O movimento parece ser imparável e surge sempre no silêncio da noite. Os professores continuam a revelar a sua indignação para com o que consideram ser uma política de educação injusta e fazem-no de forma totalmente diferente do habitual. Para trás ficam as greves, agora é tempo de conquistar a população com acções simples, na rua, onde a diferença é o número de pessoas presentes no protesto e não tanto as canções de Abril.

O processo iniciou-se com iniciativas espontâneas, em grupos pequenos, muitas vezes surgidos em escolas periféricas, longe dos centros de decisão e fora das grandes cidades. O impacto, porém, foi tremendo, talvez mesmo por ser um tipo de acção cívica, sem o controlo dos sindicatos. O método é simples: envio de sms ou e-mail, com adesão imediata. Até já há quem peça para colocar faixas negras nas janelas.

Professores «invadem» Viseu esta noite

Os protestos em Coimbra e Aveiro chegaram aos jornais, juntaram milhares de pessoas e captaram a atenção do país. No passado fim-de-semana, no Porto, mais de mil professores agitaram lenços brancos, numa despedida simbólica da ministra da Educação. Na terça-feira à noite, quase três mil estiveram em Coimbra, vestindo de negro e transportando uma enorme faixa com a palavra «Basta». Desta vez, já com a acção do Sindicato dos Professores da Região Centro e o seu coordenador, Mário Nogueira, que também é o presidente da Federação Nacional de Professores.

Marcha da indignação

Com a Fenprof envolvida e assumindo a «frente de combate», Maria de Lurdes Rodrigues não terá descanso pelo menos até 8 de Março, quando se realizar a «Marcha da Indignação», em Lisboa.

Nesta quarta-feira, milhares de professores compareceram em Viseu, Guarda e Castelo Branco, revelando que o descontentamento é nacional. Na quinta-feira será a vez do Alentejo também se vestir de negro, com uma concentração marcada para as 21h em Portalegre, junto ao Governo Civil. À mesma hora, os professores de Aveiro repetem o protesto de outros dias, juntando-se no Centro Comercial Oita e rumando pacificamente até ao Governo Civil.

A problemática das aulas de substituição, a avaliação do desempenho e as alterações no ensino musical e no ensino especial são temas recorrentes para a contestação.

Será esse o mote para os protestos seguintes, alguns deles já agendados, mas muitos outros deverão surgir nos próximos dias. No dia 1 de Março, pelas 16h, concentração no Instituto Português da Juventude (Rua da Polícia), em Lisboa; 3 de Março, em Leiria, a partir da Praça Rodrigues Lobo (17h); 4 de Março, vigília em frente ao Governo Civíl de Beja, com a presença de Mário Nogueira (21h), e Concentração frente à Escola Superior de Saúde (perto do Fórum Algarve), em Faro, pelas 18h; 6 de Março, Portimão (17h30), frente à Câmara Municipal.

Indinação na blogosfera

Provando que a contestação às políticas de educação tem sido geral, alguns professores transformaram a revolta em palavras e colocaram-na na Internet.

O Movimento Professores Revoltados é o expoente máximo neste capítulo; enquanto que em A Educação do Meu Umbigo, Paulo Guinote suscita a discussão.

Teresa Silva, filha de Manuela Estanqueiro, a professora de Aveiro que morreu com leucemia e sem ter direito a aposentação, mantém uma página de indignação, enquanto o blog A Sinistra Ministra mantém activo o protesto contra Maria de Lurdes Rodrigues.