Chamaram-lhe prova rainha e, mesmo que nos tempos atuais o futebol português pareça de costas voltadas para a monarquia, a Taça ainda mantém algum do fascínio inicial. Em especial pela perspetiva de, a cada jogo, a ordem poder ser subvertida por ação dos tomba-gigantes: são eles os mais fiéis servidores da rainha ao longo de 76 edições.

A entrada em cena das equipas da I Liga, na terceira eliminatória da Taça, assinala o aspeto mais visível das alterações no figurino da competição, promovidas pela FPF em abril.

Mais do que o aumento de participantes e de jogos, à conta de mais representantes dos distritais, a grande novidade é o facto de todas as equipas do escalão principal fazerem o primeiro jogo como visitantes, perante equipas de divisões secundárias. Dito de outra forma, sem jogos de I Liga, a prova está desenhada para potenciar o aparecimento de surpresas, pelo menos nesta ronda, já que a partir da quarta eliminatória o sorteio deixa de ter condicionantes. E com este empurrãozinho dos regulamentos, o clube dos tomba-gigantes poderá conhecer em breve o seu sócio número 100.

Desde a primeira edição da prova, em 1938/39, que a tradição – isto é, participantes de divisões inferiores a afastarem emblemas de primeiro escalão – faz parte do charme da Taça. Ao todo, o fenómeno já aconteceu em 232 ocasiões, tendo 96 clubes como heróis, desde o Carcavelinhos – o primeiro desta lista, ao afastar o Barreirense, em 1939 – ao Oriental – o mais recente a integrá-la, quando afastou o V. Setúbal, em novembro do ano passado.

Seis candidatos à estreia

Dos 18 jogos desta eliminatória que envolvem equipas do escalão principal – e o Maisfutebol vai acompanhá-los todos ao minuto, a começar já com o Vianense-Benfica, nesta sexta-feira – três envolvem a maior diferença de patamares do futebol português, com equipas dos distritais na condição de visitados.

UD Vilafranquense (AF Lisboa), União FC (AF Coimbra) e Mosteirense (AF Portalegre), que nunca foram tomba-gigantes, vão ter holofotes apontados ao receberem Sporting, Rio Ave e Nacional, respetivamente – e terão lugar garantido na história da prova caso consigam deixar pelo caminho alguma destas equipas.

Recorde-se, aliás, que o fenómeno atinge todos os clubes, sem distinção: Benfica (três vezes), Sporting (quatro) e FC Porto (seis) já foram vítimas, embora a última vez que tal sucedeu remonte à temporada 2006/07. O V. Setúbal é, por sinal, a única equipa que, atuando na II divisão, eliminou já os três grandes do futebol português.

Veja aqui os treze trambolhões que os grandes já deram na Taça

Dos restantes 15 jogos deste fim de semana, oito envolvem a visita de participantes na I Liga a equipas do Campeonato Nacional Sénior (CNS), começando com a do Benfica à casa emprestada do Vianense, em Barcelos. A equipa de Viana do Castelo já entrou na galeria dos tomba-gigantes em 1977/78 (eliminou o Portimonense, por 2-0), sendo que o Benfica também já foi afastado por uma equipa de terceiro escalão – em 2002/03, diante do Gondomar, na Luz.

Coruchense, Loures e Sertanense são as três equipas do CNS que procuram um primeiro troféu de caça da I Liga. Já Sanjoanense e Naval (cada um tombou gigantes por três vezes), Lusitânia de Lourosa (duas) e Gondomar (uma) vão tentar reeditar proezas anteriores.

Nos restantes jogos todas as sete equipas da II Liga ( O lhanense, Aves, Ac. Viseu, Varzim, Leixões, Gil Vicente e Penafiel) que recebem emblemas de primeira já brilharam como tomba-gigantes.

Jogos da terceira eliminatória com equipas da I Liga

Sexta-feira, 16 out:
Vianense (CNS) -Benfica (I), 20:30

Sábado, 17 out:
Olhanense (II)-Belenenses (I), 15:00
Desportivo de Aves (II)-Moreirense (I), 17:00
Vilafranquense (D)-Sporting (I), 17:30
Ac. Viseu (II)-Sp. Braga (I), 18:00
Coruchense (CNS)-V. Setúbal (I), 19:00
Varzim (II)-FC Porto (I), 20:15

Domingo, 18 out:
Gondomar (CNS)- Estoril-Praia (I), 14:00
União FC (D)-Rio Ave (I), 15:00
Sanjoanense (CNS)-Académica (I), 15:00
Loures (CNS)-Boavista (I), 15:00
Leixões (II)-Arouca (I), 15:00
Gil Vicente (II)-Tondela (I), 15:00
Naval (CNS)-P. Ferreira (I), 15:00
Mosteirense (D)-Nacional (I), 15:00
Sertanense (CNS)-União da Madeira (I), 15:00
Lusitânia de Lourosa (CNS)-Marítimo (I), 15:00
Penafiel (II)-V. Guimarães (I), 19:15

A negro, as equipas que nunca foram tomba-gigantes.

Refira-se que o Famalicão é o maior especialista em surpresas na história da Taça: já eliminou equipas do escalão principal em nove ocasiões. Foi, aliás, a última equipa a fazê-lo, na época passada, vencendo em casa do Paços de Ferreira na 5ª eliminatória.  V. Guimarães (16 vezes eliminado por equipas de escalões inferiores), Académica (15), Marítimo, Belenenses e V. Setúbal (10) são as vítimas mais frequentes dos tomba-gigantes.

A época com mais surpresas foi a de 1976/77: nove equipas da primeira divisão foram afastadas por secundários. Nos quartos de final desse ano, apenas três equipas eram do escalão principal. A última vez que a Taça decorreu em total respeito pelas hierarquias aconteceu há mais de 40 anos, na temporada 1972/73. Daí para cá, houve sempre, pelo menos, uma história de David e Golias para manter viva a chama.

Todos os tomba-gigantes na história da Taça
Famalicão, 9/0*
Gil Vicente, 8/8
Desp. Aves, 7/1
V. Setúbal, 7/10
E. Amadora, 6/2
Tirsense, 6/2
Sp. Espinho, 6/3
Olhanense, 6/5
Estoril, 6/7
Penafiel, 6/8
Feirense, 5/1
Chaves, 5/6
Académica, 5/15
Torreense, 4/1
Moreirense, 4/1
Portimonense, 4/3
U. Leiria, 4/4
Barreirense, 4/6
Varzim, 4/8
Marítimo, 4/10
Arouca, 3/0
Odivelas, 3/0
Vila Real, 3/0
Dragões Sandinenses, 3/0
Juventude Évora, 3/0
Cova da Piedade, 3/0
Sanjoanense, 3/1
Vizela, 3/1
Naval, 3/2
Sp. Covilhã, 3/3
Atlético, 3/4
P. Ferreira, 3/6
Leixões, 3/6
Salgueiros, 3/7
Santa Maria, 2/0
Oliveirense, 2/0
Bragança, 2/0
Ac. Viseu, 2/0
Vasco da Gama, 2/0
Sacavenense, 2/0
U. Coimbra, 2/0
Ol. Moscavide, 2/0
Lusitânia de Lourosa, 2/0
Leões de Santarém, 2/0
Fafe, 2/1
Felgueiras, 2/1
U. Madeira, 2/2
O Elvas, 2/3
Boavista, 2/7
Farense, 2/8
Beira Mar, 2/9
Oriental, 1/0
Alcochetense, 1/0
Mirandela, 1/0
Freamunde, 1/0
Valenciano, 1/0
Maia, 1/0
Ribeirão, 1/0
Tourizense, 1/0
Lixa, 1/0
Ol. Hospital, 1/0
Gondomar, 1/0
Esposende, 1/0
Ovarense, 1/0
Louletano, 1/0
Valonguense, 1/0
Valadares, 1/0
Silves, 1/0
Cartaxo, 1/0
Torralta, 1/0
O. Douro, 1/0
Peniche, 1/0
Riopele, 1/0
Marinhais, 1/0
E. Portalegre, 1/0
Alcobaça, 1/0
Esp. Lagos, 1/0
Cabeça Gorda, 1/0
Paredes, 1/0
Merelinense, 1/0
Vianense, 1/0
U. Lamas, 1/0
Lordelo, 1/0
U. Santarém, 1/0
Lamego, 1/0
Sesimbra, 1/0
Alhandra, 1/0
CUF, 1/1
Leça, 1/1
Alverca, 1/1
Carcavelinhos, 1/1
Santa Clara, 1/2
Amora, 1/2
Nacional, 1/3
Rio Ave, 1/7
V. Guimarães, 1/16

* O primeiro número é o total de vezes que, jogando em escalões secundários, afastou equipas de primeira. O segundo é o total de vezes em que, estando na I divisão, foi vítima de tomba-gigantes.