Quando entrar em campo, em Rio Maior, para receber o Azerbaijão, às 17 horas desta terça-feira, a seleção portuguesa de sub-21 não estará apenas a fechar o primeiro capítulo na que pode ser a mais categórica campanha de apuramento de uma equipa portuguesa neste escalão. A perspetiva de uma oitava vitória consecutiva – 12ª se incluirmos os jogos particulares desde a última derrota, em março de 2013 – obriga-nos a recuar mais de 20 anos para encontrarmos um registo aproximado.

Era no tempo em que se vivia a euforia do bicampeonato mundial de sub-20, e entre campeões de Riade e de Lisboa, jogadores como João Pinto, Figo, Rui Costa, Paulo Sousa, Jorge Costa, Rui Jorge, Capucho e Sá Pinto contribuíram para uma sequência de 21 jogos sem derrota (15 vitórias e seis empates), entre setembro de 1991 e junho de 1993. O percurso concluiu-se um ano mais tarde, com o melhor desempenho luso de sempre num Europeu de sub-21: segundo lugar, com derrota inglória na final, contra a Itália de Toldo, Cannavaro e Inzaghi.



Daí para cá, à exceção do terceiro lugar em 2004, com Bruno Alves, Raul Meireles, Danny, Hugo Almeida e Hugo Viana, a seleção portugesa de sub-21 não voltou a brilhar em Campeonatos da Europa, isto nas vezes em que conseguiu lá chegar. A um mês de um play-off - que, recorde-se, em caso de insucesso pode tornar inglório todo este percurso - a equipa de Rui Jorge pode seguir as pisadas da sua antecessora, mesmo que ainda seja cedo para garantir quantos destes jogadores vão tornar-se na base da equipa principal, como aconteceu depois de 1993.

Também por isso, num contexto em que a necessidade de renovação tem sido mais referido do que nunca, vale a pena olhar para os números da campanha dos sub-21, e para a sua tradução prática na seleção principal. E um primeiro olhar sugere que o funil demasiado apertado entre o fim da formação e a passagem para o escalão principal - problema gritante nos principais clubes portugueses, à exceção do Sporting – está igualmente bem presente na seleção: dos 107 jogadores utilizados por Rui Jorge em 32 jogos, nos quatro anos em que está à frente dos sub-21, só 11 chegaram à órbita da equipa principal.

Desses, apenas oito tiveram minutos em campo: Josué, André Almeida, André Martins, Nélson Oliveira, William Carvalho, Rafa, André Gomes e Ivan Cavaleiro. A estes nomes juntam-se os de Anthony Lopes, Bruma e Rúben Vezo, já chamados por Paulo Bento, mas nunca utilizados em jogo.

O renascimento das equipas B – com aumento da carga competitiva dos jovens jogadores portugueses, ainda que fora do primeiro escalão - é um fenómeno que ajuda a explicar o ciclo de viragem iniciado pela equipa de Rui Jorge em 2013, no início deste ciclo de apuramento. Se restringirmos a pesquisa apenas à sequência de 11 jogos vitoriosos, os números são claros: desde março de 2013, o selecionador de sub-21 chamou 54 jogadores, dos quais 29 foram usados na campanha de apuramento. Eis os seus nomes:

José Sá, João Amorim, Josué Sá, Luís Martins, Sérgio Oliveira, Paulo Oliveira, William Carvalho, Rafa, André Gomes, Ivan Cavaleiro, Rúben Vezo, Bruma, Raphael Guerreiro, Luís Gustavo, João Mário, Tiago Silva, Tó Zé, Ricardo Esgaio, Ricardo Pereira, Betinho, Tiago Ilori, Bernardo Silva, Carlos Mané, Gonçalo Paciência, Marcos Lopes, Bruno Varela, Miguel Rodrigues e Hélder Costa.

A negro, os jogadores que neste ano e meio foram convocados para a seleção principal, com William Carvalho (seis jogos) como aposta mais consistente. Da geração anterior a esta – a que falhou o apuramento para o Europeu 2013 – o aproveitamento é ainda menor: Josué, André Almeida, André Martins e Nélson Oliveira totalizam 27 internacionalizações entre si, com Anthony Lopes, nunca testado, a fechar o quinteto. 

Ao todo, os oito sub-21 que chegaram a jogar na seleção principal entre 2010 e a atualidade somam apenas 39 presenças, grande parte delas como suplentes utilizados em jogos particulares. Sintoma de um funil demasiado estreito, ou de escassez de qualidade das gerações recentes? Os próximos jogos, na seleção A e na de sub-21, ajudarão a responder à pergunta.