A Vecchia Signora tinha uma velha maldição. Desde os anos 30 do século XX, para se ser concreto. Mas ao fim de mais de 80 anos, a proeza: a Juventus é tricampeã de Itália de novo. Não o conseguia desde 1932/33, precisamente a época do meio de um pentacampeonato. Nesta MF Total, damos-lhe conta das motivações que pelo comando de Antonio Conte levaram a Vecchia Signora aos três títulos seguidos e de como a História fez parte delas.

O jogo desta noite com a Atalanta serviu de festa a um emblema que é tanto amado pelos seus como odiado pela maioria dos outros. Seja no país com desenho de bota, seja na diáspora italiana. É por isso também que o presidente faz birra e diz que agora só coloca a terceira estrela por cima do símbolo [uma por cada 10 títulos] quando os rivais Inter e Milan chegarem à segunda. Os dois clubes de Milão também entram nas causas deste tricampeonato.



Comecemos, porém, por Andrea Agnelli: ele é um dos responsáveis para o renascimento da Juventus. Neto de Edoardo, o primeiro Agnelli presidente do clube, Andrea chegou à Juve no final da primeira década do século XXI e com duas prioridades: equilibrar as finanças do clube e devolvê-lo às conquistas. 

A segunda está conseguida, mas começou a basear-se na primeira, que levará mais tempo . Numa altura em que a Itália atravessava dificuldades financeiras, Agnelli conseguiu investir sem correr riscos desnecessários. Agora, o novo estádio está feito, tem tido lotações esgotadas e, para além disso, há mais um acordo que entrará em vigor a partir de 2015/16 e que fará entrar dinheiro fresco: a Adidas vai começar a pagar mais de 23 milhões de euros/ano ao clube [quase 140 milhões em seis épocas]. 

Outro responsável, o principal até, é Antonio Conte. Se o presidente tinha as costas largas pelo antepassado rico da família proprietária - o avô, por exemplo, dirigiu o clube na década de 1930, quando a Juventus venceu os tais cinco títulos consecutivos - Conte contava com um currículo de futebolista vestido de
bianco e nero. Às costas, o antigo médio trazia cinco scudetti como jogador. A aposta neste homem com conhecimento da casa e da causa revelou-se perfeita para Agnelli. 

 

Conte atirou-se logo ao campeonato. Chegou ao comando técnico e, em conjugação com a vontade de Agnelli, declarou que a Juventus tinha de voltar a ser Juventus. Ou seja, tinha de ganhar títulos. Uma tarefa enorme porque as duas classificações prévias à chegada do técnico foram dois sétimos lugares. Aparentemente, o vice-campeonato de 2008/09, um ano após a subida de divisão, tinha sido ilusório.

Claro que houve fatores externos. O Inter é o primeiro deles. José Mourinho saiu do clube, os sucessores falharam e, aos poucos, os nerazzurri entraram num estado que terminou com a venda da società a um milionário indonésio. O Milan assumiu o scudetto seguinte, mas as divergências internas entre a filha de Silvio Berlusconi e o administrador delegado Adriano Galliani abriram uma crise que até hoje permanece incurável.

75 dos 76 golos da Juventus na Serie A deste ano (falta o desta noite)

 

Conte viu a oportunidade e agarrou-a: contratou Andrea Pirlo. No final, conquistou o troféu ao Milan com quatro pontos de vantagem. A
velha senhora rejuvenescera três anos depois de ter ido parar à Serie B. Altura então para o confirmar na temporada seguinte.

Os dois títulos que a Juve tinha ganho em 2004/05 e 05/06 foram-lhe retirados pelo Calciopoli, um escândalo de manipulação de jogos que atirou o clube para a segunda divisão. Agora com a Vecchia Signora campeã 2011/12, nova polémica: o treinador via-se envolvido num outro caso de apostas.

Após vários recursos, Conte foi suspenso por quatro meses. Mas usou o castigo como nova motivação, como a desculpa perfeita para unir o grupo em torno de um objetivo. O segundo
scudetto construiu-se em volta dessa ideia. E de uma nova contratação: Paul Pogba chegou de Manchester e assumiu-se como figura fundamental. A Juventus só não liderou a Liga na primeira jornada.

Tinham sido seis tentativas de tricampeonato. A sétima chegava esta temporada , depois de a tal descida à B ter retirado mais uma oportunidade à Juve. Desde 1933 que o clube procurava fazer três títulos italianos consecutivos. O Milan roubou-lhe a ideia quatro vezes, a Lazio uma e a Roma outra. Conte lançou-se contra a História : desse por onde desse, a Juve tinha de acabar com essa maldição. 

Juventus bicampeã em 1998


Para isso, nova contratação determinante: Carlos Tévez. O argentino é o melhor marcador da equipa na Serie A e está muito próximo de igualar o registo do melhor Del Piero.
Ale conseguiu 21 golos em 2007/08, o Apache tem 19. Foi com vista no tri que
a Juventus também preferiu jogar com o Sassuolo a uma segunda-feira, a meio de uma meia-final da Liga Europa com o Benfica. Ou seja, quis descansar mais a seguir à Luz do que para o segundo confronto com os encarnados: afinal, uma vitória sobre o Sassuolo era quase passo definitivo para o título.

Há uma semana, a Vecchia Signora atingiu o recorde de 30 triunfos num só campeonato. Agora são 31. Ninguém venceu mais numa só Serie A. Mas foi no domingo, com a derrota da Roma na Sicília, que se soltou o champanhe. Após a desilusão da eliminação frente ao Benfica, a Juventus festejou um ambicionado tricampeonato e alargou a diferença para Milan e Inter.

O presidente da Juventus, Andrea Agnelli


Nas contas oficiais, a Vecchia Signora tem 30 títulos. Nas contas da Juventus, 32. A diferença reside em 2004/05 e 2005/06, scudetti que foram retirados após o escândalo do Calciopoli. De qualquer modo, a Juve teria direito a pôr mais uma estrela por cima do símbolo. «Só o faremos quando os outros puderem colocar duas, para marcarmos a diferença», disse Andrea Agnelli,  agora que a maldição chegou ao fim e que a Juve já aponta a novos desafios. De acordo com a imprensa transalpina, quer atacar na Europa. E atenção, que Conte já tem uma Liga dos Campeões.