Os alunos portugueses na Suiça obtêm os piores resultados escolares entre as comunidades estrangeiras, denuncia um relatório do organismo que coordena os serviços escolares daquele país (CDIP).

Segundo a Lusa, o documento diz igualmente que os alunos portugueses «raramente acedem a uma formação pós-obrigatória», profissional ou universitária. Para a CDIP, os fracos resultados escolares das crianças portuguesas devem-se «ao desinteresse total dos pais em acompanhar» a educação dos filhos e à «origem sócio-cultural modesta».

«As famílias portuguesas que se instalaram na Suiça são geralmente de uma origem sócio-cultural muito modesta (para não dizer mais)».

A CDIP classifica os portugueses na Suiça como «uma comunidade sem cabeça», por não disporem de qualquer elite que lhes possa servir de modelo. «Esta situação explica-se em virtude das perturbações políticas que Portugal conheceu após a Revolução dos Cravos (1974): depois da democratização do país, a maioria dos quadros e dos intelectuais portugueses que residiam na Suiça e que aí tinham feito os seus estudos, regressaram ao seu país; daí em diante apenas as famílias de origem modesta se fixaram na Suíça», destaca o relatório.

O embaixador de Portugal em Berna, Eurico de Paes, disse que o relatório reflecte a preocupação das autoridades suíças para com as crianças portuguesas. Adiantou que as classes especiais fazem parte do sistema educativo suíço e são frequentadas por um grande número de portugueses.

De acordo com o embaixador, a média dos alunos portugueses nessas classes é de 11 por cento, enquanto a média das crianças de outras nacionalidades, incluindo suiças, é de cinco por cento.

«Comunidade portuguesa é injuriada e vexada»

Manuel de Melo e António Dias Ferreira, Conselheiros da Comunidade Portuguesa na Suíça, mostraram-se indignados com esta postura das autoridades suiças. «Para lá das apreciações insultuosas e humilhantes para com a comunidade portuguesa, a CDIP, de forma leviana ¿ a sua análise não está sustentada em qualquer estudo sério elaborado para o efeito». Os responsáveis explicam que O referido documento foi elaborado no âmbito da visita que António Braga, Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas efectuou ao país, contudo, dizem que estas não foram as conclusões que o representante do Governo português apresentou.

Este relatório «tira conclusões escabrosas que revelam apenas um desrespeito profundo pela comunidade lusa, além de demonstrar um desconhecimento absoluto daquilo que representa hoje a comunidade portuguesa na Suíça, onde se destacam professores universitários, médicos, políticos, sindicalistas, empregados bancários, quadros superiores em muitas empresas, destacados empresários», dizem os conselheiros. E «em nome da honrosa massa de trabalhadores portugueses, que está entre as que mais têm contribuído para o desenvolvimento económico e social da Suíça» repudiam «os insultos e o enxovalho à comunidade por parte da CDIP», e exigem «um pedido formal de desculpas».

Apelam também «à mobilização e solidariedade de todos os líderes e membros da comunidade portuguesa» e solicitam a todos os emigrantes portugueses que boicotem quaisquer iniciativas a realizar pela CDIP e pela Embaixada de Portugal em Berna.