rio Ave.

Crescer só em cima do apito

O Sporting, que no primeiro tempo só assustou num remate de Valdés por cima do travessão, tinha de mudar ao intervalo. Exigia-se outra atitude, para suprir uma intensidade que roçava o zero e um vazio completo nas ideias. Talvez a solução passasse pelo banco, onde Vukcevik e Salomão poderiam dar o abanão necessário. Couceiro achou que não e manteve o esquema. O Rio Ave, esse, não tirou o pé do acelerador.

Carlos Brito, que tinha sido obrigado a trocar Paulo Santos por Mário Felgueiras, devido a lesão, renovou horizontes. Falhou no mesmo ponto: a finalização. Parece estranho, para uma equipa que tem em João Tomás o segundo melhor marcador da Liga, mas a pecha no remate decisivo evitou outro resultado. Umas vezes graças a Rui Patrício, outras por falta de pontaria. Como no minuto 66, quando Braga atirou ao lado a melhor ocasião do jogo, após abertura de calcanhar de Bruno Gama.

Confira as notas dadas aos jogadores

Sentia-se o golo e Carlos Brito lançou Saulo para o aproximar. Vukcevic pouco trouxe ao jogo e os leões continuavam a arrastar-se. Uma «geração à rasca» nesta temporada do Sporting. Couceiro vem repetindo a mensagem de Paulo Sérgio, pedindo carinho para a equipa mas custa acreditar que este lote de jogadores não tem mais para dar. O alheamento do público, explicado pela meia casa de Vila do Conde, é elucidativo.

Tiago Pinto ainda evitou sobre a linha que Polga falseasse o resultado. O Sporting cresceu e terminou o encontro em cima do Rio Ave, com o coração nas mãos. É que, em caso de vitória, o V. Guimarães, volta a ter apenas um ponto de distância para o terceiro lugar, o objectivo que resta aos leões. Mas, se noutras aventuras, a sorte foi factor que não protegeu o Sporting, em Vila do Conde, Couceiro não se pode queixar. Difícil era ganhar depois de mais de metade do jogo a ver jogar.