Após o final do Apartheid, o desporto deu um contributo decisivo para a união de um país que durante muitos anos tinha vivido a duas cores. No espaço de sete meses, a África do Sul organizou dois grandes eventos desportivos e acabou vencedora em ambos. Primeiro com o triunfo dos «Springboks» no Mundial de râguebi, depois com a conquista da Taça das Nações Africanas em futebol.

Neil Tovey tornou-se, em 1996, o primeiro capitão branco a erguer o troféu que premeia a melhor equipa do continente africano. Catorze anos depois, não esquece esse momento, que ajudou a «arrumar» marcas antigas. «Foi muito importante. A selecção de râguebi tinha sido campeã do mundo, mas o futebol tem mais peso. A festa juntou todo o país», disse o ex-jogador ao Maisfutebol.

Para além da importância puramente desportiva, a conquista teve grande significado político-social, ainda que Tovey defenda que o futebol já dava o exemplo há muito tempo. «Esta modalidade já era multirracial desde 1978», recorda.

O momento foi mágico, de qualquer forma. Tovey recebeu o troféu das mãos de Nelson Mandela, tal como tinha acontecido com François Pienaar, seis meses antes. «Tenho a fotografia em casa, assinada por Mandela. É uma grande honra e um grande orgulho ter estado com um líder deste calibre. Foi um privilégio», diz o antigo futebolista.

Portugal tem «jogadores especiais»

Neil Tovey é agora treinador. Orienta a equipa Amazulu, que está sediada em Durban, e por isso tenciona assistir ao jogo entre Portugal e o Brasil. Diz que a equipa das quinas tem «jogadores especiais, e se defender bem vai fazer um bom Mundial». O «escrete» é encarado como um dos favoritos ao triunfo final, mas o antigo internacional sul-africano entende que, no Mundial, «tudo depende do momento».

«Portugal é sempre capaz de fazer bons resultados. Tem jogadores bons, espalhados pelas principais equipas da Europa, pelo que torna-se difícil fazer uma má participação. Tem jogadores especiais, e se defender bem vai conseguir um bom resultado, pois faz sempre golos.»

No que diz respeito à prova em si, Tovey acredita que o balanço final será positivo. «A África do Sul é uma verdadeira jóia. Quem visitar vai querer voltar», acredita, desvalorizando a temática da segurança: «Em 2006, no Mundial da Alemanha, também se temiam problemas. A seguir será no Brasil, e o assunto vai voltar a ser debatido. Não vivia na África do Sul se não existissem condições de segurança.»