Ponto prévio para se começar o texto: o Tourizense, adversário do Benfica na próxima eliminatória da Taça de Portugal, vem de Touriz. Ora Touriz não é uma cidade, não é uma vila, não é uma freguesia. «Para falar a verdade isto nem chega a ser uma aldeia», diz o presidente Jorge Alexandre. «É um lugar com 170 habitantes». O estádio da Luz deve provavelmente ocupar mais espaço do que Touriz inteiro. Ora a pergunta que se coloca é como é que um lugar com 170 habitantes consegue ter uma equipa na II Divisão?
Num campeonato da Federação, portanto, quando todas as outras aldeias competem geralmente nos distritais. O Maisfutebol foi à procura da resposta e descobriu que não há fórmulas mágicas. Apenas uma paixão muito grande pelo clube. «O presidente é uma pessoa muito ambiciosa», diz o treinador Tó Margarido. «Não há limites para ele». Na verdade Jorge Alexandre é o grande obreiro do Tourizense. Pegou no clube há três anos e levou-o dos distritais à II Divisão. Mais do que isso, alterou-o por completo.
Há três anos o Tourizense estava com os clubes da sua dimensão enterrado nos distritais. Tinham um campo onde jogava, mas nem sequer tinha bancadas. Hoje está na II Divisão, tem um plantel formado por jogadores profissionais e onde há apenas dois amadores, tem um estádio com mil lugares, relvado e com bancadas, tem um centro de estágio onde habitam os jogadores, e que é gerido por empregadas a tempo inteiro, tem um complexo desportivo com dois relvados, um sintético e balneários novos. «A nossa ambição», Jorge Alexandre fala sempre no plural, «ultrapassou todas as fronteiras», conta. «Temos espírito de vitória e as coisas foram acontecendo um pouco sem querer. De um momento para o outro o Tourizense adquiriu uma dimensão que ultrapassa tudo o que é imaginável».
O presidente tem 30 e poucos anos. Foi atleta do clube, passou um ano pela chefia do departamento de futebol e depois chegou à presidência. A partir daí correu o país para ajudar o Tourizense. «Fui bater à porta de mais de trezentos clientes da minha empresa. Pedi-lhes ajuda e muitas deles deram-me materiais de construção, mão-de-obra e dinheiro, a troco muitas vezes de publicidade para as empresas deles, outras vezes de nem isso. Éramos um clube de meia-dúzia de pessoas e hoje somos um clube com uma estrutura sólida. Se há três anos me dissessem que ia fazer dez por cento do que fiz, não acreditava. O meu receio agora é que quando eu sair isto acabe tudo por cair. O Tourizense atingiu uma dimensão que lhe ultrapassa as possibilidades do lugar onde está inserido».