Nervosismo, erros posicionais e disponibilidade para atacar. Este é o sumo, puro e duro, da prestação de Nelson Semedo no seu jogo de estreia pela seleção nacional. O lateral teve, aos 21 anos, a primeira oportunidade na principal seleção portuguesa, beneficiando de uma série de fatores, entre os quais, e porque é o mais importante, o excelente início de época que está a protagonizar no Benfica.

Claro que esse dado, por si só, poderia não ser suficiente para lhe valer a primeira internacionalização. É impossível não esquecer as lesões de Bosingwa e Vieirinha, duas apostas de Fernando Santos nesta fase de qualificação e, também, o facto de o jogo já nada alterar na classificação do grupo de Portugal: a vitória sobre a Dinamarca, na última quinta-feira, salvaguardou o primeiro lugar.

Ora, independentemente destes fatores, a verdade é que Semedo, que ainda há uns meses era opção apenas na equipa B do Benfica, teve a oportunidade de mostrar o que vale, em campo, a Fernando Santos. Esteve longe de ser perfeito, como qualquer um almeja na estreia.

O dado mais visível talvez seja o facto de o golo sérvio ter nascido pelo seu lado, mas há muito para analisar. Estivemos 90 minutos a olhar para o rendimento de Nelson Semedo e detetamos defeitos e virtudes. Próprios de quem tem 21 anos, claro está, e ainda se encontra num processo evolutivo.

O potencial está lá, há arestas a limar. Estranho seria se não fosse. A amostra deste domingo, em Belgrado, não convenceu. Mas pode ajudar a tirar ilações para outras oportunidades.


O primeiro onze com Nelson Semedo

PRIMEIRA PARTE: o amarelo que fez o jogo virar à esquerda

As duas primeiras ações de Nelson Semedo no Sérvia-Portugal foram apenas posicionais. Logo nos segundos iniciais, saiu a fechar o espaço a Tosic, que passou e colocou na área, com José Fonte a valer. Era o início de uma parceria vista muito mais vezes ao longo do encontro. O central do Southampton foi o companheiro inseparável do jovem encarnado.

Aos 3 minutos, de novo com Tosic pela frente, voltou a sair para reduzir o espaço, mas a bola seguiu para Kolarov que centrou com relativo perigo. Outro movimento típico deste jogo que Semedo, também por falta de ajuda do extremo, teve imensas dificuldades em corrigir e, spoiler alert, viria mesmo a dar golo.

Com bola, mostrou-se ao minuto 7, já depois do tento inaugural. Recebeu de Fonte, tocou para Danilo e subiu uns metros. Recebeu, driblou um rival e entregou a André André, que perderia o esférico. Dois minutos depois, uma ação defensiva importante: corte na área quando Ljajic se esgueirava.

Nos minutos seguintes, Portugal teve mais bola e Semedo encostou-se à linha jogando simples e tentando atacar. Aos 11’ recebe e dá de primeira para André André; aos 13’ toca para Quaresma, sobe pela lateral e prepara-se para receber de Veloso, mas sai mal o passe ao companheiro.

No minuto seguinte agita as bancadas com uma entrada dura, mas limpa, sobre Tosic. Só bola, a colocar o rival em sentido. Aos 18’ prensa um cruzamento de Tadic e os companheiros tiram facilmente da área.

Aos 19’, a Sérvia cobrou mal um canto e Portugal saiu para contra-ataque. Bola para Semedo na direita que dá em Danny mas este não devolve quando o lateral tinha espaço. O avançado do Zenit ainda corta e dá, então, em Semedo que tenta cruzar mas acerta em Kolarov. Foi a única vez no jogo que tentou um cruzamento nos últimos 30 metros.

Duas ações sem grande importância (corte sem cerimónias aos 20’ e recuperação na lateral e entrega limpa a Danilo aos 23’) antes de um momento chave no seu encontro: o amarelo visto aos 27 minutos. Apanhou uma sobra na área e entrega a Danilo Pereira, que não consegue devolver. Semedo vai em seu auxílio, recupera a bola mas entrega mal. Quando tenta nova recuperação entra duro sobre Kolarov. Amarelo justo.

Se a Sérvia já privilegiava a esquerda do ataque, a partir do momento em que o lateral português ficou amarelado, a instrução imediata foi tentar furar por ali. O que, naturalmente, aumentou os problemas ao jovem luso e expôs debilidades.

Apesar disso, as suas ações seguintes foram dobras ao centro: tirou a pontapé à meia hora, enquanto aos 34’ apenas ocupou o espaço, deixando as costas para Tadic que rematou por cima.

Aos 37’ não se entendeu com Fonte, a Sérvia fez uma boa triangulação e Semedo ficou batido. Ljajic rematou de ângulo apertado e Patrício defendeu.

Em novo momento de desconcentração, três minutos mais tarde, esbarrou em Mitrovic na área, quando tentava corrigir o posicionamento. O árbitro mandou jogar apesar dos pedidos sérvios de penálti.

A um minuto do descanso volta a destacar-se em ação ofensiva: avançou até à quina da área, deu em Nani, no miolo, e este lateralizou para Veloso, mas o remate saiu bloqueado.

A última ação de Nelson Semedo no primeiro tempo foi uma hesitação para receber um passe de Bruno Alves, perante a pressão de Mitrovic, com a bola a sair pela linha lateral.

SEGUNDA PARTE: desapoiado pelo extremo, ajudado pelo «bombeiro» Fonte

No segundo tempo foi evidente a constante busca pelo melhor posicionamento. Várias vezes se viu Nelson Semedo a procurar a linha da defesa e a corrigir o local onde se encontrava. Talvez mesmo por indicação de Fernando Santos no descanso. A verdade é que, assim, perdia segundos preciosos, o que lhe complicava o tempo de reação, sobretudo em ações apoiadas da Sérvia.

A primeira ação, contudo, foi de confiança: apertado por dois sérvios depois de ficar no centro num livre lateral português, aguentou a pressão e deu em Eliseu. Foi aos 47 minutos.

Aos 51’ volta a tentar a sorte no ataque. Recebe de Danilo e dá a Nani, que não devolve e o lance perde-se. Recupera, procura a posição, mas não chega a tempo: Kolarov centra e Ljajic atira ao lado, em boa posição.

Aos 56’ interceta bem um passe de Matic para Tadic, sofrendo falta de seguida. Dois minutos depois, recebe na linha de Danilo, é pressionado, mas dá a Nani. Vem para o centro para dar linha de passe, mas a devolução vem muito para trás. A defesa estava incompleta, mas Fonte tira para canto.

Fonte voltou a ser «bombeiro» aos 60 minutos, depois de Semedo ser ultrapassado por Kolarov. Ação simples aos 63’, aliviando na área um remate que bateu no corpo de Neto, e outra um minuto mais tarde, ao prensar um centro de Kolarov, com…Fonte, claro está, a completar.

Aos 65 minutos, veio o golo sérvio. Semedo vai até junto da linha de fundo tentar impedir novo centro de Kolarov, mas, desta feita, nem toca na bola. O cruzamento rasteiro apanha Tosic solto no coração da área, pois os dois centrais acompanharam Mitrovic. Remate indefensável.

A Sérvia, que estava claramente por cima do jogo há largos minutos, voltava a insistir pelo flanco de Semedo. Aos 68’, até colocou novamente a bola na baliza, outra vez por Tosic, mas o árbitro assinalou mão depois de Semedo cortar e a bola ressaltar para o braço do rival.

As investidas de Kolarov, contudo, é que pareciam imparáveis. Pouco auxiliado, ficou com Tadic ao minuto 72 e viu o lateral fugir para a área. Patrício defendeu o remate com o pé. Na sequência a bola sobra para Nelson Semedo que tenta logo dar em Éder no ataque, mas o passe sai curto. Dois minutos depois, em movimento semelhante tem sucesso. Desta foita o passe foi para Quaresma.

O segundo golo português, de João Moutinho, ao minuto 78, retirou frieza e capacidade de raciocínio à Sérvia. Tal como toda a equipa, Semedo aproveitou para respirar, com os rivais em plano de autodestruição.

Voltou ao meio campo contrário aos 82 minutos, para uma troca de bola com Quaresma e Moutinho, acabando, depois, por atrasar para José Fonte. A dois minutos do fim, num misto entre erro de posição e estratégia bem sucedida, deixa Obradovic nas suas costas, mas em fora de jogo. Do lance resultaria um choque entre José Fonte e Rui Patrício que deixou, ambos, mal tratados.

No geral, fica a sensação que não foi, de todo, um jogo propício a evidenciar o melhor que Nelson Semedo tem para dar. No Benfica, por exemplo, que é superior e, por isso ataca mais, do que a maioria dos rivais que enfrenta, encaixa como uma luva no esquema. Quando o plano (ou a obrigação…) passar por ficar mais atrás e segurar uma equipa pressionante, as dificuldades são ainda evidentes.

Com Vieirinha, Cédric e Bosingwa em pleno, Nelson Semedo, pela amostra desta noite, não terá vida fácil na luta por um lugar na comitiva que vai até França. Mas a época ainda vai no início…