A tradição ainda é o que era na Briosa. A Académica, insigne vencedora da primeira edição da Taça de Portugal (1938/39) e finalista vencida em mais três ocasiões, faz jus às medalhas emolduradas no peito. Qual velho soldado, orgulhoso e altivo, recupera o prazer pela batalha, pelas trincheiras do passado e dá mais um passo rumo ao objectivo final: o Jamor.

Na génese desta campanha triunfal no Mar, dois nomes: Adrien Silva e Fábio Luís. O primeiro fez dois golos, jogou e fez jogar, mostrou ter qualidade para aspirar a um lugar no plantel do Sporting; o segundo, contratado ao exótico Porto Alegre, entrou aos 83 minutos, marcou na primeira vez que tocou na bola e aplicou a sentença de morte ao Leixões no prolongamento.

O brasileiro ainda não marcara desde a chegada a Portugal. É justo passar por aí. Pela sua entrada em campo. A Académica perdia por 2-1, faltavam sete minutos para acabar e a Taça de Portugal fugia para o lado matosinhense. O treinador Pedro Emanuel arriscou tudo, apostou num avançado que pouco tem feito e a resposta não podia ser melhor.

Estranhos e sinuosos são os caminhos do futebol.

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Ora, antes dessa mexida na Académica, o Leixões tinha sido quase sempre superior. Levara um golpe duro com o primeiro golo da Académica, num erro monumental do guarda-redes Vincent Degré, equilibrara-se e dera a volta ao resultado. Primeiro num desvio de cabeça de Jumisse e mais tarde numa grande penalidade indiscutível convertida por Paulo Tavares (derrube de Diogo Melo a Luís Silva).

Num jogo intenso, duro, entre dois fidalgos do futebol nacional, tudo aparentava estar decidido. E o Leixões até já mandara duas bolas aos ferros da Académica. Não estava. Ninguém contaria com o efeito-surpresa chamado Fábio Luís e a quebra psicológica que o golo tardio difundiu no emblema do Mar.

O prolongamento foi um reflexo disso mesmo. A Académica fresca, amparada na vantagem emocional, e o Leixões arrasado, a divagar num cruel sentimento de injustiça. Merecia mais a estrutura orientada por Litos, de facto. Merecia, pelo menos, ter levado a decisão final para as grandes penalidades.

Não deu. Segue a Académica. De medalhas ao peito e mais um capítulo de história para contar.

FICHA DE JOGO:

Jogo no Estádio do Mar, cerca de 2500 espectadores

Árbitro: Marco Ferreira, AF Madeira

LEIXÕES: Vincent Degré; Paulinho, Joel, Nuno Silva e Florent Hanin; Luís Silva (André Carvalho, 90), Paulo Tavares e Jumisse; Pedro Santos, Moisés (Fausto, 69) e Wesllem (Hernâni Borges, 81).

Suplentes não utilizados: Waldson, Zé Pedro, Tiago Costa e Diego Mourão.

Treinador: Litos

ACADÉMICA: Ricardo; Cedric Soares, Berger, Pape Sow e Hélder Cabral; Diogo Melo (Fábio Luís, 83), Adrien e Danilo (Hugo Morais, 76); Sissoko (Diogo Valente, 46), Éder e Marinho.

Suplentes não utilizados: Fábio Santos, João Dias, Nivaldo e Júlio César

Treinador: Pedro Emanuel

Cartões amarelos: Berger (26), Florent Hanin (42), Sissoko (42), Diogo Melo (65), Hélder Cabral (71), Wesllem (74), Cedric Soares (77), Diogo Valente (84), Vincent Degré (84), Paulinho (86), Hugo Morais (88), Hernâni (90) e Adrien (104)

Golos: Adrien (39), Jumisse (41), Paulo Tavares (65, g.p.), Fábio Luís (84, 99), Adrien (97) e Éder (120)