Por vezes, a única forma de conseguir que os nossos filhos se comportem como queremos e achamos mais adequado é colocando-os de castigo. Isto significa que, durante algum tempo, a criança fica sozinha num local escolhido pelos pais, tendo tempo para se acalmar e pensar um pouco nas razões de ali estar.

Mas se isto parece relativamente simples, muitos pais podem testemunhar mil e uma peripécias que os levaram à beira de um ataque de nervos quando tentaram colocar uma criança de castigo. Sabem porquê? Porque pôr de castigo não é fácil, é uma arte. E, como tal, tem os seus segredos para que seja bem-sucedida.

Tudo começa por, face a um comportamento inadequado, avisar a criança de que, se o repetir, ou não parar, vai ficar de castigo. Este aviso tem de ser dado com uma voz firme e calma.

Nada de gritos ou irritação, pois isto só distrai a criança da mensagem que queremos transmitir. Se o comportamento se mantém, chega a altura de anunciar que deve ir para o castigo.

E dizer apenas uma vez. Nada de avisos, nada de «ameaçar» com o castigo, nada de negociações. Quando chega a altura, é para ser cumprido.Onde? Qualquer divisão da casa serve, desde que seja tranquila e não seja perigosa. Pode ser no quarto dos pais ou no hall. Pode até ser no quarto da criança, desde que este não seja uma central multimédia.

Não esquecer que o objectivo é, durante algum tempo, separar a criança das coisas que considera boas. Evitar a casa de banho ou a cozinha, que podem conter alguns perigos.

Por vezes, a criança resiste e é necessário «escoltá-la» até ao local seleccionado. Faça-o sem sermões, discussões ou irritações. Calma e tranquilamente, leve-o pela mão, mesmo que esperneie. E ignore os inevitáveis gritos, protestos e ameaças. Especialmente ignore o «não me importo», que significa exactamente o oposto.

Uma vez no local, deixe-a sozinha, em regra um minuto por cada ano de vida da criança. Este tempo pode ser maior se a falta foi grave ou repetida. A criança não tem, necessariamente, de ficar sem fazer nada. Pode ler, desenhar ou fazer alguma actividade calma, se quiser. E se ela não fica no local?

Se é muito pequena, pode ter de ficar sentado com a criança ao colo. Mas tem de ser como uma estátua. Nada de conversas. Nas crianças mais velhas, pode ser necessário fechar a porta (sim, se for preciso à chave) para que o tempo seja cumprido.

Passado o tempo determinado, e se a criança está sossegada, anunciar o fim do castigo. Não a deixar mais tempo no local só porque entretanto se distraiu com alguma coisa. A única excepção é se tiver adormecido.

Mas, por outro lado, se ela disser que quer continuar no local, deixar estar e ir-se embora. Não alimente um mártir.

Terminado o castigo, tudo volta ao normal. Mais uma vez, não ceda à tentação de sermões, atenções ou mimos suplementares. Simplesmente, actue como se nada se tivesse passado.

A conversa pode ter lugar mais tarde e apenas se a criança ainda é pequena ou se a falta foi especialmente grave. Nos outros casos é desnecessária. Colocar de castigo, se bem feito, leva ao fim do mau comportamento e permite à criança restaurar o autocontrolo.

É uma medida eficaz principalmente a longo prazo. Por isso mesmo, pode e deve ser usada as vezes necessárias. Mas não invente e faça as coisas como devem ser feitas, se quer que a criança o leve a sério.

João Cabral

por Paulo Oom

Pediatra

da Clínica

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