Se me permitem, despacho já Cristiano Ronaldo dizendo que foi a maior exibição individual que vi um jogador assinar na seleção nacional. Tenho 44 anos, isto inclui muita coisa de Manuel Bento, o Chalana do Euro 84, tudo o que se fez no Euro 2000, mais o Euro 2004 e o imenso resto. Felizmente a lista de coisas boas da equipa nacional tem sido razoável. Nós, os que começámos a olhar para o futebol no final da década de 70 não podemos queixar-nos. E os miúdos para quem o futebol começou nos Mundiais de sub-20, por exemplo, nem fazem ideia do que isto era. Portanto, muito obrigado Cristiano, foi uma noite maior do que a vida para quem é português e gosta de bola.

Passo então aos outros.

Paulo Bento

Um selecionador que chega a um play-off sabe o que o espera e o nosso foi especialmente claro na véspera do jogo: se perdesse, desemprego. Paulo Bento, como sempre, escolheu os seus, aqueles em que mais confia. Mas fez uma alteração interessante do ponto de vista tático. Colocou Hugo Almeida e pediu-lhe que ajudasse a fechar a esquerda, equilibrando a equipa quando não tínhamos a bola e permitindo que Cristiano não se desgastasse tanto a defender. O que foi crucial, como se viu.

Os treinadores estão sempre mais próximos de ganhar quando não inventam, quando se mantêm firmes nas suas ideias e naquilo que treinam. É verdade que a fase de qualificação foi má, essencialmente porque o selecionador não foi capaz de resolver, como outros antes dele não foram, um problema que nos afeta há anos: raramente sabemos lidar com o favoritismo, com as equipas que se fecham, que nos entregam a bola. Por outro lado, somos fortes quando parece que o mundo vai desabar. Mas neste play-off notou-se em muitos momentos que o trabalho da equipa técnica estava lá, bem feito. Como sempre. Paulo Bento merece como poucos ir ao Brasil.

João Moutinho

Ao meu lado na redação, dizia o Nuno Madureira: «Se tivermos Moutinho, passamos». Como em muitas outras noites, houve Moutinho. Como houve! Aquele Moutinho que trabalha, que fecha, que passa, que corre, que nos cansa. Esse costuma haver sempre. Mas esta noite houve também o outro. E foi esse que assistiu duas vezes para golos de Cristiano Ronaldo.

João Pereira

No conjunto dos dois jogos, o lateral do Valência terá sido o segundo melhor português, logo atrás de Cristiano Ronaldo. Na Luz quase só houve espaço nas alas e os laterais aproveitaram-no. Em Estocolmo impressionou a sobriedade, o incrível número de boas decisões. Parabéns. (leia o que a Berta Rodrigues escreveu, lá no estádio)

Hugo Almeida e os outros

O avançado do Besiktas fez uma assistência magnífica para Cristiano Ronaldo. Na Luz já tinha feito o enorme cruzamento para a cabeçada de CR7 à barra. Hugo Almeida é um dos patinhos feios da seleção. Está no mesmo saco de jogadores como Hélder Postiga ou Miguel Veloso, sempre de fácil crítica. Pode orgulhar-se do que fez. Aliás, podem todos. Os amados e os muitas vezes odiados.

Cumprida a função de escrever um sobe sobre o que a seleção fez na Suécia, confesso que foi difícil. O que me apetece agora é rever aquilo, rever o que o Cristiano Ronaldo inventou. Porque perante aquilo todas as palavras parecem desnecessárias. (e provavelmente são, fique com as imagens do Francisco Paraíso, no balneário da seleção)