San Siro, um local mítico para o futebol, lugar de muitas memórias, geralmente boas para os da casa e marcadamente negativas para os forasteiros. No percurso histórico já cumprido por este estádio cabem vários momentos de ligação a Portugal e um deles com traços de quase imortalidade. Foi a 27 de Maio de 65 que o Benfica ali jogou uma das suas muitas finais da Taça dos Campeões Europeus, perdendo por 1-0 com o Inter de Milão.
Aproveitando a oportunidade do F.C. Porto jogar no mesmo local quarenta anos depois, Maisfutebol conversou com o herói desse dia, um autêntico vilão para os encarnados, por ter marcado o único golo do jogo. Chama-se Jair da Costa e naquela altura era um temível ala direito, que somou títulos atrás de títulos ao lado de figuras como Mazzola ou Bonisegna no Inter, foi campeão do mundo pelo Brasil em 1962, embora «tapado» por Garrincha, e campeão nacional pelo último Santos de Pelé, em 73, ainda com Marinhos Peres na equipa. Hoje, vive em Osasco (cidade brasileira do estado de São Paulo), onde possui um campo de «football society» totalmente pintado com as cores do Inter de Milão.
A memória «já foi melhor», mas sô Jair não se esquece dos momentos-chave. «Lembro-me que foi um jogo muito difícil, porque a equipa do Benfica era muito boa. Caiu uma chuva forte antes da partida. No golo recordo-me que peguei a bola à entrada da grande área, bati para a baliza e, mesmo escorregando, fi-la passar por baixo do corpo do Costa Pereira», recorda, com a voz algo trémula, sinal de que a idade não perdoa.
Entre as figuras de um passado que ainda paira na sua cabeça surgem nomes como Costa Pereira, Germano, Coluna, Eusébio, Torres, Simões ou Zé Augusto: «Era uma equipa muito forte, inclusive que deu vários jogadores à selecção para o Mundial 66, ficando em terceiro lugar, e que até venceu o Brasil com Pelé e tudo. Sem dúvida tinha grandes jogadores».
San Siro vazio
Tantos anos depois, ainda acompanha de perto a actualidade do seu Inter. «Fui sempre muito querido lá. Passei dez anos no futebol italiano, nove no Inter e um na Roma. Fiz muitos golos e vivi grandes momentos em San Siro», lembra, admitindo que ver aquele estádio vazio «é estranho», porque «sem adeptos na bancada vai dar a impressão que é um treino», embora Inter de Milão e F.C. Porto sejam «duas grandes equipas».
Do outro lado do Atlântico, e de quem tem o coração totalmente interista, fica uma leitura de como poderá ser o embate: «Penso que o Inter já aprendeu, porque no primeiro jogo [no Estádio do Dragão] perdeu por 2-0 e vai querer recuperar. Vai ser um grande jogo, lamentavelmente sem adeptos, e que por isso dará a impressão de ser um jogo-treino, mas vou torcer para que o meu Inter vença».