Paulo Bento explicou, em entrevista à RTP Informação, por que deixou o cargo de selecionador nacional. O técnico garante que a decisão não partiu de si, e que não acredita que Cristiano Ronaldo tivesse tido alguma influência no caminho traçado por Fernando Gomes depois do jogo com a Albânia. Aqui ficam algumas das declarações mais importantes.

«Nem uma coisa nem outra, o que aconteceu foi que após o jogo da Albânia, e através da conversa com o presidente e depois de trocarmos impressão e analisarmos, na terça-feira, dois dias após o jogo, o que se passou durante mesmo, na quarta-feira o presidente comunicou-me que não iam continuar a contar com os meus serviços. Suponho que foi uma decisão em conjunto da direção.»

«Não partiu de mim.»

«É verdade que tivemos uma conversa passados dois dias, onde analisámos o momento e aquelas que podiam ser as condições para seguir caminho que tínhamos definido anteriormente. E no dia a seguir, na quarta-feira, e suponho que depois de um contato com os outros membros da direção, chegou à conclusão que não havia condições para que continuasse.»

«Se fosse só a vontade do presidente possivelmente continuava hoje a ser selecionador. Tenho claro que no conjunto da direção chegou-se à conclusão que seria melhor prescindir dos meus serviços. Não estou a falar de nomes. Não foi exclusivamente o presidente.»

«Mudar de opinião é natural. Tenho claro que não existiam as mesmas condições que antes, tive uma conversa franca e aberta com o presidente Fernando Gomes, que o levou a pensar, em conjunto com outras pessoas, e a tomar também, em conjunto com elas, a decisão que servia melhor os interesses da seleção.»

«O jogo com a Albânia foi se calhar também a gota de água, que fez transbordar o copo. Havia coisas anteriores, que mostravam que a situação não estava tão consistente como se esperava. O resultado não era o desejável, num jogo em que havia a obrigatoriedade de ganhar, independentemente da forma como estávamos a jogar. Isso acabou por trazer à baila muita coisa que se pode ter passado no Mundial. Mostrou que as coisas não estariam com cola, e acabámos por chegar a esta situação, em que a direção entendeu por bem cessar o contrato.»

«Da parte da manhã houve um primeiro contacto, a conversa realizou-se à tarde. Na quarta houve a decisão, de que tomei conhecimento pelo presidente, que foi a única pessoa com que falei. Entre terça e quarta, houve contactos e conversas que tinha de haver… Não encontrei versão diferente na quarta do que falámos terça-feira, que foi sobre que condições poderiam existir para continuar.»

«Não tem nada a ver com questão externas. Tenho de ser honesto com quem trabalho. O que aconteceu foi que fui honesto, ao dizer-lhe que não existiam as mesmas condições. Além do resultado, há uma coisa que foi falada, que foi a questão da renovação. Eu entendia que havia a necessidade de um ciclo, que seriam os dois anos, e não uma renovação do Mundial para o jogo com a Albânia, apesar de se verificarem várias alterações na convocatória. Não pedia que partilhássemos todos a mesma ideia, mas havia uma expetativa que as mudanças fossem maiores do que perspetivava e pretendia, e isso acaba por ter algum peso. O pensamento não era comum a todos na dimensão da renovação.»

«Fui muito claro após o Mundial, quando disse o que pretendia. Não levei nenhum jogador ao Mundial por uma questão de gratidão, e uma outra coisa é achar que devo estar grato a alguns jogadores. Mas não foi por isso. Depois disso, decorreu uma semana completamente normal. Não acho que a atitude fosse a razão do mau resultado frente à Albânia. Isto vale o que vale, quando perdes um jogo que tens de ganhar. O estar com o treinador demonstra-se com o empenho nos treinos. Os grupos que estiveram connosco tentaram fazer o seu melhor.»

«Não sei se abri a porta para sair. Fiz o que tenho feito, fui honesto com elas. Não posso dizer ao meu presidente uma coisa que não sinto, e por isso tenho de dizer o que sinto. E nessa terça-feira fui o que fiz.»

[Sobre uma alegada interferência de Ronaldo na sua saída]

«Se me pergunta se houve alguma situação diretamente comigo, digo-lhe que não. Se confrontou os dirigentes é uma situação em que não quero acreditar. Invertiam-se os papéis, e numa hierarquia isso era virá-la do avesso. Não seria bom para mim, para o jogador ou para a direção.»

«Não faz sentido que um jogador, qualquer um e por mais talentoso que seja, possa influenciar a decisão da direção de um clube ou de uma federação.»

«Quando se perde é normalmente quando conheço melhor as pessoas. Quando se ganha vamos embalados na onda da euforia e da satisfação. Não esperava mais nem menos de Ronaldo. Tive um prazer enorme em treinar a Seleção, e Ronaldo de tempos a tempos. Dir-lhe-ei que foi o melhor jogador que treinei, sem sombra de dúvidas, ajudou a alcançar muitos objetivos da Seleção nestes quase quatro anos. Eu contribui também para que tivesse essa fase de grande rendimento na Seleção. Tenho a certeza que reconhecerá isso, a mim e a todos aqueles que estiveram com ele em noites como na Suécia e na Irlanda.»

«As declarações que temos têm a ver com a maturidade que vamos ganhando. Temos de saber lidar com a frustração. Ele com o tempo não se irá acomodar, e saberá gerir os falhanços que terá na carreira.»

«Joguei com muita gente experiente. Acho que é hoje uma pessoa mais madura, do que era há uns anos. Tem uma qualidade tremenda. É um excelente profissional, que se cuida muito. Se, ao fim de dez anos de carreira que tenho, me perguntarem se foi o melhor jogador que treinei diria que sim. Se tivesse que escolher um jogador que em termos de profissionalismo e qualidade fosse o mais completo escolheria João Moutinho. Pela qualidade, pelo entendimento que tem em todas as fases do jogo, pela capacidade de entender as ideias do selecionador. Sob esse ponto de vista, é extremamente completo.»

«Acho que se sobrevaloriza a questão da braçadeira. Há muitos líderes numa equipa. Joguei com muitos e treinei muitos, que têm uma influência extremamente positiva e não usam a braçadeira.»

[A alegada influência de Jorge Mendes na Seleção]

«Jorge Mendes representa muitos jogadores e também o selecionador nacional, e representou igualmente selecionadores anteriores. Ouvi recentemente uma barbaridade, que não me surpreende por vir de quem vem, que dizia que Jorge Mendes não podia ser representante do selecionador nacional. Isso não faz sentido, uma vez que assim Jorge Mendes não podia ser representante de nenhum treinador em que tivesse jogadores representados. Existe entre nós uma relação profissional e, à parte, uma relação de amizade. Mas cada um sabe as suas funções e nunca, em momento algum, o Jorge teve qualquer tipo de interferência. Ele conhece-me bem.»

[As ausências de Tiago e Danny]

«Ao fim de dois comigo no comando, o Tiago decidiu não voltar. Acabámos por acordar um tempo para que refletisse e ponderasse a sua decisão. Estivemos em contacto e ele acabou, dentro do prazo estabelecido, por continuar com a ideia de abandonar a seleção. Não há aqui uma situação estranha... Apesar de não ser uma opção inicial, queria contar com ele. Mas não fazia sentido convocar um jogador que tinha decidido não jogar pela seleção.»

«A situação de Danny é muito simples e não tem nada a ver com um episódio disciplinar. Não senti da parte dele o compromisso. É um bom homem, é inteligente e sabe a compreensão e solidariedade que tive com ele. Após o jogo com Israel, ele não teve a compreensão que se exigia da parte dele. E ele sabia, desde muito cedo, quais as minhas opções e o porquê das minhas opções. O rendimento de Danny na Seleção não foi extraordinário.»