*enviado-especial ao Brasil

Os oitavos de final deste Mundial já nos deram cinco prolongamentos e dois desempates por grandes penalidades, tantos como em todo o Mundial-2010. Com a fórmula de desempate a cativar cada vez mais as audiências, eis algumas ideias fortes para assistir aos próximos «thrillers» com mais informação e conhecimento de causa.

1- O mito dos canhotos

Os esquerdinos falham mais penaltis do que os destros, certo? Errado. Esse é um frase-feita muito divulgada, mas desmentida pelos números: até agora, nos 223 penaltis batidos em desempates no Campeonato do Mundo, a taxa de eficácia dos canhotos (70,2% é praticamente idêntica à dos que chutam com o pé direito (70,5%). Como curiosidade, só cerca de um a cada cinco cobrador de penalti bate com o pé esquerdo (78,9% são destros).

2- Bater primeiro não é mito

Manda a tradição que um capitão de equipa que ganhe o sorteio deve optar por pôr a sua equipa a rematar primeiro. Aqui, os números confirmam a ideia: dos 24 desempates em Campeonatos do Mundo, 16 foram ganhos pela equipa que começou a série, e só oito pela que rematou em segundo lugar. Mais impressionante ainda: os últimos nove desempates, incluindo já os do Brasil-Chile e Costa Rica-Grécia, foram ganhos pelas equipas que começaram. Para encontrar uma equipa que venceu como segunda escolha, é preciso recuar ao Mundial 2002 (Irlanda-Espanha). Uma explicação possível, é que ao ser convertido o primeiro remate (o que acontece em 80% dos casos) a pressão sobre os rematadores da outra equipa lhes aumenta a margem de erro.

3- Eficácia mais baixa do que em jogo

Não é propriamente uma surpresa, mas os números são claros: um remate num desempate por grandes penalidades tem menos 10% de probabilidade de ser golo do que um penálti em tempo normal. Dos 223 batidos em Mundiais, converteram-se 157 (70,4% do total) enquanto os penaltis em tempo de jogo são convertidos com uma eficácia superior a 80 por cento.

4- Nunca desafie um alemão

É dos livros que as equipas alemãs têm o melhor desempenho neste tipo de situação. Mais impressionante do que a seleção alemã ter ganho os quatro desempates em que participou, é o facto de só ter falhado um dos 18 remates que converteu, no primeiro de todos os desempates, em 1982. Vale isto por dizer que os alemães escolhidos para a função vão com uma sequência de 15 remates certeiros. Seguem-se, em termos de eficácia, Brasil e Argentina (três vitórias em quatro), No pólo oposto, também é dos livros, vem a Inglaterra: perdeu os três desempates em que participou, e falhou metade das tentativas (sete em 14).

5- O número do azar é o 8

Como já se disse antes, a equipa que bate em segundo lugar está mais pressionada. Por isso, estatisticamente, falham-se mais penaltis pares (o 2ª da ordem, o 4ª, o 6ª, etc.) do que ímpares. O oitavo penalti do desempate é o mais temido, talvez por ser aquele em que, por norma, a pressão está perto do máximo: foi falhado 10 vezes em 24 tentativas, a última das quais por Gekkas, no Costa Rica-Grécia – e com consequências irremediáveis. O quinto penalti é o que tem taxa de conversão mais alta: só foi falhado quatro vezes em 24.

6- Os craques falham mais do que os outros

Outra ideia muito difundida que os números não confirmam. É verdade que a galeria de estrelas que já falhou penaltis em desempates impressiona: Sócrates, Platini, Maradona, Baggio ou Shevchenko, só para dar um exemplo. Mas não é verdade que, estatisticamente, falhem mais vezes do que os companheiros de equipa com nome menos sonantes – pelo contrário, a qualidade técnica e a capacidade de lidar com a pressão são vantagens óbvias para ter bom desempenho numa situação-limite.

7- Schumacher, Goycoechea, Ricardo e outros monstros

Dos 66 penaltis falhados em desempates, 46 foram defendidos pelos guarda-redes, 11 foram ao poste ou à trave, e só nove foram para fora, o último dos quais por Willian, no Brasil-Chile. Dos guarda-redes especialistas na função, ninguem defendeu mais do que o alemão Schumacher e o argentino Goycoechea (quatro em dois desempates). Mas o recorde de defesas numa só sessão é português: pertence a Ricardo, que defendeu três em quatro tentativas inglesas, no Mundial de 2006.