Somaram 3754 golos, em 1380 jogos. Durante uma época, a de 2010/11, os investigadores do Centro de Estudos do Futebol (Universidade Lusófona, Lisboa) olharam para o que se passava nos campeonatos de Portugal, Inglaterra, Espanha e Itália. Objetivo: perceber as tendências. Resultado: o que poderá ler neste texto. Os desfechos mais comuns, os momentos em que podemos esperar golos e muito mais. Depois disto olhará para os jogos de outra forma.

Todos temos a sensação de que o que
sucedeu em Alvalade, este sábado, é invulgar. Um resultado de 3-2, mesmo favorável à equipa da casa, não acontece em todas as jornadas. Já o empate 1-1 entre Belenenses e FC Porto nos soa mais comum. Uma coisa é o que achamos, outra são os factos. Por vezes, coincidem.

No caso das duas partidas, a nossa impressão é confirmada pelas provas. De acordo com a análise da Lusófona, «o futebol é um jogo de resultado baixo, 52 por cento dos resultados finais das partidas situam-se entre o 0-0 e o 2-2», refere o estudo. Olhando em detalhe, e tendo a época 2010/11 como base, o resultado mais comum foi o 2-1 (17 por cento), seguido do 3-1 (11 por cento). Logo a seguir, 1-1 e 2-0 (nove por cento cada). Ou seja, o resultado do Restelo é expectável, o de Alvalade mais difícil de prever. A análise da Lusófona permite perceber que esta tendência é relativamente partilhada pelos quatro campeonatos. Há diferenças, mas pouco substanciais. 

Esta época, e disputadas apenas nove jornadas, os resultados mais comuns são o 1-0, 1-1 e 0-1 (nove vezes cada), o 2-0 (seis vezes) e o tal 2-1 (cinco vezes). Um resultado como o de Alvalade só aconteceu duas vezes, o que dá uma ideia da escassa frequência.

Como se percebeu pelos resultados do terceiro parágrafo, o factor casa continua a valer. Esta época, em Portugal, as equipas visitantes não estão a dar-se nada mal. Em 2010/11, nas quatro ligas, metade das partidas terminaram com vitória de quem jogava no seu estádio. Apenas 29 por cento dos visitantes ganharam. O resto das partidas acabou com empate. Por falar nisso, apenas três por cento dos jogos acabam como começam, sem golos. Espanha e Itália eram os campeonatos com maior peso do factor casa. Portugal era aquele onde isso valia menos.

Em Alvalade, um jogo incomum, três dos cinco golos nasceram de lances de bola parada (dois penaltis e um livre direto). Também isso é invulgar. Os números da Lusófona dizem-nos que apenas 30 por cento dos festejos resultados de jogadas em que a bola começa parada. A bola corrida impera, largamente. A Premier League tinha os valores mais aproximados, em 2010/11: 39/61.

Quando se marca?

O Sporting-Marítimo teve mais aspectos invulgares. Por norma, marca-se mais na segunda parte do que na primeira: 57 contra 43 por cento dos golos. Em Alvalade foi ao contrário: três golos antes do descanso, dois no segundo tempo.

O período mais fértil é o último: 19 por cento dos golos aparecem no último quarto de hora. O início da partida costuma render pouca emoção, apenas 12 por cento dos golos (em Portugal, 11 por cento no início, 20 no fim). A famosa «fase de estudo mútuo» parece existir mesmo. De qualquer forma, os golos aparecem relativamente espalhados pelos 90 minutos. Para este estudo foram retirados da equação os golos conseguidos no período de descontos, para não transformar o último período de quize em 19 ou 20 minutos. «Temos os golos marcados nesses últimos instantes e se os incluíssemos não alterariam a conclusão geral», afirmou Jorge Castelo, diretor do Centro de Estudos.

Marcar primeiro resolve muita coisa

Provavelmente o factor mais interessante do estudo é a importância de marcar primeiro. Nesse aspeto, como vamos ver, o Sporting-Marítimo comportou-se de acordo com a norma. Já o Belenenses-FC Porto escapou um pouco.

De facto, revelam os números recolhidos pela Lusófona, «marcar primeiro parece ser o elemento essencial para conseguir a vitória». Os números são arrasadores: 62 por cento das equipas que marcaram primeiro, ganharam. Além disso, 19 por cento das que o conseguiram empataram.  Apenas 16 por cento perdeu. Ou seja, a probabilidade de o Sporting ganhar depois de ter entrado a vencer era elevada. Mesmo que ao intervalo estivesse a perder. São números, sim, e todos os números permitem exceção. Mas a tendência é forte. Em Espanha o valor passa de 62 para 66 por cento!

Apesar de tudo, o caminho do Sporting até à vitória foi bastante invulgar.

Dizem os números que em 50 por cento dos jogos, quem marcou primeiro liderou até ao final. O caso do Benfica em Coimbra, na sexta-feira, é um exemplo disso. Em nove por cento dos casos, quem marcou primeiro permitiu o empate, mas acabou por somar os três pontos. Somente em 14 por cento dos jogos quem marcou primeiro permitiu que o adversário desse a volta e ganhasse. Era a situação do Sporting ao intervalo. Felizmente para Leonardo Jardim os jogos têm 90 minutos e a «ordem» foi reposta.

Os jogos com alternância entusiasmam os adeptos e são de recordação fácil. Os números explicam a razão: eles acontecem poucas vezes, distinguem-se da larga maioria, regida pela regra do quem marca primeiro ganha. 

Os golos que realmente interessam

Lá atrás dissemos que o período em que se marcam mais golos é o último. Por contraste, o período menos fértil é o inicial, entre os minutos um e 15. Mas isto é diferente de dizer que os golos que se conseguem no fim são muito importantes. Na maior parte dos casos não são, de facto.

A Lusófona estabeleceu qual o período em que se marcam os golos que realmente interessam, aqueles que definem o resultado final. Concluiu que em 41 por cento das partidas o desfecho ficou definido até aos 35 minutos. Se levarmos a análise até aos 50 minutos temos 53 por cento das decisões. Em 70 por cento dos jogos, tudo ficou esclarecido até aos 70 minutos. Ou seja, os golos conseguidos no fim só foram de facto importantes em menos de um terço dos jogos.

Jorge Castelo sublinha estes valores. «Muita coisa se resolve por volta dos 30 minutos», diz. E se não se resolve, a equipa teoricamente mais fraca ganha fôlego, tende a caminhar para um resultado positivo. 

Os resultados obtidos neste estudo surpreenderam os investigadores num úncio aspeto: a inexistência de grandes diferenças entre os quatro campeonatos analisados. Na verdade, refere Castelo, «o 2-1 parece ser uma espécie de padrão, está presente nas diferentes Ligas», diz.  Será que os treinadores conhecem estes números? Joreg Castelo acha que não.

«De todas estas constatações estatísticas impera o facto de os resultados finais das partidas serem de uma enorme estabilidade, sabendo nós que o futebol é aleatório e imprevisível. Tal como todos os sistemas complexos, como é o caso do futebol, podem dar origem à turbulência e à coerência ao mesmo tempo», explica Jorge Castelo.