Há o dérbi de João Pinto e o dérbi de Luisão. Há o dérbi de Mitroglou. Há o dérbi de Paíto, lembram-se? Há o dérbi de Liedson e o dérbi de Rafa. Há até, para os mais antigos, o dérbi de Rogério Pipi. E há, agora, o dérbi de Geny.

Geny Catamo, meus senhores.

Que noite, cum catamo! O moçambicano vestiu-se de herói improvável para decidir o jogo que deixa o Sporting com uma mão na taça de campeão, a acariciar um título que ficou mais perto.

Curiosamente o lateral direito transformado em herói – estás a ver como é possível, Gary Neville?! -  foi protagonista a abrir e a fechar o dérbi. Só que pelo meio houve um jogo.

Um jogo que foi da esquerda à direita e de cima abaixo. Foi de uma ponta à outra.

Quando Geny Catamo abriu o marcador logo aos 45 segundos, aliás, Alvalade rebentou numa euforia que dificilmente poderia ser boa conselheira.

O tempo haveria de mostrar que sim, que era manifestamente exagerada.

Por alguma razão o povo costuma dizer, na sua imensa sabedoria, que tempos fáceis não criam homens fortes. Pelo contrário, são os tempos difíceis que dão têmpera e robustez.

Ora o Sporting viu-se mergulhado num mar de fartura e riqueza que tornou a equipa amorfa, vagarosa e errática. Afinal de contas tinha entrado a ganhar no jogo e ameaçava sair do dérbi com uma vantagem de quatro pontos, que podiam ser sete após Famalicão.

Demasiado fácil, não é?

O Benfica, por outro lado, e porque se viu a perder logo desde o primeiro minuto, foi buscar vigor ao fundo da alma para se tornar forte nas dificuldades.

A equipa subiu no terreno, acertou no posicionamento e ganhou ascendente territorial, que foi transformando em uma ou outra ocasião de golo. Não era nada demasiado evidente, mas dava para sentir que era mais do que havia do outro lado.

Rafa Silva teve uma excelente ocasião para marcar, Di Maria errou por pouco o remate.

Até que já no tempo de compensação, alguém se esqueceu de Bah ao segundo poste e o dinamarquês cabeceou para o empate. O que foi um balde de água fria em Alvalade. Gelada, gelada, gelada. Exatamente antes do intervalo.

Não é difícil imaginar como aquele tempo no balneário leonino deve ter sido duro. Severo, frio, violento até. Afinal de contas, depois de uma primeira parte tão pobre, não podia ser diferente.

Ora já se sabe como é: tempos difíceis criam homens fortes, certo?

O Sporting foi obrigado a fazer das fragilidades, forças, para crescer no jogo. Não foi logo, durante muito tempo andou perdido entre maus posicionamentos, passes errados e inúmeras perdas de bola, mas o que é certo que Gyökeres obrigou Trubin a uma grande defesa, logo a seguir disparou uma bomba contra o ferro e a equipa foi atrás daquele grito de revolta.

Voltou a ter mais posse de bola, mais domínio territorial e cresceu com a entrada de Daniel Bragança, que trouxe critério na distribuição.

É verdade que o Benfica também ameaçou numa finalização de Neres para a baliza deserta que Coates intercetou e num remate de Di Maria para grande defesa de Israel. Mas sentia-se que era o Sporting que queria mais. Queria tanto, que marcou já na compensação. Por Geny, lá está.

Um golo que cobriu Alvalade de entusiasmo até às orelhas e criou um novo conceito para a história: o dérbi de Geny. Cum catamo.