Depois dos sonhos despertados pela fantástica vitória diante do Inter, o Sporting teve um duro regresso à realidade doméstica. A primeira derrota da temporada para os homens de Paulo Bento fica marcada por um erro grave de arbitragem (não há maneira de esta Liga ter paz: o golo de Ronny foi obtido com o braço) e também pela soberba exibição do guarda-redes Peçanha, que na segunda parte manteve o zero na sua baliza com três defesas notáveis. No resto, a excessiva lentidão dos leões na primeira parte, a sofreguidão no remate depois do intervalo e a boa atitude inicial do Paços, recompensada depois pela sorte, explicam uma das primeiras grandes surpresas da época.
Com a memória do jogo de terça-feira bem presente, é tentador fazer um paralelo entre este Sporting-Paços e o embate com o Inter. Desta vez, durante largos períodos do jogo, as camisolas estiveram trocadas: o Paços vestiu a pele de Sporting, na forma como soube ser paciente e solidário sem perder de vista a ambição, e o Sporting começou por «dar uma» de Inter, entrando no jogo de forma demasiado confiante e sem engrenar um ritmo que pusesse o seu adversário em dificuldades.
Na base deste início de jogo, a boa organização montada por José Mota, com três homens na frente, apoiados por Dani, obrigando o leão a cuidados defensivos que o obrigavam a jogar com linhas distantes e tornavam as suas saídas para o ataque demasiado lentas. Nem a boa confirmação de Miguel Veloso a trinco chegou para resgatar da mediocridade a meia hora inicial dos homens de Paulo Bento, que só aos 28 minutos, num canto que Luiz Carlos desviou para a própria baliza, estiveram perto do golo.
Do outro lado, o Paços também não chegava muitas vezes à área de Ricardo, embora as boas iniciativas de Cristiano revelassem alguns problemas na defesa dos leões, em especial na direita. O intervalo estava à porta, com apenas «meias oportunidades» no registo quando, após um canto de Cristiano, a defesa do Sporting foi batida por um desvio ao primeiro poste. Ronny apareceu no segundo a encostar, mas com o braço esquerdo. João Ferreira não viu e a história do jogo mudou de alto a baixo.
Tal como na reviravolta com o Boavista, Paulo Bento fez duas substituições ao intervalo, tirando os elos mais fracos da equipa (Miguel Garcia atrás e Romagnoli à frente) e lançando Ronny e Yannick Djaló. O Sporting reagiu bem e, pela primeira vez, obrigou o Paços a defender-se demasiado perto da área. Peçanha começou a brilhar aos 54 minutos, com defesa espectacular a cabeceamento do apagado Alecsandro, que pouco depois foi rendido por Bueno.
A entrada do uruguaio destinava-se a dar um segundo fôlego ao leão, que a partir dos 60 minutos perdera gás. Mas Peçanha voltou a ser decisivo, negando um grande golo a Djaló (66 m) e com esse lance o Sporting sentiu que estava em sérios riscos de perder o jogo. Inquietos, os seus jogadores começaram a cometer erros na transição para o ataque, e só no último quarto de hora o Paços voltou a sofrer.
E como sofreu! Primeiro foi Bueno a cabecear à trave (75 m), depois Peçanha a concluir a trilogia com defesa fantástica a novo cabeceamento do uruguaio (76 m), depois um cabeceamento de Liedson a bater nas redes mas pelo lado de fora (79 m), finalmente Tonel, sozinho na área, a cabecear por cima só com Peçanha pela frente. Ocasiões a mais para um «zero» final, num carrossel de desperdício que o nervosismo explica, a meias com a boa actuação defensiva do adversário.
Se o jogo com o Inter foi um teste fantástico à maturidade desta equipa, a derrota com o Paços acaba por ser, agora, o melhor dos testes à solidez psicológica dos leões, pela primeira vez postos em causa, após um início de temporada mais que perfeito. A capacidade de manter ou não o rumo e as qualidades que até agora justificaram elogios, percebendo as culpas próprias neste desfecho (que também as teve, para além do erro crucial de João Ferreira), irá definir em muito o resto de temporada para a equipa de Paulo Bento.