O erro de principiante no Restelo não é propriamente uma novidade para Rui Patrício. O que acaba em si só por não ser exatamente novo. Ou diferente. Afinal, em nove temporadas ao mais alto nível, qual é o guarda-redes imune ao lapso, seja ele (o erro) grotesco ou minimalista?

Ora, o que aqui se levanta é outra questão: como reage Rui Patrício a estas exibições terríveis?

Sim, é bom lembrar que na próxima quinta-feira, 19 de fevereiro, o Sporting tem em Wolfsburgo um compromisso de superior relevância. E Patrício não guarda da Alemanha boas memórias.

Basta lembrar um dos quatro golos sofridos em Gelsenkirchen na Liga dos Campeões e o quarto golo da Mannschaft no Campeonato do Mundo. Rui Patrício esteve mal em ambas as situações.

Carlos Pereira, braço direito de Paulo Bento no Sporting em 2006/07, conhece Rui Patrício melhor do que ninguém. Foi um dos principais responsáveis pela aposta do guarda-redes na equipa principal e um dos primeiros a constatar «a forma fantástica» como sobrevive à crítica.

«Fui testemunha ocular dos primeiros erros do Rui. Já fez bem pior do que no Restelo e levantou-se. É muito forte psicologicamente e consegue sempre reagir com categoria», diz o treinador, de 65 anos, ao Maisfutebol.  

«Nos dois primeiros anos, o Rui chegou a ser muito contestado, mesmo pelas hostes leoninas. Resistiu a um clima difícil e superou todas as nossas expetativas. Mesmo errando aqui e ali, como qualquer guarda-redes. Não é agora que vai desabar emocionalmente».  

Antes de continuar a conversa com Carlos Pereira, uma paragem obrigatória. Quando se fala dos erros de Rui Patrício, fala-se de que momentos?

O nosso jornal recupera sete pecados capitais do atleta, pela dimensão do deslize, um dia depois do seu 27º aniversário.

SETE PECADOS DE RUI PATRÍCIO

24 de fevereiro de 2008

V. Setúbal-Sporting (1-0, D): o guarda-redes tenta agarrar o remate, a bola escorrega e acaba dentro da baliza.

11 de fevereiro de 2012
Marítimo-Sporting (2-0, D): pontapé forte de Benachour, mas à figura de Rui Patrício. O guarda-redes larga a bola e, já no chão, vê-a a entrar na baliza.

11 de outubro de 2013
Portugal-Israel (1-1, E): passe atrasado para Patrício, hesitação e passe horrível de pé direito, a colocar a bola num adversário.



9 de novembro de 2013
Benfica-Sporting (4-3, D): lançamento lateral na esquerda, a bola bate no relvado e é cabeceada por Luisão, mas muito devagar. A morrer. Ainda assim, Patrício não consegue a defesa.



1 de março de 2014
Sporting-Sp. Braga (2-1, V): má saída a um cruzamento da esquerda, remate, a bola bate no poste e o guarda-redes faz autogolo.

21 de outubro de 2014
Schalke 04-Sporting (4-3, D): livre de Aogo, Obasi cabeceia e Patrício deixa a bola bater-lhe à frente das mãos e entrar na baliza.

14 de fevereiro de 2015
Belenenses-Sporting (1-1, E): Rui Patrício sai da baliza e afasta a bola contra o corpo de Paulo Oliveira, que até se desviara para dar espaço ao guarda-redes.  

«É difícil gerir um erro como o do Restelo»

O jogo de pés sempre foi uma das lacunas apontada a Rui Patrício. Carlos Pereira concorda com a crítica? O treinador não é severo na análise.

«Temos de pensar numa coisa. O Rui Patrício é um canhoto puro e, em determinados lances, é obrigado a jogar com o pior pé. Neste deslize do Restelo parece-me que há algum azar à mistura. Sei que ele tem treinado muito esse aspeto, batendo bolas de todos os lados, mas pode melhorar, claro»
.

«Considero-o muito preparado tecnicamente», continua o antigo auxiliar de Paulo Bento. «É um rapaz que adora trabalhar, raramente está lesionado e, sem desprimor para a concorrência, é sempre superior aos outros. No Sporting e na seleção. Não é perfeito, mas é um grande guarda-redes».

Nos primeiros anos em Alvalade, Rui Patrício semeou amores e ódios. Exibições perfeitas e outras horríveis. Foi herói e vilão, talvez como poucas outras figuras na história do emblema de Alvalade.

Carlos Pereira concorda com tudo, embora faça questão de assinalar «evidente crescimento» do atleta. «É um homem maduro, consciente e responsável. Sabe que errou e sabe que em Wolfsburgo tem de responder bem».

«É difícil gerir um erro como o do Restelo, até pelo resultado, mas não é agora que o Rui Patrício vai cair», insiste.

Lançado a 19 de novembro de 2006 por Paulo Bento, Patrício teve de esperar quase um ano para se impor definitivamente como titular. A partir de 24 de novembro de 2007 (1-1 no Estádio do Mar), o número um do Sporting passou a ser o internacional português.  

E muitos colegas de posição passaram pelo clube sem quaisquer hipóteses de jogar regularmente.

Ainda se lembra de todos os suplentes de Rui Patrício?
Aqui ficam os nomes e o número de jogos feito por cada um deles:

Vladimir Stojkovic (2007/08 e 2009/10): 15 jogos oficiais (9 na Liga portuguesa)
Tiago (2007/08 a 2011/12): 23 jogos oficiais (6 na Liga)
Ricardo Batista (2008/09 e 2009/10): 1 jogo oficiais (0 na Liga)
Timo Hildebrand (2010/11): 3 jogos oficiais (0 na Liga)
Victor Golas (2010 a 2014: nunca jogou
Marcelo Boeck (2011 a 2015): 23 jogos oficiais (2 na Liga)
Hugo Ventura (2012/13): nunca jogou