A Liga está a ganhar golos portugueses, com Bruno Fernandes a liderar e de modo geral com sinais de maior influência de jogadores nacionais entre os goleadores. Ainda assim, e contando com Dyego Sousa, com dupla nacionalidade desde 2016 e internacional por Portugal desde março deste ano, estão em minoria, uma tendência que vem de há muito, num campeonato onde só por três vezes nos últimos 30 anos o melhor marcador foi português.

O caso de Dyego Sousa é paradigmático da crónica falta portuguesa de referências na área. Foi o segundo jogador naturalizado chamado à Seleção na última década, a seguir a Liedson. Mas esta temporada há vários portugueses a afirmar-se na Liga pela capacidade goleadora.

Há muito que os chamados grandes, sobretudo, têm como referência de ataque jogadores estrangeiros. O que torna ainda mais notáveis os dados de Bruno Fernandes, o melhor marcador do Sporting na Liga esta época: 15 golos para um jogador que não é avançado. Mas não é só ele. O Benfica também tem vários jogadores portugueses com um número significativo de golos nesta altura: João Félix e Rafa, com os mesmo 10 de Jonas, e ainda Pizzi, com nove.

Ainda assim, tanto Benfica como Sporting têm ainda mais estrangeiros a marcar golos esta época na Liga do que portugueses. Mas quem lidera por aí é o FC Porto, com perto de 90 por cento dos golos marcados por estrangeiros. Dos 58 golos apontados pelos dragões no campeonato, só sete são de portugueses. E o melhor marcador é Pepe, com dois golos.

No outro extremo mora o Moreirense, que está a fazer a sua melhor época de sempre, para já firme no quinto lugar, com 67 por cento de golos portugueses, liderado por Chiquinho (7) e Heriberto (6). Bem acima da média geral da Liga está também o Sp. Braga, com 58,6 por cento de golos portugueses, contando com Dyego Sousa mas não, pela mesma ordem de razão, com Wilson Eduardo, que passou a ser internacional angolano.

Nesta altura 39.4 por cento dos golos da Liga foram marcados por portugueses, bem acima dos 36.3 por cento da época passada. Para encontrar melhor média é preciso recuar a 2014/15, quando não houve portugueses no pódio de melhores marcadores mas houve vários jogadores nacionais a destacar-se, com destaque para Marco Matias, então no Nacional, com 17 golos. Mesmo que Dyego Sousa não entrasse nestas contas, a média estaria a melhorar em relação à época passada.

A Liga portuguesa continua a ter mais jogadores estrangeiros que portugueses, 59.77 por cento segundo dados do Sindicato dos Jogadores. Uma tendência que já vem de trás e que é bem notória no que diz respeito a referências de ataque. A aposta em avançados estrangeiros na Liga ganhou força nos anos 80 e desde 1990/91, quando Rui Águas foi o melhor marcador, só houve mais dois portugueses a terminar em primeiro: Domingos em 1995/96 e depois Simão Sabrosa em 2002/03, quando terminou em igualdade com Fary, ambos com 18 golos.

Esse registo de Simão não voltou a ser alcançado por um português e está ao alcance de Bruno Fernandes, a três golos de distância com seis jornadas por disputar.

A luta pelos melhores marcadores está aliás completamente aberta, quando a seis jornadas do fim a lista é liderada por Seferovic, com 18 golos, seguido de perto por Bruno Fernandes, Bas Dost e Dyego Sousa, ambos com 14, depois o portista Tiquinho Soares, com 13. Nas últimas três temporadas houve goleadores a destacarem-se claramente e a superarem os 30 golos no campeonato (Jonas com 34 na época passada, Bas Dost com 34 em 2016/17 e Jonas com 32 em 2015/16), mas tanto o brasileiro como o holandês estão muito abaixo desses registos esta época e os golos estão bem mais divididos entre vários jogadores nos plantéis dos candidatos ao título. Também se estão a marcar marginalmente menos golos do que na época passada, que terminou com média de 2.70 por jogo, contra os atuais 2.58.

Portugal em nono lugar na Europa e o caso limite do Wolverhampton

Portugal segue a tendência da maioria dos campeonatos europeus, que têm mais jogadores e mais goleadores estrangeiros do que nacionais. Um estudo recente do CIES – Observatório do Futebol coloca a Liga portuguesa no nono lugar entre aquelas que mais estrangeiros têm a marcar golos. A análise utiliza o conceito de expatriados, jogadores que atuam num país diferente daquele em que cresceram, e conclui que em 12 das 27 ligas analisadas há mais golos estrangeiros do que nacionais.

O recordista é Chipre, com 86.8 por cento de golos de expatriados, seguido da Turquia e da Inglaterra. Com um toque bem luso no que diz respeito à Premier League: no Wolverhampton, treinado por Nuno Espírito Santo e com muitos jogadores portugueses no plantel, são 97,4 por cento os golos de estrangeiros. A Espanha é a única das grandes Ligas onde os jogadores nacionais marcam mais que os estrangeiros e tem também um dos poucos clubes sem qualquer golo estrangeiro, o At. Bilbao.

Os dados do CIES sobre os golos de expatriados: