O Sporting informou esta quinta-feira a CMVM de que Sinama-Pongolle deixou de ser jogador do clube.
Pongolle, para os de memória mais fraca, é um internacional francês que o Sporting contratou em Janeiro de 2010.
Na altura custou 6,5 milhões de euros, informou o clube, dinheiro que foi entregue ao Atletico Madrid. O mesmo clube que uns meses depois, em Agosto de 2011, recebeu 8,8 milhões de euros pelo passe de Elias.
Além de fazerem o curto trajeto entre Madrid e Lisboa, Pongolle e Elias têm em comum outro facto: estão no top 3 das contratações mais caras do Sporting, que se saiba. O brasileiro ocupa a primeira posição. O francês é terceiro. Pelo meio está o chileno Rodrigo Tello. Curiosamente, arrisco afirmar que nenhum dos três estará algum dia entre os 50 melhores futebolistas que passaram pelo Sporting.
Regressando a Pongolle.
O processo do francês é exemplar, mas apenas no sentido em que nos permite avaliar o funcionamento dos clubes portugueses, pelo menos aqueles que nos últimos anos ainda tiveram dinheiro.
No dia da compra, ninguém questiona. Há fanfarra, capas de jornais, horas de diretos na rádio e tv (pelo menos na tv do clube, hoje em dia). O preço, se conhecido, é apenas um detalhe.
Depois começam os jogos. Uns justificam o investimento. Alguns superam as expetativas. Muitos falham de forma absurda.
No caso destes últimos, a coisa geralmente resolve-se com uma nota de rodapé no site oficial ou na CMVM. Os jogadores mudam de ares. Rescindem ou transferem-se por valores insignificantes, deixando atrás um rasto de frustrações. E no dia seguinte falar-se-á de outra coisa.
Em caso algum é dada uma explicação aos sócios, aos adeptos. Este jogador, o senhor fulano de tal, falhou porquê? E este falhanço, custou quanto? E, mais importante, como foi o processo de recrutamento, de quem foi a responsabilidade, o que foi feito para que não se repita?
Isto funciona assim porque as SAD têm os melhores acionistas do mundo. É verdade que são uns tipos que por vezes assobiam. Antigamente até mandavam almofadas para o relvado e faziam esperas. Agora escrevem nas redes sociais e a seguir já estão a pensar em outra coisa. Mas na realidade nada exigem. Têm muito amor à camisola e pouco ao dinheiro que investiram.
O problema do futebol português, pelo menos entre os clubes grandes, nunca foi a dificuldade em gerar receitas. O drama tem estado sempre do lado dos custos.
O caso de Pongollle é apenas um demasiado evidente para ficar sem registo. Mas um processo assim está longe de ser único. E, que fique claro, está também longe (muito longe mesmo) de ser um exclusivo do Sporting. Mas também porque o Sporting não ganha o campeonato há dez anos, talvez seja altura de fazer algumas perguntas e esperar respostas profundas.
Aqui fica a minha pergunta: quanto custou ao Sporting a passagem de Sinama-Pongolle por Alvalade, entre passe e salários? Se conhecido esse número saberemos o custo exato de cada minuto de competição do francês com a camisola do clube. E provavelmente teremos de colocá-lo, afinal, no topo da lista, como o jogador mais caro do clube. Quem sabe do futebol português.
P.S. : Isto não significa que ache errado rescindir, hoje, com Sinama-Pongolle. É provavelmente o ato de gestão possível e aquele que melhor serve o clube. O francês não tem condições para continuar em Alvalade, para quê manter o vínculo (e os custos, acredito)?