Na semana passada, o Maisfutebol mostrou-lhe uma das iniciativas mais originais de adeptos de futebol. Irritados com a falta de eficácia, os membros da claque do Magdeburgo decidiram levar setas gigantes para o estádio e indicar o caminho da baliza. Resultou!

A dúvida acompanhava as imagens. Que teriam sentido os jogadores deste histórico do futebol alemão? Importa salientar que o 1.FC Magdeburgo já venceu uma Taça das Taças, em 1974, afastando o Sporting nas meias-finais. Agora, está na IV divisão da Alemanha.

Christopher Wright foi o autor do golo no famoso encontro. Revoltou-se, no bom sentido, com as setas dos adeptos e demonstrou que não precisava de indicações para a baliza. Curiosamente, a equipa perdeu esse jogo mas venceu o seguinte, no domingo (1-2). Não somava os três pontos desde Outubro de 2011!

«Olhando a esta distância, vejo que foi um protesto inovador. Acabou por me dar motivação, senti ali que tinha mesmo de marcar. Era o meu orgulho que estava em jogo! Sou ponta-de-lança e quis demonstrar que sabia muito bem onde era a baliza», relata o jogador ao Maisfutebol.

O 1.FC Magdeburg estava no último lugar da Regionalliga Nord, quarto escalão do futebol alemão. Ainda por cima, não marcava há vários encontros. Um jogador já tinha sido ameaçado pelos adeptos e acabou mesmo por abandonar a cidade. Naquele dia, porém, a claque decidiu inovar.

«Percebo os adeptos. O clube tem muita história, já venceu uma Taça das Taças e está agora nesta posição delicada. Podia ser um protesto bem pior. Acabei por marcar mesmo, na altura era o empate mas o adversário chegou à vitória nos últimos minutos (1-2)», explica o norte-americano.

«Espero não ser lembrado por isto»

Christopher Wright, gigante (1.97 metros) que nasceu nos Estados Unidos há 25 anos, é o melhor marcador do 1.FC Magdeburg. Seis tentos na competição, na segunda época na Alemanha. «Espero marcar mais três ou quatro golos e ajudar a equipa a sair dos últimos lugares.»

O avançado respondeu ao desafio dos adeptos e terminou a seca de golos. Já neste domingo, ficou em branco mas assistiu Becker para o tento da vitória no terreno do Germania Halberstadt (1-2). Ou seja, desde a aparição das setas, a equipa não mais parou de marcar. Agora, até vence.

Para Wright, esta visibilidade tem contornos curiosos. O telefonema do Maisfutebol permite-lhe desenferrujar o português aprendido na Universidade.

«Espero não ser lembrado por isto, mas sim por coisas positivas. Estou feliz na Alemanha mas quem sabe, um dia até posso jogar em Portugal. Seria bom, porque estou a desaprender a língua.»

Taça das Taças à custa de Sporting e Milan

Com a vitória de domingo, o 1.FC Magdeburgo trouxe, por breves momentos, um sorriso ao rostos dos seus adeptos. Muito pouco, ainda assim, para fazer justiça ao historial do clube. Nas décadas de 60 e 70, era a referência máxima no futebol da Alemanha de Leste.

Por essa altura, enfrentou mesmo adversários português. Foi batido pela Académica em 1969/70, na Taça das Taças, competição que viria a vencer em 1974.

O 1.FC Magdeburgo encontrou o Sporting nas meias-finais da prova, empatando 1-1 em Alvalade antes do triunfo caseiro (2-1). Curiosamente, no estádio que veio por terra para dar lugar à MDCC-Arena, um moderno recinto para 27.250 espetadores. Na final, AC Milan por terra.

Em 2002, porém, os problemas financeiros atiraram o histórico da Alemanha de Leste para a quarta divisão. Por lá se mantém até hoje. Os adeptos, habituados à glória, não desistem.

No tal jogo das setas, estavam quase três mil nas bancadas. No domingo, jogando fora, estariam perto de mil. Desta vez, sem o GPS para as balizas adversárias.