Margaret Tatcher foi primeira-ministra entre 1979 e 1990, mas no dia em que morreu, o jogo grande da Premier League, o derby de Manchester, decorreu como se nada se tivesse passado. Não houve minuto de silêncio e a Liga Inglesa anunciou que não irá pedir aos clubes para prestarem homenagem, deixando ao critério de cada um a opção de o fazer.

Mas esta atitude em relação à morte da mulher que mudou o futebol inglês não é indiferença, em alguns casos, é bem o contrário.

Austeridade

Thatcher chegou ao poder determinada a reduzir a importância dos sindicatos após as grandes greves dos anos 70. Ao mesmo tempo, começou a austeridade na indústria. Tudo o que não era rentável começou a ser encerrado, o que aumentou muito o desemprego, sobretudo nas cidades mais industrializadas do norte.

A insatisfação popular começou a sentir-se em todo o país e em Toxteth, na zona de Liverpool, um grupo iniciou as revoltas que duraram nove dias, com confrontos entre manifestantes e polícia. A alegada reação de Thatcher ficou célebre: «Deixem Liverpool acabar», terá dito. Os habitantes da região sentiam uma indiferença das autoridades em relação ao problema e nunca a perdoaram.

Em meados dos anos 80, o governo via o futebol como uma ameaça tão grande quanto os sindicatos e muitas vezes as coisas misturavam-se. O hooliganismo imperava nas bancadas, álcool e violência eram uma constante e por isso, para o executivo, o futebol era sobretudo uma questão de ordem pública que deveria ser assegurada diminuindo significativamente o poder e influência desses grupos.

As tragédias

Os episódios sangrentos que se seguiram abriram a porta às transformações que moldaram a Premier League. O primeiro episódio foi em Bruxelas no dia 29 de maio de 1985, quando se disputava a final da Taça dos Campeões Europeus, entre o Liverpool e a Juventus.

Dezenas de espectadores italianos foram espezinhados. Com a pressão dos espectadores em pânico, o muro caiu, arrastando na queda mais algumas dezenas de pessoas. O balanço final da tragédia aponta para 38 mortos e um número indeterminado de feridos.

Os ingleses foram responsabilizados pelo incidente, o que resultou na proibição das equipas britânicas participarem em competições europeias, por um cinco anos e o Liverpool por seis, mas o mau estado de conservação do estádio e a má distribuição dos adeptos, que causou superlotação e pôs lado a lado os adversários, também contribuiram para a tragédia.

Os estádios no Reino Unido foram deixados num tal estado de degradação que se tornaram armadilhas mortais. Poucos meses antes de Heysel Park, um incêndio na arquibancada de madeira no estádio do Bradford City matou 56 pessoas.

E em 1989 aconteceu a maior das tragédias do futebol inglês, que vitimou 96 pessoas num encontro entre o Liverpool e o Sheffield Wednesday em Hillsborough. Um relatório independente revelou recentemente que a polícia tentou atirar as culpas para os adeptos do Liverpool, para esconder as suas próprias falhas.

O relatório, feito por uma comissão criada por Thatcher, concluiu que os principais problemas naquele dia foram a má organização, bem como a resposta atabalhoada das autoridades. Mas como as mortes aconteceram no setor dos adeptos do Liverpool, cuja imagem já estava estigmatizada por causa de Heysel, estes serviram como bode expiatório.

Na sequência desta tragédia, o futebol inglês mudou. O governo Thatcher ordenou mudanças para reduzir a capacidade dos estádios e colocou muitas restrições aos adeptos para os afastar.

Festejos

Há muito tempo que os adeptos do Liverpool cantavam: "We're gonna have a party when Margie Thatcher dies», «Vamos fazer uma festa quando a Margie Thatcher morrer» e muitos saíram mesmo à rua para festejar.

O festejo de Joey Barton foi no Twitter. «Se o céu existe, a velha bruxa não estará lá».